Questão de (mau) gosto
Uma pessoa recentemente me perguntou o porquê da minha implicância com a esquerda.Principalmente, ela indagava por que eu acredito que o esquerdismo não pode ser tão bom quanto o liberalismo.Em outras palavras: por que não acredito que "outro mundo é possível", ou por que não acredito que a social-democracia pode, sem subverter a ordem de mercado, oferecer uma nova abordagem econômica tão válida e eficaz quanto a liberal.
Me veio então à mente uma explicação dada por Gustavo Franco acerca desta pergunta.Uma analogia fácil de entender por qualquer pessoa.Imaginemo-nos diante de um quadro, a Mona Lisa, de Da Vinci, para usarmos um que todos conhecem.Você está apreciando a obra de arte em todos os seus detalhes e prismas.De repente, alguém chega e sugere, de forma séria, e talvez até bem-intencionada: "que tal se virarmos a pintura de cabeça para baixo?"Não custa nada tentar, é o que você pensa, como pessoa refratária a dogmatismos que é.Então lá vai a Mona Lisa plantar bananeira num canto do Louvre.
Duas perguntas aqui cabem: mudar a posição do quadro criou uma nova obra de arte? Ofereceu uma nova perspectiva tão rica em nuances quanto a anterior? Minha interlocutora não respondeu afirmativamente a nenhuma das duas perguntas.Era óbvio, dizia ela, que Mona Lisa de cabeça para baixo não era uma nova obra.Tampouco oferecia a mesma riqueza de detalhes da posição original, pois Da Vinci o pintou para que fosse visto de uma posição determinada.Com a mudança, perdeu-se a percepção completa de jogos de luz e sombra, e a perspectiva da figura fica toda comprometida, o famoso relance dos olhos, o detalhe mais famoso da obra, simplesmente não é percebido a partir dessa posição nova.
O que podemos concluir de tais observações? Que colocar a pintura de ponta-cabeça não representou nem uma inovação nem uma boa visão do quadro.Foi apenas uma atitude de mau gosto artístico.Essa é a analogia que explica o significado do esquerdismo em matéria de política e economia: não inova, nem melhora.Apenas subverte mal e porcamente o curso natural de ambas.
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