Guerra do Iraque, Final: A Melhor das Soluções
Depois de avaliar o presente e o passado do atual conflito na Mesopotâmia, a melhor forma de finalizar é avaliar o futuro.Mas não vou me meter no complicado exercício de tentar prever o que vai sair dali, se uma nação próspera e democrática ou um país mergulhado em uma tenebrosa guerra civil nos moldes iugoslavos.Apenas descreverei o que seria a melhor coisa a fazer para evitar um confronto interno que surge como desfecho sangrento e melancólico para uma missão que, ainda que deflagrada por fins políticos e estratégicos, se revestiu também de um desejo de libertar um povo de um tirano sanguinário e dar-lhe uma oportunidade de, pelo menos, decidir o próprio futuro.E essa solução é tão simples que sequer é avençada nos esboços futuros, porque totalmente fora de cogitação.Mas solução melhor não poderia haver: dividir o Iraque em três países.Pura e simplesmente.
A constituição do Iraque se deu na mesma época e nos mesmos moldes da Ex-Iugoslávia: facções étnicas ou religiosas hostis entre si sendo forçadas a construir um país em comum.O horrendo fim da experiência nos Bálcãs deveria servir de exemplo para que essa possibilidade fosse considerada, mas os casuísmos tendem a continuar insistindo na convivência entre inimigos históricos.Isso porque o Estado Xiita ao sul, dono do grosso do petróleo, cercado de países sunitas potencialmente hostis, procuraria naturalmente o apoio do grande país xiita da região, que vem a ser o Irã, figadal inimigo dos Estados Unidos, que vetariam a divisão para que tal possibilidade não viesse a tomar corpo.Esperam os americanos que o governo pluralista de um Iraque unificado evitará tal aproximação por força da minoria sunita.O problema é que a minoria sunita praticamente não tem representação, e não parece disposta a resolver o impasse da disputa pelo poder por meios legais.A ameaça de guerra civil paira no ar.
Ao norte o problema é diverso: a minoria curda ocupa praticamente sozinha um território rico em água e com algumas boas reservas petrolíferas.Como os curdos são um povo sem Estado, não haveria a ameaça de seu país se bandear para as hostes de algum inimigo.E nesse caso, a falta de Estado aliado, ao contrário do caso anterior, é parte do problema.As nações circunvizinhas, detentoras de significativas minorias curdas, temem a formação de um Estado curdo independente mais do que a de um Iraque democrático e aliado dos americanos.Isso porque os curdos em seus territórios começariam a pressionar as fronteiras desse novo país, e das duas uma: ou haveria migrações em massa, ou (cenário mais provável) o Curdistão apoiaria os já existentes movimentos separatistas curdos na Síria, na Turquia e no Irã, e não passa pela cabeça da cúpula americana desgostar um aliado estratégico na região como a Turquia.Ver o fantasma de Abdullah Okalam (comandante do PKK, o partido curdo resistente) renascer como um mártir da causa curda, apoiada por um país rico em petróleo situado em suas cercanias é o pior dos infernos que Ankara pode imaginar que surja em meio ao turbilhão iraquiano.
Isso sem falar nos sunitas que, desamparados num território quase sem petróleo, talvez fosse alvo fácil das organizações fundamentalistas e se tornasse o novo QG da Al Qaeda, declarando talvez uma guerra contra os xiitas ao sul e se aliando ao governo canalha da Síria numa repressão ao estado curdo do norte.Pensando melhor, a divisão pode espalhar um rastilho de pólvora que tem tudo para incendiar não apenas o Iraque, mas o Oriente Médio como um todo.Um Iraque unido também traz perspectivas tenebrosas, mas não desagrada aliados nem atira estados no colo de inimigos.Por isso os americanos vão insistir nessa cartada, mesmo sem saber se ela será bem-sucedida.
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