quarta-feira, março 02, 2005

Guerra do Iraque, Parte I: Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa


O provérbio acima citado é uma pérola da sabedoria "nonsense" popular, mas se aplica bem a determinadas situações nas quais as pessoas parecem esquecer essa sentença ridiculamente óbvia e passam a traçar paralelos absurdos e, não coincidentemente, ideologicamente contaminados.E se até um espirro de uma liderança norte-americana corre sério risco de ser ideologicamente interpretado, que dirá uma empreitada complexa e ambígua como a Guerra do Iraque.E não é raro ver as pessoas fazerem uma absurda comparação entre esse conflito e as ocupações efetuadas pela Alemanha Nazista.

Não é preciso ser gênio para perceber que não há base de comparação entre uma coisa e outra.Primeiro: a Alemanha Nazi invadiu nações em sua maioria democráticas, com governos legitimamente eleitos e respeitadores dos direitos individuais.Os EUA invadiram um país oprimido por um tirano assassino e cleptomaníaco, que moveu campanhas de extermínio contra cidadãos de seu próprio país e duas guerras contra nações vizinhas.Segundo: Hitler nomeou cupinchas seus para administrarem os territórios da maneira que bem entendessem, e não há registros de que tenha permitido que alguma nação ocupada realizasse eleições para uma assembléia constituinte com o objetivo de escrever uma nova constituição para o país.

Absurdo maior ainda é comparar a resistência à ocupação americana àquela empreendida contra a ocupação nazista.Ora, o Iraque é uma nação completamente diferente das européias.Enquanto essas já eram na época Estados consolidados e com povos homogêneos, o Iraque é um mosaico de grupos étnicos e religiosos que não se entendem de jeito algum, e que jamais se sentiram parte de um país.A resistência na II Guerra era tipicamente nacionalista.A resistência atual não pode ser considerada "iraquiana" porque os próprios habitantes do país não se consideram como tais.Predomina naquela parte do mundo o regime de clãs e ligações tribais, aonde as pessoas se identificam pelas famílias às quais pertencem e, em última instância, ao ramo do islamismo que professam (sunitas e xiitas).Nacionalismo no Iraque só o curdo, e ao que consta, este povo aceita de muito boa vontade a ocupação, violentados que foram pela ditadura de Saddam Hussein.

E o que vem a ser a resistência? A resposta é dada pelos próprios "insurgentes": um movimento terrorista que visa deestabilizar o país a ponto de conduzi-lo a uma guerra civil e abalar as bases americanas no Oriente Médio.Uma coisa que os entusiastas da "resistência iraquiana" não explicam é o fato de o povo resistir sob o comando de um estrangeiro: Abu Musab Al Zarqawi é jordaniano, e a quase totalidade dos envolvidos em atentados presa é composta por estrangeiros.Será que eles sabem melhor do que os próprios iraquianos o que é melhor para a nação? São mais capazes de empreender missões em um território do que os próprios ocupantes dele?

E o argumento que derruba de uma vez por todas essa comparação ridícula: desde quando resistir a uma ocupação estrangeira significa promover atentados em que 90% das vítimas são nacionais? Será que a resistência francesa, polonesa, norueguesa, etc... atuava contra os nazistas explodindo zonas de aglomeração e matando quase que apenas compatriotas? Francamente, é preciso ter muito miolo mole, ou doses cavalares de vigarice intelectual para comparar a heróica resistência à tirania nazista com criminosos que explodem filas nas quais pais de família procuram emprego para dar de comer a seus filhos.Pensemos um momento nas famílias destes mais de cem mortos nesse último atentado: quantas esposas e crianças estão nesse momento chorando a dor da morte e da indigência devido à "heróica resistência iraquiana"?


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