sábado, maio 30, 2009


O que leva pessoas sem NENHUM conhecimento de ciência, que demonstra não conhecerem sequer os rudimentos de física e biologia ensinados no Ensino Médio, acreditar que podem desacreditar teorias que foram resultado de décadas de construção lenta e laboriosa por parte daqueles que melhor entenderam os conceitos de suas áreas de atuação? Como pode alguém pretender criticar algo que não entende?



Sério, não dá sequer para começar a discutir com quem afirma que houve explosão no Big Bang e que a evolução é guiada única e exclusivamente pelo acaso. Quem afirma isso está demonstrando que não conhece sequer os rudimentos básicos do Modelo Padrão da Cosmologia (essa magnífica construção científica que é erroneamente conhecida pelo nome de "grande estouro") e da Teoria da Evolução.



É preciso conhecer as premissas das teorias antes de criticá-las. Ou será mesmo que milhares de pesquisadores especialistas que dedicaram suas vidas a esses campos do conhecimento não perceberam coisas tão óbvias que alguém sem nenhuma formação acadêmica, e que demonstra ignorar ou não compreender conceitos básicos de ensino médio, conseguiram perceber com meia dúzia de cliques na internet?



Fala sério, é muita pretensão, viu. E eu que achava que o cristianismo prezava a humildade...

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quinta-feira, janeiro 22, 2009

Manuela D'Ávila candidata a presidência já!


Quem me conhece um pouco que seja e me vir gritando a frase acima com certeza se indagará se deve me levar ao manicômio ou ao centro de zoonoses mais próximo, afinal Manuela reúne três das características mais abomináveis em um belo ser humano do sexo feminino: é patricinha, comunista e política. Minha defesa à sua candidatura, portanto, se justifica apenas num contexto de agudo distúrbio psiquiátrico, hidrofobia ou por razões meramente estéticas.

“Razões meramente estéticas?” Bradarão os indignados idiotas úteis que ainda acreditam na política tupiniquim, prontos para apedrejar a mulher pecadora. Aliás, o tipo de gente mais perigoso que existe é aquele que faz pouco caso da beleza. Ter consciência e apreciação pelo Belo (não o pagodeiro cheirador de branca, que fique bem claro) é, ao lado do polegar opositor e da bipedalidade, um dos aspectos fundamentais que nos distingue dos demais símios antropóides. Sabe aquele tipo de gente que ao contemplar uma obra de reforma e embelezamento da principal avenida da cidade bufa, com a indignação dos justos, “tantas pessoas sem moradia e saneamento básico e a prefeitura gastando dinheiro com reformas estéticas” (com uma ênfase especialmente derrogatória no “estéticas”)? Pois existe um psicopata genocida em potencial por trás de cada pessoa como essa. Quem admite que a beleza pode e/ou deve ser sacrificada em prol de um “ideal maior” está a meio caminho de acreditar que a vida e a liberdade também o podem. Aliás, possivelmente eles já fizeram o caminho inteiro.

Então é isso. Quero Manuela D’Ávila como candidata a presidente apenas porque não quero ver Dilmão, com aquele jeitão de traveco brasileiro rodando a bolsinha no Bois de Boulogne, e Serra, com sua fisionomia de Mr. Burns acometido de insônia crônica, aparecendo diuturnamente na TV, no rádio, na internet e nas ruas e avenidas, inundando de feiúra um mundo que já tem o funk, a arte abstrata e os programas policiais para agredir e obnubilar (palavra bonita, não?) o senso estético da pós-modernidade. É óbvio que eu não suportaria ouvir nem trinta segundos de um discurso dela, mas isso está longe de ser um problema: nunca vou a comícios e na TV existe sempre a possibilidade de apertar aquele botãozinho chamado “mute”, na mais genuinamente colonizadora grafia anglófona, e deleitar-se com tudo, no mais estrito sentido, que Manuela pode oferecer de útil à política brasileira. Para quem é do estado do Heráclito Fortes, ansiar por um pouco de beleza na política é um clamor mais do que legítimo.

sábado, setembro 20, 2008

Razão para o estado crítico de abandono no qual este blog se encontra:

"Quem vive demais não tem tempo para escrever"

segunda-feira, agosto 04, 2008

Já não era sem tempo...

O governo da Colômbia finalmente resolveu e está conseguindo aplicar a única solução para a guerrilha com as Farc: uma ampla reforma agrária. Um lote de dois metros de comprimento por um de largura e sete palmos de profundidade para cada guerrilheiro. Mas como demorou...

terça-feira, julho 22, 2008

Você sabe que está ficando velho...

Quando as roupas do seu irmão mais novo começam a servir em você.

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domingo, junho 29, 2008

Da série "Livros que mudaram a minha vida"

Um desconhecido certo dia me perguntou por que O Lobo do Mar, do escritor americano Jack London, mudou a minha vida. E como adoro falar de livros, resolvi responder aqui.


O romance é narrado em primeira pessoa por Humphrey Van Weyden, um dândi californiano de finais do século XIX, que sobrevive ao naufrágio do ferry boat no qual viajava e é resgatado por uma escuna foqueira chamada Ghost, capitaneada por Lobo Larsen, um homem que desconhece qualquer compromisso que não seja consigo mesmo, um lúcifer miltoniano, como o narrador o descreveria mais tarde. Van Weyden está cheio de concepções grandiloquentes e edificantes sobre o mundo e o homem, e vê todas elas serem esmagadas pela sua própria experiência como prisioneiro semi-escravizado, pelos fatos que presencia na embarcação e nas conversas com Lobo Larsen, que se revela, surpreendentemente, um homem culto e inteligente, o que o torna ainda mais malévolo e ao mesmo tempo intrigante aos olhos de Humphrey.


Lobo Larsen destrói com elegância e objetividade qualquer veleidade de grandeza sentimental ou moral. Não pude resistir a várias leituras, e cada vez que chegava à última página ele me convencia mais e mais de que um mundo tão selvagem e injusto não pode existir um Deus benevolente que queira o bem de todos e possa intervir no transcurso dos acontecimentos. Se Deus quer e pode acabar com o sofrimento, por que então o sofrimento existe? Se ele quer e não pode, então não pode interferir em qualquer evento. Se pode, mas não quer, trata-se de uma divindade malévola. E se nem pode, nem quer, por que diabos chamá-lo de Deus?


Em meados de 2001, sete meses após a primeira leitura, admiti que era um descrente. E sabia que devia creditar a Lobo Larsen o papel de fator desencadeador de toda essa que foi, de longe, a mudança mais substancial da minha vida. Deixei de me torturar e me preocupar com o que um ser onipotente e oniperfeito estaria pensando de mim. Pela primeira vez na vida me sentia completamente livre: meu principal compromisso na vida era comigo mesmo, e não com uma meta de se atingir um paraíso post mortem. Aos dezoito anos quase completados àquela altura, me desdobri com muito pouca bagagem e experiência de vida. Mas ainda havia tempo para recuperação. E desde então posso afirmar com todas as letras que vivi os anos mais prolíficos e intensos do meu quarto de século de vida a ser completado em setembro.


Não sei se as entidades ficcionais existem em algum universo paralelo ou algo do tipo, mas de toda forma agradeço a Lobo Larsen por ter contribuído para que tudo isso acontecesse. E a Jack London, que foi um escritor brilhante, viveu dezenas de vidas em apenas quatro décadas e resumiu sua filosofia de vida na seguinte frase: "prefiro ser um meteoro, todo átomo em magnífica explosão, que um planeta eternamente adormecido".

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domingo, junho 22, 2008

Por que ninguém intervêm?

Morgan Tsvangirari, candidato da oposição à presidência do Zimbábue, anunciou hoje que desiste de concorrer ao pleito depois de dezenas de partidários seus serem encontrados mortos país afora. O subsecretário de seu partido está preso, acusado de "traição", e o próprio Tsvangirai não passa um dia de sua campanha sem ser ameaçado por autoridades governamentais.

O Zimbábue já foi considerado o celeiro da África, grande produtor agrícola que freqüentemente doava alimentos a vizinhos castigados pela fome devido a secas, enchentes ou guerras. Há 28 anos governado por Robert Mugabe, um ditador insano com manias de perseguições, iniciou no começo dessa década um processo de reforma agrária radical, expropriando terras de fazendeiros, em sua maioria brancos, para, no mais polido e pomposo jargão de esquerda, fazer "justiça social".

Os resultados da reforma agrária e da "justiça social" zimbabuana são os seguintes: o país que antes era auto-suficiente em alimentos, exportava e ainda ajudar vizinhos em dificuldades, hoje não colhe sequer um quarto do necessário para satisfazer suas próprias necessidades alimentares. A economia está em frangalhos, corroída por uma inflação que esse ano deve bater na casa dos 200 000%. Faltam itens básicos nas prateleiras dos supermercados. Desesperados e sem perspectivas, os zimbabuanos fogem em massa do país, em direção à África do Sul, onde já são tão numerosos que motivam ondas de violência xenofóbica contra a sua presença. Mugabe, na melhor tradição conspiracionista, diz que é vítima de um complô das grandes potências para desestabilizar seu governo. Já disse que "só Deus" o retirará do poder e faz ouvidos de mercador a todos os apelos internacionais por democracia e racionalidade econômica. Opositores são ostensivamente intimidados, e mesmo assassinados. A ajuda humanitária enviada ao país foi suspensa no começo deste mês, e a pouca que chega se transforma em suprimentos para o exército e membros do Zanu-PF, o partido de Mugabe.

Não vou falar nada a respeito de reforma agrária porque a história está aí para provar a sua ineficiência: na melhor das hipóteses, torna o país que a adota importador de alimentos e subsidiador de agricultores improdutivos. Na pior, provoca fome generalizada. Quero mesmo chamar a atenção para a falta de intervenção direta das potências ocidentais. Por que elas não fazem nada efetivo?

Simples: se o fizerem, serão chamadas de "imperialistas" e "intervencionistas" e "neocolonialistas". Como não fazem nada, são chamados de omissos. Ou seja, as potências ocidentais estão sempre erradas. Ditadores insanos e corruptos, especialmente se forem não-brancos e adotarem chavões políticos e econômicos de esquerda, são sempre inocentes vítimas de conspirações que buscam acabar com suas políticas sociais.

Enquanto isso, o drama dos zimbabuanos se arrasta sem perspectiva de solução. Deixem que Mugabe conclua a sua obra e termine de destruir o país. Quero ver quem vai dizer que a culpa é do Ocidente... Ora, que ingenuidade, a minha. Claro que a culpa será sempre do Ocidente! Ditadores africanos com discurso anti-ocidental são inimputáveis perante a opinião pública internacional. Sempre o foram.

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domingo, junho 15, 2008

Momento Freudiano

Amiga minha: Como é que nerds conseguem namorar?


Eu: Porque mulher não gosta de homem bonito.

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quinta-feira, maio 22, 2008

Sinais dos tempos...

-Das cem maiores áreas urbanas em termos de população do mundo, nada menos que sessenta e oito ficam no Terceiro Mundo. As metrópoles terceiro-mundistas são também campeãs em taxa de crescimento, com Lagos e Kinshasa encabeçando a lista das áreas metropolitanas que mais crescem no planeta.

-Dos dez homens mais ricos do mundo, cinco são do Terceiro Mundo, que responde também por grande parte do crescimento econômico mundial praticamente desde o fim da Guerra Fria.

-O Google, a empresa-símbolo do capitalismo na Era da Informação, pertence a um russo e a um norte-americano. Algo inconcebível nos idos da Guerra Fria.

domingo, março 30, 2008

É mais fácil do que se imagina

As pessoas me perguntam como eu posso achar um mundo governado pelos americanos o melhor dos mundos possíveis. Acreditem, é muito simples: basta imaginar o mundo governado pelo consórcio de potências do Eixo, pela União Soviética ou pelos fundamentalistas islâmicos. Cada vez que eu concebo esses mundos alternativos na mente, eu reforço a minha crença de que estamos melhor do jeito que estamos. Assim como acho que um mundo comandado por potências interdependentes como são Estados Unidos e China é preferível a um dividido entre duas potências rivais e hostis uma à outra como era na Guerra Fria.

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quarta-feira, março 12, 2008

Quão curioso é o mundo

Os maiores ramos das duas maiores religiões do mundo são os primeiros a terem clamado para si o posto de única autoridade para falar sobre, transmitir e, sobretudo, administrar a doutrina pretensamente fundada por seus profetas. A Igreja Católica clama ter sido fundada pelo próprio Deus, uma vez que Cristo é Deus feito homem, e o Sunismo afirma ser o verdadeiro portador dos ensinamentos do Profeta por meio de seus califas sucessores.

O fato interessante: nem Cristo, nem Maomé deixaram descendência que levasse adiante seu legado. Cristo não teria casado, nem mesmo jamais se relacionado intimamente com mulheres, do que chegamos à conclusão que o Deus católico é um sujeito suspeito: não gosta de sexo, nem de mulheres. Os deuses e deusas pagãs sempre tinham um apetite luxurioso voraz, e o próprio Maomé teve várias esposas, inclusive uma de nove anos de idade. Sim, duas religiões que juntas contabilizam mais da metade dos seres humanos no seu rebanho, foram fundadas por um assexuado e um pedófilo. Mas tampouco Maomé, a despeito de sua tão agitada vida sexual, teve sua descendência reconhecida como sua legítima sucessora, talvez porque toda ela descendesse de uma mulher, Fatima, a única filha que ele teve.

domingo, fevereiro 24, 2008

Da série "Qualquer semelhança não é mera coincidência"

Defensor do regime cubano, século XXI:


Veja bem, Cuba não é uma democracia, mas o povo vive com dignidade, tem saúde e educação de qualidade e vive num país que não se rebaixa diante do imperialismo ianque! Fidel protege os cubanos do destino miserável de viverem oprimidos pelos ditames do império americano. E o cubano que quiser ir embora, basta pagar uma taxa para o governo e se mandar.


Defensor da escravidão, século XIX:


Tudo bem que os escravos são propriedade do seu senhor, mas veja, em contrapartida eles não temem o desemprego e têm alimentação, vestuário, moradia, tudo dado pelo senhor, e não estão sujeitos aos ditames cruéis da produção capitalista! E se quiserem ser livres, basta comprar a própria alforria.

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sábado, fevereiro 09, 2008

Missão cumprida

Este artigo da excelente revista britânica Prospect, de outubro do ano passado, trata da atual situaçao do Iraque. Para quem não está conseguindo entender como a Guerra deixou de ser o tema principal das eleições americanas, e está fortalecendo ao invés de enfraquecer seus defensores, essa leitura é obrigatória.

MISSÃO CUMPRIDA

Com a maioria das facções sunitas em busca de um acordo, as grandes questões do Iraque foram positivamente resolvidas. O país continua uno, abraçou a democracia e evitou uma guerra civil generalizada. A violência que ainda permanece é majoritariamente local e criminal.

A dúvida sobre o que fazer com o Iraque hoje deve ser separada da decisão de derrubar Saddam Hussein do poder quatro anos e meio atrás. Esse é assunto para historiadores. Para qualquer padrão ético aceitável, o atual projeto da coalizão para o Iraque é justo. Reino Unido, Estados Unidos e outros aliados do Iraque estão lá como convidados de um governo eleito pela maioria dos eleitores iraquianos sob uma constituição legítima. A ONU aprovou o papel da coalizão em maio de 2003 e desde então o tem renovado, a mais recente em agosto de 2007. Enquanto isso, do outro lado desta guerra estão algumas das piores pessoas do planeta: os baathistas, os nazistas do Oriente Médio; fundamentalistas sunitas, os principais oponentes do progresso na luta do Islã contra a modernidade, e o governo do Irã. Eticamente, nada pode ser mais óbvio.

Algumas guerras justas, no entanto, não valem a pena se lutar. Há países que não importam muito para o resto do mundo: Ruanda é um trágico exemplo. E seu caso ilustra a imoralidade de uma política externa completamente pragmática. Mas o Iraque, um país axial no mundo desde o início da história e talvez o mais importante dessa era por possuir provavelmente as maiores reservas mundiais de petróleo, não é Ruanda. Nem duas ou três explosões por dia, apesar de toda a tragédia pessoal envolvida em cada morte, fazem um Vietnã.

A grande dúvida em decidir se manter a luta vale ou não a pena não concerne à moralidade ou ao interesse próprio em apoiar uma democracia nascente num dos países mais importantes do planeta. A dúvida é se a guerra pode ser vencida e se podemos ajudar a vencê-la. A resposta ficou bem mais fácil de ser obtida pelo fato de, três anos e meio depois do início da insurgência, a maioria das grandes questões do Iraque está resolvida. Além do mais, elas foram resolvidas de modo que, em sua maioria, apontam para o final positivo dentre todos os possíveis resultados imaginados no início do projeto. O país é uno. Abraçou o voto. Criou uma constituição justa e popular. Evitou a guerra civil. Não virou um satélite do Irã. Pôs um fim nos genocídios de curdos e árabes das regiões pantanosas, e no apartheid anti-xiita. Rejeitou a vingança em massa contra os sunitas. Como demonstrado no grande comparecimento às eleições em 2005 e as ruidosas comemorações pela conquista da Copa da Ásia pela seleção nacional, o Iraque sobreviveu à era Saddam com um sentimento de unidade nacional. Mesmo os curdos—cujo relutante comprometimento para com a autonomia ao invés da total independência não tem perigo de mudar—comemoraram. A condição do Iraque não causou um apocalipse sectário na região. O país deixou de ser uma ameaça ao mundo e a outros de sua região. Os únicos vizinhos ameaçados pelo seu novo status são os líderes de Damasco, Riad e Teerã.

A missão no Iraque pode estar a caminho de ser cumprida, mas foi claramente imperfeita e custosa. Pelo menos 80 mil, ou até 200 mil iraquianos foram mortos desde a invasão, quase todos por iraquianos ou outros árabes (embora isso deva ser comparado com o montante de 1,5 milhão de mortos durante o reinado de 35 anos do Baath). A insurgência sunita degradou a infra-estrutura do país, resultando que os serviços públicos têm sido intermitentes na maior parte do país, e muito ruins em Bagdá. De abril a junho de 2007, o Iraque teve uma média de 12,8 horas de eletricidade por dia, e Bagdá apenas 9,2 horas. A produção de petróleo caiu 20% desde a invasão. Muitos dos profissionais do país—médicos, professores, acadêmicos—foram embora. Há muita violência sectária local, com aproximadamente um milhão de refugiados internos e outro milhão de refugiados externos desde 2003. A coalizão liderada pelos EUA perdeu quase 4.100 vidas, com muitos outros feridos. Muito dinheiro foi roubado, e parte do inestimável patrimônio histórico iraquiano saqueado. Em partes do país, a desordem local abriu oportunidades para criminosos e fundamentalistas. Muitos dos policiais são militantes xiitas, e muitas unidades são leais a milícias. Embora o aumento do efetivo militar tenha tido algum sucesso em diminuir a violência, o Iraque ainda é alarmantemente mortífero—em torno de 1.500 mortes por mês.

Entender essa cara vitória é questão de entender a violência que ainda permanece. Agora que as grandes questões do Iraque estão resolvidas—Esfacelamento?—Não. Vitória xiita? Sim. A violência fará os americanos irem embora? Não. Os iraquianos gostam de votar? Sim. Eles gostam do país? Sim—A violência iraquiana que ainda resiste é largamente local e de natureza criminal. O fato é que a violência no Iraque hoje, embora trágica, deixou de ser política, e portanto não é mais tão importante quanto já foi.

Parte da violência—aquela financiada por estrangeiros ou motivada por fanáticos islâmicos—não desaparecerá de repente. O Islã é muito forte no Iraque, e suas fronteiras são grandes e fáceis de atravessar. Mas o resto da violência no Iraque é local: brigas entre facções, vinganças, crimes e gangsterismo. Ela diminuirá bastante quando o país tiver mais alguns anos para estruturar seu aparato de segurança.

As fontes da violência política no Iraque desde a invasão podem ser divididas em quatro. A “insurgência”, a violência sunita, compreende três desses quatro elementos: Baathistas, fundamentalistas religiosos sunitas (que chamaremos de wahabitas por causa da mais importante das correntes do sunismo com as quais eles se identificam), e tribos sunitas (a quarta fonte de violência é xiita, trataremos dela logo mais). O baathismo, modelado desde seu nascimento nos anos 40 tendo o nacional-socialismo alemão como base, é um movimento secular. O wahabismo, lutando por um retorno aos tempos puros do Islã no século VII, é seu oposto. Estava claro desde o início que essas duas tendências, que hoje estão lutando entre si em grande parte do Iraque sunita, não permaneceriam juntas para sempre.

Era igualmente óbvio que nenhum deles podia vencer em sua batalha pelo Iraque. Os baathistas queriam um retorno à era de privilégios da qual desfrutavam com Saddam. Os wahabitas queriam um retorno aos dias do Profeta. Nenhum desses dois cenários está se realizando, porque 85% do país que não é árabe sunita, essas formas de totalitarismo árabe-sunita era a última coisa que eles queriam que acontecesse. O poder sunita foi quebrado pela invasão: o Iraque, finalmente reconhecendo um grupo três vezes mais numeroso que os sunitas, tornou-se um país xiita. Bagdá, cidade herdeira do posto de capital do Islã, hoje é uma cidade xiita pela primeira vez desde 1534.

Tudo isso foi previsto na primeira fase de violência, do começo da insurgência na primavera de 2004 até o bombardeio da mesquita de Samarra em fevereiro de 2006. Os baathistas, atores brutais, mas racionais, no final das contas desistiriam e sentariam para barganhar o máximo que pudessem com o caos que criaram. E os wahabitas, respondendo a uma instância maior e em sua maioria estrangeiros, continuariam a se explodir. Todos os lados reconhecem que é isso que está acontecendo agora: os wahabitas continuam a cruzar a fronteira em busca de suas setenta e duas virgens no paraíso, e os baathistas estão negociando com xiitas e americanos uma forma de entrar no esquema.

Um terceiro elemento da violência sunita era tribal. Era particularmente forte em Anbar, província no oeste do Iraque, onde as tribos sunitas tradicionalmente prosperaram através do banditismo na estrada para Damasco e onde mesmo Saddam não tinha controle total. Combater forasteiros é um velho hábito nessa região. Trata-se, afinal, de fazer dinheiro. Assim as tribos sunitas, como os baathistas, fizeram precisamente o que os observadores não-ideológicos previram no início da onda de violência. Uma vez que a resolução da administração americana e a vitória dos xiitas se tornaram óbvias, decidiram que era de seu interesse extrair o máximo possível da nova situação, de tal forma que Anbar hoje é um dos lugares mais seguros do Iraque (até a pacificação de Anbar, em torno de oitenta por cento da violência do país tinha lugar em quatro de suas dezoito províncias: Anbar, Salah-al-Din, Nineveh e Bagdá. Em nove das dezoito províncias agora praticamente não há violência). A importância do acontecido em Anbar não pode ser superenfatizada: pacificar o coração da insurgência sunita era considerado algo inatingível até a última primavera. O assassinato em setembro último de Abu Risha, líder da Despertar de Anbar, uma organização de vinte e cinco tribos sunitas que combate a Al Qaeda em Anbar, embora lamentável, não será relevante.

Sempre foi óbvio que as tribos sunitas iraquianas no final das contas se voltariam contra os sauditas, jordanianos e sírios que queriam banir o fumo, matar vendedores de bebidas alcoólicas, executar xeiques de antigas tribos e forçar garotas locais a se casar com “emires” de seu alegado “Estado Islâmico do Iraque”. Naturalmente, os líderes tribais de Anbar e os baathistas podiam ser cooptados tanto diretamente como pela promessa indireta de possuir um pedaço do que será um país rico agora que a questão básica sobre a quem pertence Bagdá está resolvida. Pelo menos 14 mil jovens de Anbar ingressaram nos serviços de segurança do governo desde que o aumento do efetivo começou em fevereiro e o primeiro-ministro iraquiano Nouri Al-Maliki começou a se comunicar com os chefes tribais.

As tribos e os baathistas também perceberam o que aconteceu em Fallujah e Ramadi: quando essas cidades ficaram fora de controle, os americanos os dobraram. Em novembro de 2004 os fuzileiros navais cercaram Fallujah, mataram todos os insurgentes (e muitos civis também), começaram a reconstruir o lugar e deixaram um eficaz cordão de segurança ao redor. Ramadi, em menor escala, foi a próxima. Agora a insurgência se retirou para outras províncias, onde ela não deseja estar. Derrotá-las lá será ainda mais fácil, como provou ser o caso em Diyala.

Os insurgentes sunitas reconheceram que fazia muito pouco sentido combater um inimigo cada vez mais forte e calejado—os EUA—que estava do lado certo do destino histórico do Iraque e tem uma liderança política que—à exceção dos britânicos em Basra—responde aos reveses com ainda mais determinação (essa é essencialmente a doutrina Petraeus: mais recursos, cada vez mais inteligentemente aplicados). Há ainda menos sentido em fazê-lo quando se é uma minoria desacreditada, como os sunitas são após 35 anos de baathismo seguidos pela desastrosa insurgência, e quando o inimigo é de fato seu principal garantidor de uma posição justa a nível nacional.

Os sunitas iraquianos não estariam precisando da ajuda dos americanos hoje se sua liderança não tivesse cometido um erro de cálculo histórico em 2004. Saddam, um homem racional, fez um compreensível, porém fatal mal julgamento sobre aqueles contra quem ele estava, e pagou por isso com seu trono e seu pescoço. Seus aliados sunitas não aprenderam com isso. Pensando que estavam lidando com a América pós-Vietnã de Carter, Reagan e Clinton, eles pegaram em armas para evitar que os americanos cumprissem a promessa de um Iraque livre para escolher seus governantes. O costume de séculos de dominação também alimentou o erro de cálculo sunita: para eles, o domínio xiita era impensável, e, portanto, a insurgência tinha que ser bem sucedida.

Na segunda metade de 2004 a insurgência teve seis meses para mostrar do que era capaz, e ficou claro que seu objetivo não podia ser a derrota militar da Coalizão. Os sunitas estavam agora lutando não por uma vitória militar, mas por uma vitória política, vencer no congresso e na imprensa americanos a guerra que eles não podiam vencer nas aléias e nos jardins de palmeiras da Mesopotâmia.

Levando em consideração a violência contra seus conterrâneos, a estratégia sunita se revelou rapidamente uma tentativa de provocar os xiitas para uma guerra civil total. Tal conflagração seria tão quente que mesmo os bushistas voltariam correndo para casa. O momento-chave dessa estratégia foi o bombardeio da mesquita xiita em Samarra. Até então, os xiitas haviam mostrado grande controle ante a torrente de provocações sunitas. As células xiitas alvejaram wahabitas e baathistas, mas em grande parte deixaram a população sunita em paz. Sob a carismática influência do Grande Aiatolá Ali Al-Sistani, seu líder religioso, os xiitas enfrentaram assassinatos em massa em mercados, ônibus e escolas de 2004 até o início de 2006 sem retaliação em larga escala. Como os principais beneficiários do novo Iraque, os xiitas só tinham a perder com uma prolongada guerra civil.

O bombardeio de Samarra pareceu por pouco tempo ser a gota d’água. Os esquadrões da morte xiitas, em sua maioria associados ao jovem clérigo Muqtada Al-Sadr e seu exército de Mahdis, por muito tempo controlados pela mão apaziguadora de Sistani, foram liberados para agir. A matança de vizinhos começou em grande parte de Bagdá e se estendeu por um ano até a Estratégia Petraeus ter início em fevereiro. Ainda continua em muitos lugares onde suas tropas ainda não estão presentes.

O mundo prendeu a respiração depois de Samarra: agora, acreditávamos nós, virá o cataclismo, a guerra civil que muitos temeram e que outros perseguiram por três anos. Mas ela jamais aconteceu. A reação xiita em partes de Bagdá foi cruel, e os sunitas foram mais ou menos expulsos de grande parte da cidade. Mas nos dezoito meses subseqüentes, está claro que os xiitas foram moderados no todo. Nunca se caracterizou uma guerra civil: sem linhas de frente ou uniformes, sem secessão, sem tentativa de tomar o poder ou impor uma mudança constitucional, sem governos paralelos, nem mesmo líderes e objetivos. Os sunitas jogaram os dados, lançaram a batalha de Bagdá e perderam. Agora eles estão apostando em uma acomodação com o Iraque xiita.

Qual a evidência disso? Neste verão, o gabinete do primeiro-ministro Maliki contactou ex-soldados do Baath e recebeu 48.600 pedidos de empregos públicos; ele arrumou lugar para 5 mil, encontrou empregos na máquina do governo para outros 7 mil e deu uma pensão para o restante. Enquanto isso os líderes do Baath disseram à Time que queriam estar no governo, a Brigada Revolucionária 1920—um grupo insurgente sunita—estaria patrulhando as ruas de Diyala com a terceira divisão de infantaria, e o Exército Iraquiano Sunita disse à Al Jazeera estar disposto a negociar com os americanos. As anedotas vindas de Bagdá confirmam a tendência. As salas de estar dos negociadores da capital estão cheias de baathistas, de chapéu na mão. Eles estão aterrorizados com os esquadrões da morte xiitas e querem partilhar da torta quando o petróleo começar a jorrar. Tanto Izzat Al-Douri, o mais prestigiado dos dois líderes baathistas, quanto Mohamed Younis Al-Ahmed, o mais letal, tem tentado conversar desde países vizinhos para negociar um acordo. Desde o verão, as notícias que chegam do fronte sunita tem todas apontado nesta única, inevitável direção.

A história xiita foi diferente. Tem havido duas principais tendências na política dos xiitas iraquianos: os pró-iranianos e os nacionalistas. O Iraque tem dois partidos xiitas tradicionalmente pró-Irã—O partido de Nouri Al-Maliki, Dawa, e o Conselho Islâmico Supremo do Iraque. Eles combateram Saddam do exílio e passaram os anos difíceis no Irã. Em oposição aos dois está o Movimento Al-Sadr, que—sob a liderança do pai de Muqtada Al-Sadr, Mohammad Sadeq, morto por Saddam em 1999—lutou contra Saddam de dentro do país e manteve seu sendo nacionalista anti-iraniano intacto. De todas essas tendências, somente o grupo de Al-Sadr se levantou para combater os americanos.

O anúncio da parte de Muqtada Al-Sadr de um cessar-fogo unilateral de seis meses em 29 de agosto foi significativo, mas não por causa das razões mais aparentes. Al Sadr de fato parou de lutar contra os americanos três anos atrás. Ele se levantou contra eles duas vezes em 2004, mas desde o fim deste segundo levante, seu exército de Mahdis focou sua violência nos wahabitas e baathistas, com freqüentes choques com outras facções xiitas. O movimento de Al Sadr é fragmentado e imaturo. Seus extremistas menos legítimos têm sido ativos na limpeza sectária. Muitos que de fato têm ligações com o movimento frequentemente trabalham fora de seu controle. Algumas dessas tendências continuam a dirigir sua fúria contra a coalizão, mas eles são insignificantes comparados com a força da verdadeira resistência Sadrista, como quem quer que esteve em Najaf ou na Cidade Saddam em 2004 pode comprovar. Desde a última primavera, as tropas americanas estão confortavelmente baseadas em Cidade Saddam—a gigantesca favela de Bagdá que é o reduto-base dos Sadristas.

Na metade de setembro, o bloco parlamentar ligado a Al-Sadr retirou seu apoio ao governo de Maliki, sem dar uma explicação ao público. Isso repete um padrão. Em abril, Al-Sadr retirou seus ministros do gabinete num ostensivo protesto contra a presença das forças da coalizão; enquanto em dezembro de 2006 ele fez a mesma coisa em protesto contra um encontro entre Maliki e Bush. Cada um desses exercícios foi pintado como o derradeiro cataclismo iraquiano, mas, nos últimos dois casos, um mês ou dois mais tarde os líderes sadristas silenciosamente voltaram a comandar os ministérios que seus subordinados haviam continuado a comandar em sua ausência. O fato de Al-Sadr ter manobrado mais politicamente do que militarmente é a melhor coisa que poderia estar acontecendo ao Iraque.

Muqtada Al-Sadr, o mais popular, bem-sucedido e importante político do Iraque, tem subscrito o progreso iraquiano rumo à política legítima desde o final de 2004. Seu senso de nacionalismo iraquiano jamais permitirá um domínio do Irã; sua postura fraternal para com as tendências sunitas pacíficas, e a amplitude e carisma de seu movimento faz de seu apoio ao projeto de reconstrução e pluralismo no Iraque o fator político mais importante no país. Os leitores de Prospect não estarão surpresos ao ler que Al-Sadr está do lado certo nas questões-chave, e que isso está ajudando o Iraque a concluir sua transição de 35 anos do assassino apartheid baathista (ver “Iraq’s rebel democrats, Prospect, junho de 2005). Desde 2004 eu tenho ressaltado que Al-Sadr, como líder do movimento mais popular da nação, tem mais a ganhar com uma política eleitoral funcional do que lutando contra os americanos que garantiram as eleições que libertaram seu povo, ou combatendo o governo iraquiano no qual ele próprio é majoritário.

Como temos notado, o cessar-fogo real de Al-Sadr começou três anos atrás. Mas ao dizer isso publicamente, de novo, que seus homens estão baixando suas armas, Al-Sadr está declarando da maneira mais inequívoca que a violência no Iraque não é mais feita em seu nome. Foguetes iranianos continuarão a matar soldados americanos e britânicos. Wahabitas sauditas continuarão a se explodir em mercados públicos, filas de emprego e mesquitas xiitas sempre que puderem. Criminosos iraquianos continuarão a atormentar suas vizinhanças atrás de dinheiro fácil, embora mesmo essa situação esteja mudando na maioria dos lugares onde o efetivo reforçado de Petraeus tem chegado. Corpos continuarão a se empilhar nas valas de Doura e no leste de Bagdá à medida que o país atravessa o último espasmo antes do fim de 35 anos de brutal domínio sunita.

Mas em termos de política nacional, não há nada mais pelo que lutar. Os únicos iraquianos que ainda lutam por algo além de um predomínio de facções ou dominação criminal são os atores irracionais do drama: os fundamentalistas sunitas, cujo número não passa de um ou dois mil homens, em sua maioria não-iraquianos. Como outros ataques wahabitas no Iraque em 1805 e 1925, esse de agora acabará em breve. À medida que o Estado iraquiano assume o controle de suas fronteiras e seus vizinhos sunitas reconhecem que um Iraque xiita deve ser aceito, o fluxo de combatentes estrangeiros e suicidas entrando no Iraque pela Síria começará a secar. Mesmo hoje, por mais que cause derramamentos de sangue, a violência praticamente não afeta o quadro geral: suicidas se explodem, dezenas de inocentes morrem, os xiitas em sua maioria se contêm e a dura rotina do Iraque segue em frente.

No começo de setembro, Nouri Al-Maliki disse: “talvez nós divirjamos dos nossos amigos americanos em matéria de tática... Mas minha mensagem a eles é de apreciação e gratidão. Para eles eu digo, vocês devem libertar um povo, trazê-lo para o mundo moderno... Nos acostumamos a ser dizimados e mortos como gafanhotos nas guerras intermináveis de Saddam, e agora nós viemos para a luz”. Aqui está uma eloqüente resposta para a pergunta sobre quando as tropas americanas deixarão o Iraque. Elas deixarão o Iraque quando os iraquianos, através de suas lideranças eleitas, disserem que elas devem ir. De acordo com uma pesquisa em setembro, 47% dos iraquianos gostariam que os americanos fossem embora. A surpresa é que não são 100%. Quem, afinal de contas, não gostaria de ver seu país livre de tropas estrangeiras? Mas se os iraquianos quisessem ser governados por pesquisas de opinião, eles teriam escrito isso em sua constituição. Ao contrário, eles escolheram, como a maioria das pessoas faz quando têm escolha, um governo representativo.

Agora que o resultado da guerra do Iraque está decidido, um argumento comum ouvido no Capitólio e em todo lugar consiste em uma objeção moral: quanto mais tempo permanecermos lá, menos os iraquianos se sentirão incentivados a agirem por si mesmos. Eles não conseguirão se reconciliar ou se tornar capazes de manter a ordem em seu próprio país porque os Estados Unidos está fazendo isso por eles.

Esse raciocínio presume que a elite iraquiana não está fazendo nada. Isso é absurdo. Com que base se presume que o governo iraquiano está falhando em promover a reconciliação política? Parte da minoria de 15% do país impôs um reinado de terror de 35 anos, com mais quatro de uma sangrenta e malograda tentativa de trazer as injustiças históricas para a nova era, e agora os outros atores não querem considerar esse fracasso como uma vitória. Em uma base partidária, a coalizão que governa o Iraque representa 85% da população, praticamente todo mundo à exceção de alguns sunitas: a Dawa Xiita, SIIC, os sadristas e outros; os partidos curdos KDP e PUK; e vários sunitas seculares e moderados. A nível local, o governo está chegando aos sunitas. Recursos federais estão chegando a Anbar e em Bagdá trinta mesquitas sunitas foram reabertas, mais da metade delas no leste xiita. Apesar de todas as compreensíveis reclamações dos iraquianos sobre corrupção, a coalizão, serviços públicos e segurança, o governo de Maliki ganharia outra ampla maioria se as eleições fossem amanhã.

Os sunitas têm três preocupações específicas: o dinheiro do petróleo, federalismo e a desbaathificação. Sobre o petróleo, as receitas já estão sendo compartilhadas entre as províncias e, para agradar aos americanos, uma lei de compartilhamento das reservas será provavelmente aprovada nos próximos seis meses. Sobre o federalismo, o princípio da autonomia regional está inserido na constituição, os sunitas se beneficiarão dele por poderem cuidar de seus próprios assuntos, e todos os demais se beneficiarão por se evitar uma repetição do pesadelo baathista de um governo central forte, quando um arranjo ainda pior vigorou por três séculos de dominação otomana. Sobre a desbaathificação, uma nova lei este outono restaurará pensões e acesso a empregos para todos, menos os 1.500 baathistas que compunham a cúpula de Saddam Hussein, quase todos dos quais estão na prisão ou exilados na Síria e na Jordânia.

A outra parte da objeção moral diz respeito à segurança: se provermos segurança aos iraquianos no lugar deles, eles jamais farão isso por si mesmos. Isso é igualmente incorreto. Primeiro, os iraquianos estão cada vez mais provendo sua própria segurança. Segundo, Maliki e seus companheiros conduzem um governo eleito. Eles são sujeitos ao julgamento do povo a cada dois anos. Eles têm todas as razões para tentar o máximo possível acabar com a embaraçosa confiança nos forasteiros. Seria inconseqüente apostar no Iraque, de todos os lugares, se tornando o primeiro Estado islâmico no Oriente Médio a não conseguir um monopólio básico sobre a violência dentro do próprio país.

O argumento desse artigo—que, com nada mais a resolver em termos de violência política, os iraquianos podem agora usufruir à vontade da riqueza do petróleo—é baseado em duas premissas: o reconhecimento por parte dos sunitas do fracasso de sua insurgência e a necessidade de se atingir uma acomodação com o novo Iraque, e uma conjunção de interesses entre a coalizão de um lado e os curdos e xiitas do outro.

Tornamos-nos muito familiarizados com o general Petraeus e os controversos números de sua operação. A estratégia americana reflete os fenômenos que descrevi? Os americanos jamais discutiram a respeito. Mas lendo nas entrelinhas, o pensamento americano de fato parece concordar com as conclusões desse argumento, se não com suas premissas. Petraeus já anunciou as primeiras retiradas de fuzileiros e tropas para setembro e dezembro, respectivamente. Seu superior, secretário de defesa Robert Gates, espera anunciar uma retirada de 60 mil homens no próximo ano. Bush também está prometendo cortes. Esses planos são um reconhecimento de que o trabalho a ser feito no Iraque está rapidamente se tornando mais uma questão de polícia iraquiana do que uma guerra americana.

http://www.prospect-magazine.co.uk/article_details.php?id=9804

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sábado, dezembro 22, 2007

O jardim dos caminhos que (não) se bifurcam

Os detratores podem ter lá suas ressalvas e críticas, muitas delas até bem fundamentadas, mas não podem negar o fato de que o futebol muitas vezes transcende sua condição de mera disputa esportiva e de fato incorpora elementos políticos, sociológicos, patrióticos, etc.


Teremos uma boa oportunidade de ver dois desses momentos no primeiro semestre desse ano que em breve se inicia. O sorteio das chaves das eliminatórias asiáticas, por capricho do acaso, da providência ou do destino, de acordo com suas convicções pessoais, colocou as duas Coréias no mesmo grupo (os demais integrantes são Turcomenistão e Jordânia, só a título de informação). Serão dois jogos entre elas dentro do grupo: um em Pyongyang e outro em Seul. A do Sul, como em quase tudo, é superior no futebol: foi às últimas seis copas e tem alguns jogadores atuando nos campeonatos mais competitivos do mundo, enquanto os norte-coreanos só foram à Copa de 66, na Inglaterra. Fizeram uma bela campanha, mas desde então jamais voltaram a jogar o maior torneio do futebol. E nos dias que correm, apesar de terem um bom time para os padrões asiáticos, parecem não ter condições de fazer frente à seleção mais bem sucedida do futebol asiático nos últimos tempos.


Mas o que destaca essas partidas não é o futebol, e sim a simbologia. Imagino os sul-coreanos chegando ao imponente estádio Primeiro de Maio, em Pyongyang, oficialmente o maior do mundo hoje, com capacidade para 150 mil pessoas. Bonito e modernoso, o estádio contrasta de forma gritante com a miséria de um país que precisa chantagear as grandes potências para conseguir alimentar mal seu povo. Por dentro deve ser como por fora. Digo deve, porque o governo da Coréia do Norte não permite que se tirem fotos de dentro do estádio. Como pessoas nascidas e crescidas num país rico e democrático enxergarão um retrato de seu próprio povo acuado e amedrontado por aquela que com certeza é a ditadura mais fechada e implacável do planeta? O que sentirão: medo, alívio, pena?


Outro momento interessante será a outra partida, disputada no sul. Como os norte-coreanos encararão, ao transitar pelas ruas de Seul ao chegar e sair do Estádio Olímpico, obviamente cercados por um forte aparato de segurança para impedir defecções, pela janela do ônibus, um país formado pelo mesmo povo, tão parecido e ao mesmo tempo tão abissalmente diferente do deles? Como os habitantes de uma das duas únicas ditaduras de partido único que seguem aferradas aos dogmas marxileninistas verão a imagem especular do seu país, uma democracia capitalista próspera, integrada ao mundo e cuja excelência na qualidade de ensino é referência até mesmo para as grandes potências do ocidente? Que conclusões tirarão acerca de tudo isso?


Em tempo: se passarem pela primeira fase, e tudo indica que passarão, Cuba e Estados Unidos também cairão no mesmo grupo das eliminatórias da Concacaf. Agora que os EUA já tem um calendário futebolístico regular e futebol profissionalizado, quantos atletas da seleção cubana desertarão em prol de tentar a sorte em uma das muitas ligas profissionais e semiprofissionais existentes nos Estados Unidos? Se até esportistas consagrados e mimados pelo regime fogem, que dirá os pobres-coitados que praticam um esporte que a maioria dos cubanos conhece só porque um argentino que era muito bem nele se hospedou no país enquanto tentava se livrar das drogas? Esses sabem que não têm futuro algum ficando em Cuba. Apesar do futebol ainda ser um esporte exótico e, pasmem, um tanto feminino para o americano médio, lá eles terão muito mais chances de ganhar a vida chutando e cabeceando uma bola.

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sexta-feira, dezembro 14, 2007

Notícia de jornal velho

Emergentes vão compensar queda de ricos em 2008.

Faz mais ou menos uns vinte anos que o grosso do crescimento mundial (e aqui estamos falando em coisa de 70 a 80%) é puxado pelos países pobres, notadamente os chamados "emergentes". O notável é que até hoje se ouve aquela cantilena de que a globalização é excludente e está ampliando o fosso que separa nações ricas de nações pobres. Os índices de crescimento da economia mundial desmentem rotundamente essa tese, como a reportagem acima demonstra, e já há algum tempo.

Outra mentira antiglobalização e anticapitalista que é pega de calças curtas pela matéria, e que também é novidade que já tem dez anos de existência: a África Subsaariana será a região com maior crescimento econômico do mundo depois do leste asiático. O que as viúvas da URSS nunca lhe contaram é que nos últimos dez anos a África negra cresceu em média 5%, o que fez os índices de pobreza por lá caírem. Aí você pergunta: como ninguém me avisou disso? Ora, porque não interessa aos apologistas do ocaso do capitalismo globalista mostrar essas coisas. Você, inocente útil, tem que achar que o terceiro mundo está em petição de miséria.

Há diferenças entre o crescimento da África e o do Leste da Ásia. Enquanto o último vem andando em ritmo de trem bala, puxado por exportações de produtos de alta tecnologia, a África Subsaariana se beneficia da valorização dos produtos primários, notadamente minérios, petróleo e commodities agrícolas. O que desmonta outra tese cara aos Teóricos da Dependência, que sempre afirmaram que países que exportam produtos primários não enriquecem (e a Austrália e a Nova Zelândia, que ficaram ricas vendendo carne, lã, cereais e minérios?).

E há mais razões para otimismo: alguns dos mais sangrentos conflitos africanos acabaram (Serra Leoa, Angola), ou arrefeceram em intensidade (República Democrática do Congo, Sudão, Costa do Marfim) e a democracia ganhou espaço, e embora ainda reste muito autoritarismo e corrupção no continente, a maioria das nações africanas conseguiu conciliar estabilidade política e crescimento econômico na última década.

As viúvas do comunismo, cujo espécime mais notório está chegando aos três dígitos de idade por esses dias, se roem de ódio, mas a verdade é essa: o mundo é um lugar muito melhor hoje do que era na época da Guerra Fria, e grande parte disso se deve ao fim dos regimes comunistas e de sua mãe-alien.

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quinta-feira, dezembro 13, 2007

É complicado?

Pobreza material é pura e simplesmente falta de dinheiro.


Logo, a única maneira de sair da falta de dinheiro é ganhar dinheiro. Se uma família é pobre, ela sairá dessa situação aumentando a renda familiar até chegar ao patamar de não-pobreza.


Mas há quem pense diferente, que basta redistribuir a renda. Para uma família deixar de ser pobre, de acordo com essa visão, basta os membros economicamente ativos da casa distribuírem melhor a renda que recebem e, voilà, a pobreza está solucionada.


Alguém poderia objetar que o montante total de renda não se alterou, ou seja, na verdade o que se distribuiu foi a pobreza mais igualitariamente para todo mundo. E não importa o quão igual seja essa distribuição, no total a família continua tão pobre quanto antes.


Ao longo do século passado, várias nações aplicaram esse raciocínio redistributivista, e o resultado prático foi exatamente o que é teoricamente óbvio: tais sociedades se tornaram igualmente indigentes. Se antes alguns tinham papel higiênico e outros não, agora todos tinham que usar as páginas do jornal oficial do regime para fazer seu asseio íntimo. Há quem ache que todo mundo ser igualmente pobre é o máximo. As pessoas, felizmente, não pensam assim, e na primeira oportunidade que tiveram derrubaram os regimes que as mantinham nessa situação. E desde então nenhuma, absolutamente nenhuma, quis retornar aos áureos tempos de pobreza em massa.


Pobre gosta de dinheiro. Quem gosta de pobreza é intelectual de esquerda. Pobreza para os outros, que fique claro, que eles não abdicam o dolce far niente de criticar o "capitalismo selvagem" tomando um Romanée-Conti num bistrozinho exclusivo do Boulevard de Montparnasse, sem jamais atentar para o fato de que essa garrafa de vinho bancaria um ano de cesta básica para essa família pobre que eles dizem defender. Os empresários e banqueiros que tenham suas fortunas confiscadas em prol da coletividade. Os milhares (milhões) que eles possuem em suas contas não devem ser socializados com a patuléia ignorante. E por que não? Ora, porque eles, ao contrário desses empresários cúpidos e insensíveis, têm "consciência social".

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terça-feira, dezembro 04, 2007

Por que será?

Por que as pessoas que se recusam a acreditar no noticiário político da chamada "Grande Mídia" sempre se inclinam a acreditar piamente quando essa mesma mídia que eles clamam vendida traz noticiários alarmantes sobre o clima? Há algo que desacredite uma parte das notícias desses meios de comunicação e mantenha a credibilidade de outras? Ou será que essas pessoas que se dizem "críticas" apenas acreditam nas notícias que favorecem às suas convicções pessoais?


Eu aposto na segunda.

sábado, dezembro 01, 2007

Boa idéia!

Se colocarem esse jogo nas lojas, eu tô na ponta da fila na loja para comprar!

sábado, novembro 24, 2007

Pedirão desculpas?

Já repararam que o Iraque deu uma considerável sumida do noticiário nos últimos meses? Você provavelmente não sabe porque, mas eu esclareço: desde o último reforço de tropas enviadas em meados desse ano, a segurança melhorou consideravelmente. Mais influente ainda nessa diminuição da violência foi o fato de os sunitas, antes o centro da insurreição e aliados da Al Qaeda na luta contra o invasor infiel, se voltaram contra os fundamentalistas. E por que tal mudança de posição? Simples: onde conseguiam estabelecer poder real, os militantes de Bin Laden logo impunham seu rosário de restrições rigidíssimas, que incluem proibição de rádios, TVs, quaisquer representações de figuras humanas e a retirada da pouca liberdade que as mulheres ainda preservam no Islã sunita tradicional. Parece que os iraquianos não gostaram muito da idéia de sair da tirania laica Baathista de Saddam Hussein para cair numa teocracia fundamentalista...

Mas não é esse o foco da minha preocupação. Notei também que os críticos da guerra no Iraque também colocaram uma enorme e conveniente pedra em cima do assunto. E se o aumento da segurança e da estabilidade realmente vierem para ficar? E se, seguro, estável e democrático, o Iraque virar um tigre econômico do Oriente Médio? E se os cenários catastrofistas de um Iraque insurrecto e infestado de fundamentalistas islâmicos simplesmente não se realizar? Os críticos da guerra calçarão as "sandálias da humildade" e pedirão desculpas ao simplório caipira texano que está prestes a deixar a Casa Branca? Conseguirão reconhecer que estavam o tempo todo errados e que George Walker Bush, afinal de contas, leu melhor os fatos do que eles?

Duvido muito. Eles simplesmente esquecerão o Iraque, como já esqueceram todas as vezes em que a história esfregou nas suas fuças o erro de suas teorias e se voltarão para novos alvos, dentre os quais desponta, atraente e suculento, o Paquistão. A roda gira, a fila anda, os cães ladram, a caravana passa, o cortejo segue e tudo permanece igual a antes no quartel de Abrantes. Ó, vida severina!

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domingo, novembro 18, 2007

Pérolas da sabedoria popular

Não desperdice um sentimento com quem é indiferente a ele. Não seja burro(a)!

sábado, novembro 17, 2007

ô dor que dá...

Em todos os concursos e vestibulares que fiz nos últimos dois anos, minhas redações foram verdadeiras obras de arte. Obras que vendi em troca de uma aprovação ou expectativa de aprovação, e que nunca mais eu vi e certamente jamais verei. Sinto-me como um poeta que espalha seus versos em superfícies esparsas como uma flor que asperge seu pólen ao léu na esperança de gerar vida nova, sabendo que as estrofes e sementes deixadas para trás jamais voltarão a ser vistas. Seria até o caso de exigir que as instituições que fazem esses concursos nos devolvam nossos textos, caso estejamos dispostos a pagar o reembolso postal. Se soubessem a dor que se sente quando se entrega a folha de redação ao fiscal com a certeza de que jamais voltará a lê-la de novo, elas disponibilizariam essa opção.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Ó, dúvida cruel...

Estava dirigindo-me a um auditório para ouvir uma palestra sobre a Revolução Russa organizada pelo PCO (Partido da Causa Operária, aquele que existe há mais de vinte anos e nunca conseguiu eleger um vereador sequer). Ou seja, perder meu tempo e passar raiva vendo uma súcia de bolcheviques tacanhos louvar um golpe de Estado que degenerou num dos regimes mais opressores e assassinos da história da humanidade. Antes de ser selado tão trágico destino (o meu, já que o das vítimas da Revolução não mais pode ser mudado), convidaram-me para tomar duas cervejas. Tomamos seis e falamos de muita coisa, menos da dita cuja. Será que fiz uma má escolha?

sábado, novembro 10, 2007

Qual a invenção que mais revolucionou o cotidiano e as relações sociais no século XX?

Fácil: a pílula anticoncepcional.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Sugestão

Para quem não se convenceu com a leitura do texto abaixo, tentem com recursos audiovisuais.

Pelo direito à militância

Desde que iniciou sua autodenominada, um bocado quixotesca e um tanto inútil cruzada contra a religião mundo afora, teístas de todos os cantos, desde os religiosos profissionais àqueles que não pisam mais do que quatro vezes na vida num templo religioso, apontam a sua militância ateísta como algo ofensivo à fé dos 95% da humanidade que têm alguma crença no metafísico. Mas estariam os religiosos ofendidos ou receosos de perder sua reserva de mercado?


Em quase todos os lugares e em quase todas as épocas, os descrentes não apenas não podiam divulgar como mesmo não podiam assumir, sob pena de perder os bens ou mesmo a vida, sua descrença. Mesmo que pudéssemos classificar esse "movimento" (que nem mesmo existe física e institucionalizadamente) como a primeira organização a fazer proselitismo ateu, qual seria o problema? Os religiosos fazem proselitismo de suas idéias há uns bons milhares de anos, inclusive de formas bastante agressivas, como cristãos e muçulmanos bem o podem dizer. Alguém há de citar os regimes marxistas, com suas perseguições religiosas e seu ateísmo de Estado, como exemplos de intolerância ateísta, mas não confundamos militando pro PT com mil-e-tanto pro PT. O que motivava os comunistas em seus crimes era a ideologia marxista, não o ateísmo, que era apenas um componente dela. E um componente teórico, já que nem mesmo a maioria dos potentados socialistas mundo afora era convictamente atéia. Vide o novel representante venezuelano da espécie, que adora usar citações e metáforas cristãs em suas diatribes. Seria algo como, por exemplo, atribuir aos times de futebol os crimes que suas torcidas organizadas cometem.


Mas excluindo os casos de conversão forçada desalentadoramente comuns na história dos grandes monoteísmos (e aqui que o digam os judeus, dessa vez como vítimas), por que é lícito, justo e lindo instituições religiosas manterem serviços missionários para disseminar sua pregação a todos aqueles a quem desejarem que ela chegue, e é desafiador e agressivo por parte dos ateus e agnósticos se portarem da mesma forma? Um crente pode tocar a campainha de minha casa às sete horas da manhã de um domingo subseqüente a uma pródiga farra sabatina com uma Bíblia debaixo do braço, instando-me a deixar as hostes do Inimigo e juntar-se ao rebanho do Senhor (talvez por uma incrível coincidência, todo crente acredita que a sua confissão é a única eleita por um Deus que pretensamente teria criado um universo de bilhões de anos-luz de raio), mas um ateu não pode bater à porta da casa de uma família religiosa trazendo consigo livros de Dawkins, Sagan ou Dennet e pedir uma chance para convencê-lo de que tudo que existe é matéria e energia, nem que seja para ouvir um educado “não, obrigado, mas nós já temos nossas crenças, não estamos dispostos a ouvi-lo”, ou mesmo uma desculpa esfarrapada como “infelizmente, não será possível, pois estamos indo visitar a vovó no asilo nesse exato instante”?


No que me toca, já fui católico e hoje sou um descrente (o que não é sinônimo de ateu, reparem bem), e nos primórdios dessas duas fases também senti vontade de bradar ao mundo inteiro que havia uma verdade absoluta que precisava ser propagada a todo ser pensante. Mas depois você amadurece e deixa isso pra lá. Muito provavelmente a iniciativa de Dawkins resultará em nada. Convencer alguém de uma negativa, afinal, não é tarefa das mais fáceis, e nisso os crentes podem se confortar, têm uma considerável e insuperável vantagem. Mas será que aq ueles que desejam fazê-lo não têm o direito de fazê-lo sem serem acusados de deflagrar uma guerra contra a absoluta maioria dos macacos humanos que crêem no inefável e no sobrenatural? Ainda não aprendemos com todo o sofrimento e sangue derramado por conta de divergências de opinião?


Sim, crentes e descrentes, todas essas suas convicções arraigadas a seus seres como caranguejos nas rochas tentando resistir à maré não passam disso: opiniões. E acreditem, a vida, a saúde, a liberdade e a felicidade de vocês não dependem inapelavelmente de convencer os outros a ter as mesmas opiniões que você. Haja vista a multidão de pessoas que já enfrentou a tortura e o martírio por tentar convencer os outros de suas opiniões, o proselitismo não é lá um estilo de vida dos mais agradáveis e tranqüilos.

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sexta-feira, novembro 02, 2007

Crônicas da vida universitária

Em plena manhã de ócio no CCHL da Universidade Federal do Piauí, eis que uma professora do departamento de economia nos chama para ver algo "importantíssimo" no computador. Sem nada para fazer, acorremos todos para ver o que seria tão impactante que compensasse a interrupção de nossa morgação matinal. Eis que ela nos mostra então, cheia de pompa e com um brilho nos olhos, o blog da invasão da reitoria da UFC, enfatizando o absurdo que era a grande mídia alienante não estar mostrando aquilo.

Em minha mente, eu sorvi um gole profundo de ar e disse, professoral e ríspido: "minha senhora, o preço do barril de petróleo está chegando aos três dígitos, o Iraque está à beira de se transformar numa Iugoslávia do Oriente Médio, o Paquistão está convulsionado e sob risco de uma revolução fundamentalista, Craig Venter está prestes a fabricar uma bactéria em laboratório, começam a surgir os rumores de um terceiro mandato lulista, o LHC vai ser inaugurado esse mês prometendo uma revolução na física atual, só para ficarmos nas notícias desses últimos dias. A senhora acha mesmo que com tanta coisa acontecendo no mundo a mídia, seja grande ou pequena, honesta ou vendida, de direita ou de esquerda, vai se importar com meia dúzia de militantes que invadem a reitoria de uma universidade? Se ao menos se tratasse de Berkeley, Oxford, Harvard, ou mesmo a Sorbonne, vá lá, mas a UFC? Eu aposto que nem os cearenses estão dando bola para essa invasão".

Seja por tato ou por falta de saco para discutir, eu resolvi ficar calado. Ao menos deu para azarar um cafezinho e se despedir com um sorrisinho falso. Quando se está em terreno inimigo, é imprescindível saber muito bem onde se pisa.

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quarta-feira, outubro 24, 2007

Por que essa síndrome de Títon?

Títon é um personagem menos conhecido da mitologia grega a quem teria sido concedida a dádiva da vida eterna. Mas com um porém: não lhe foi concedida a juventude. Ou seja, Títon foi condenado a uma velhice eterna, cada vez mais decrépito, caquético e frágil.

As pessoas desse início de milênio parecem estar possuídas pelo mesmo desvario inconseqüente do desafortunado grego. Quando Paulo Autran morreu, aos oitenta e cinco anos após ter construído a maior carreira do teatro nacional, não faltou quem lamentasse o fato de o cigarro ter abreviado uma vida tão prolífica. Venhamos e convenhamos: Autran não tinha mais nada a conquistar ou provar em seu campo. Vivesse ou não mais alguns anos, seria ainda assim considerado o maior ator do teatro brasileiro do século. E num país onde a expectativa de vida de um homem gira em torno dos 67 anos, chegar aos 85 significa viver quase duas décadas a mais que a média. E daí que ele provavelmente teria ombreado com Dercy Gonçalves, uma que parece ter feito com os deuses o pacto de Títon? De minha parte digo: se me fosse concedido o prêmio de morrer pra lá dos oitenta consagrado como o melhor na minha área, me daria por satisfeito e nunca mais incomodaria as divindades volúveis do Olimpo.

domingo, setembro 16, 2007

Pensata do dia

"As regras e teorias de um velho sheik árabe chamado Maomé e as abstrusas interpretações de gerações de sujos e ignorantes padrecos fixaram a lei civil e penal da Turquia. Eles determinaram a forma da constituição, as mais pequenas ações e gestos do cidadão, a sua alimentação, as horas para levantar e dormir, tradições e hábitos e mesmo os mais íntimos pensamentos. O Islã, essa absurda teologia de um beduíno amoral, é um cadáver podre que envenena a nossa vida. A população da república turca, que reclama o direito a ser civilizada, tem de demonstrar a sua civilização através das suas ideias, sua mentalidade, através da sua vida familiar e seu modo de vida".


Quem teria dito uma barbaridade dessas? O presidente Bush ou algum neocon republicano? Algum intelectual europeu tacanho e preconceituoso? Um membro do Opus Dei?


Nada disso, meus caros. Quem proferiu essas palavras foi Mustapha Kemal, o Atatürk (1881-1938), fundador da Turquia moderna depois do esfacelamento do Império Otomano. Este homem foi o todo-poderoso no país de 1923 até a sua morte. E mesmo passados quase setenta anos, o povo turco ainda lhe tem uma devoção religiosa. Todos os anos, no exato dia, hora e minuto em que o Atatürk (pai dos turcos) deu seu último suspiro, uma nação de 70 milhões de pessoas pára. Até mesmo uma metrópole de 8 milhões de habitantes como Istambul pára em reverência ao pai fundador da nação turca, e seu maior herói de guerra desde Suleiyman, o Magnífico.


O mundo muçulmano adora entrar em polvorosa por causa de caricaturistas nórdicos e prelados católicos, mas nunca vi um mulá, imã ou seja lá o que for para fazer referência a esse profundo desrespeito ao Islã por parte do criador de uma das maiores nações islâmicas do mundo. O que deixa bem claro que o que eles querem quando pedem para que renunciemos à liberdade de expressão não é respeito, e sim submissão.

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sexta-feira, setembro 14, 2007

Estrada para a secessão

Antecipando-se ao triunfo do conchavismo cínico que se viu no senado na última quarta, o congresso do petê propôs uma singela medida: a pura e simples extinção do Senado Federal, afora a mais notória de convocar uma constituinte para reformar o sistema político e permitir, quem sabe, a volta da monarquia com o início da dinastia Lula, com Luis Inácio I como seu venerável soberano. Vocês podem estar se perguntando: e daí?

O Senado é uma instituição típica do sistema federativo. Sua função é exatamente garantir aos entes federados com menor população que não serão simplesmente dominados pelos entes com maior população e conseqüente maior representação no parlamento. Como lá todos os entes federados têm o mesmo número de representantes, garante-se que todo estado, por menor que seja, não terá suas demandas solapadas pela maioria dos estados dominantes.

Ou seja, se o país comprar a tese petista de que o Senado é desnecessário, eu vou ainda além: a União é desnecessária. Nosso federalismo que já é quase só fachada será definitivamente sepulto junto com a casa presidida por Renan Calheiros. E destruídas as últimas esperanças de fazermos um pacto federativo autêntico no Brasil, a própria nação como um todo é desnecessária. Nos transformaremos numa União Soviética tropical, um país continental e heterogêneo (embora não tanto quanto o antigo império comunista) regido pela mão pesada e centralizadora de um governo estabelecido no centro do país, onde cidadania é apenas uma idéia vazia e todos são meros súditos do avassalador poder central.

Concluindo: desaparecendo o Senado, a União e esse estado soberano chamado Brasil simplesmente perdem a razão de existir. Está cada vez mais claro que não conseguimos funcionar como uma federação? Às armas, cidadãos, pela independência de seus estados e regiões. Aos estados presos aos grilhões de um governo centralizador, não resta outra alternativa. Claro que isso teria que partir dos estados mais ricos e mais populosos, pois eles são o eixo de sustentação do poder central. As forças armadas, sistematicamente enfraquecidas e enxovalhadas pelos últimos governos civis, estão combalidas demais para fazerem frente à sublevação do coração econômico do país. E um dominó provocaria a queda dos demais numa reação em cadeia. E nem seriam necessários banhos de sangue. O Brasil desabaria como uma fruta podre, exatamente como a antiga pátria do socialismo. E quem sabe alguns estados não conseguissem entrar na rota que leva ao primeiro mundo, uma vez libertos da necessidade de sustentar milhares de municípios inviáveis através do hediondo expediente dos repasses...

Se por uma dessas mórbidas surpresas do destino essa constituinte para a reforma política e extinção do Senado se tornar realidade, compre armas, balas e comece a treinar, cidadão. Quando chegar a esse ponto, ou nós acabamos com o Brasil ou o Brasil acabará conosco

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quarta-feira, setembro 12, 2007

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