Exercício de Futurologia: O Futuro do Oriente Médio - Parte I de III
A série Reconstituições Históricas, apesar de há algum tempo não ser atualizada, já é notória e caiu no gosto dos leitores do blog. Enveredo agora por uma seara ainda mais perigosa: prever o futuro. E não um futuro longínquo, mas bem próximo, que pode se realizar ainda nesta década. Surpreendi-me por estes dias pensando no resultado da ocupação no Iraque e na derrubada de Saddam Hussein, e também neste conflito com o Irã que cada vez mais toma corpo, porque ao contrário do caso iraquiano, os dois lados querem briga. E invertendo a máxima popular, quando dois querem, não há quem impeça. Apesar de uma intervenção no Irã ser muito mais complexa, dispendiosa e eivada de perigos que a incursão mesopotâmica, por diversos fatores (geografia acidentada, população e território bem maiores, o abastecimento petrolífero do mundo em jogo, etc.), ela não pode ser evitada. Assim como a guerra contra a Alemanha nazista, ela pode no máximo ser adiada, e quanto mais adiada, mais dispendiosa dos pontos de vista econômico e humano será.
Não vamos precisar datas, basta listar a seqüência em que os fatos acontecerão. Comecemos pela intervenção no Iraque: a rixa entre xiitas e sunitas toma cada vez mais corpo, e os curdos no norte, acostumados com a relativa soberania da qual desfrutam desde meados dos anos 90, já não escondem seus anseios separatistas. O regime de Teerã vibra com a possibilidade de que os turbantes negros de Najaf, que têm nos colegas iranianos sua maior inspiração, tomem o poder. Os sunitas, por sua vez, não estão dispostos a largar o osso que roeram durante toda a era Saddam, e temem viver sob o jugo de um regime xiita. Com os fundamentalistas sunitas da Al Qaeda instigando o conflito, ele não demorará a acontecer, mas a meu ver não será uma guerra civil prolongada e sangrenta como foi a da Iugoslávia. Os curdos já possuem um território consolidado no norte e não terão dificuldade de impor a sua autoridade sobre o mesmo, mantendo-o a todo custo longe da anarquia que se espalhará pelo restante do país. Xiitas e sunitas se pegarão para valer, e haverá uma carnificina no início do conflito. Só que, estando na proporção de três para um em relação aos sunitas, e ainda dominando os territórios mais ricos em petróleo, os xiitas não tardarão em subjugar os crentes nas suratas. A guerra será logo vencida por eles, e no processo, as células terroristas da Al Qaeda que hoje operam no país serão desmanteladas: afinal, elas são notoriamente anti-xiitas, e Moqtada Al Sadr e sua trupe não deixarão quaisquer inimigos remanescerem nas áreas por eles dominadas. Os sunitas serão relegados à diminuta e pobre área em que hoje são majoritários numa nação independente, ou viverão como os xiitas viviam na era Saddam, como cidadãos de segunda classe e sempre com o braço pesado do exército do país pairando ameaçador sobre suas cabeças.
O Iraque do Sul, dominado pelos xiitas, despertaria o desdém e a desconfiança de seus vizinhos peninsulares, todos sunitas. A aproximação natural deste estado, portanto, será com o vizinho e também majoritariamente xiita Irã, que estará no caminho de se tornar ainda mais poderoso e ameaçador, uma vez que estenderá sua influência sobre outra grande reserva petrolífera. Este será o estopim da invasão ao Irã. Estados Unidos, Europa, até mesmo Rússia e China, temerão um Irã tão poderoso assim. Não ficarão nas mãos de um regime de clérigos fanáticos capitaneados por um presidente maluco e com venetas apocalípticas. De tal feita que os votos que faltavam para autorizarem o Conselho de Segurança a partir para a solução armada no imbróglio atômico serão angariados, e uma megacoalizão envolvendo OTAN, China, Japão e provavelmente a Rússia, atacará o país dos aiatolás.
(No próximo capítulo: a invasão ao Irã e suas conseqüências. A problemática do Curdistão).
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