domingo, março 20, 2005

Crepúsculo de Calíope

Mais uma vez disponibilizo um texto da minha coluna no Novometal.com para os preguiçosos que não querem ir até lá.Caso queiram, entrem aqui e confiram.

"A trajetória da humanidade pela história equivale a uma grande viagem em que incessantemente procuramos nos mover das trevas em direção à luz, e à exceção de alguns conservadores radicais (sim, esse bicho existe) e anarco-primitivistas insanos, ninguém ousa contestar as benesses que nos trouxeram essa corrida por mais e mais conhecimento: além de dobrarmos nossa expectativa de vida, aumentamos dramaticamente a qualidade de vida desta, a ponto de a maioria da humanidade hoje viver melhor do que nobres de séculos anteriores.Porém, nenhuma mudança é isenta de perdas, e o que se perdeu pelo caminho durante essa viagem é algo que vai muito além da ignorância, embora esteja diretamente relacionada a ela: a capacidade de se admirar com o desconhecido e se sentir pequeno diante de forças bem maiores e incontroláveis.E o que diretamente deriva desta sensação, que é a capacidade de criar e se encantar com heróis e histórias sobre-humanas.Em resumo, o aumento de conhecimento parece cada vez mais sufocar e matar de inanição as epopéias".

"Triste fim para uma forma de arte que na antiguidade conheceu sua hegemonia.Numa época em que o homem se considerava menos uma força transformadora da natureza do que mero joguete nas mãos desta e do que quer que estivesse acima da mesma, acreditar e conceber epopéias era uma válvula de escape, uma maneira de se sentir menos diminuído, e quantos tesouros inestimáveis nosso gênero não ganhou devido a esta visão de mundo e de si próprio.O homem, ao se sentir pequeno, na arte se fazia grande, e personagens como Gilgamesh, Aquiles, Ulisses e Enéas puderam tomar forma pelo gênio de grandes artistas dos quais nada sabemos além dos nomes, e essa suprema ironia ainda mais agiganta a dimensão de suas obras: um ser humano, diminuto e frágil, pela dimensão de seu intelecto toma lugar em palco de gigantes.Mais tarde, Dante, Malory e Camões aprimoraram essa tradição ao mesclar elementos da cultura clássica com influências pagãs e cristãs, Milton trouxe o divino para a esfera do humano, e Wagner uniu literatura e música para criar um conceito completo de epopéia: aquela que não apenas se lê, mas se ouve".

"O século passado, porém, acabou sem deixar a sua obra épica.Ulisses e Em Busca do Tempo Perdido, as obras que mais próximo chegaram desse patamar, são epopéias do homem comum, o que se não deixa de ter inestimável valor artístico, por certo desvirtua o elemento do fantástico que a tradição épica sempre incorporou como algo primordial e indispensável.Talvez isso se deva à história peculiar que vivemos, na qual seres humanos pretenderam ascender à condição de divindades e se transformaram em demônios que todos desejam exorcizar, e as ideologias do século recém-falecido parecem haver solapado o místico encanto do sobrenatural com golpes dolorosos de cruenta realidade, no seu desejo de substitui-lo por um paraíso terrestre que jamais viria a se realizar.Contribuiu também para tanto o progresso científico, ao afastar para cada vez mais longe as brumas do desconhecido, e filosófico, que elevou a existência ao patamar de único valor absoluto".

"Não que eu desgoste de todos esses progressos, muito pelo contrário.Mas isso não torna menos desalentador o fato de que à custa desses estamos deixando para trás uma tradição artística tão rica.Seria o caso de se perguntar: O que fará a humanidade quando se vir irremediavelmente presa na armadilha da infinita sapiência, que brilha com tal magnitude que todos torna cegos? Procurará os guias, os portadores da escuridão, que no meio do mar de luz, serão os únicos a enxergar.Mas, e se não houver os portadores da escuridão? Aqueles que tanto lutaram para dissipá-la teriam ânimo de trazê-la um pouco de volta, mesmo que fosse para salvar as próprias existências? Nesse caso, a musa grega que hoje lamenta a amargura do ostracismo ressurgiria para oferecer aos homens os sedutores ardis de seus mistérios, usando a escuridão para emergir de volta à luz, numa feliz conciliação de opostos.Como na melhor tradição épica".


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