Do Amor e Outras Prisões
Recentemente andei falando por aqui que o amor pode ser uma prisão devastadora, um sentimento que ao invés de enobrecer o caráter corrói o espírito. O Helder contestou com muita propriedade. Só que o problema não é o amor em si, são as circunstâncias em que ele insiste em sobreviver.
Não é fácil constatar que o período mais feliz e o amor mais intenso de uma vida foram construídos em cima de alicerces de areia. Que tudo provavelmente foi apenas um jogo divertido de mútuos equívocos levados às últimas conseqüências. Isso faz com que aquela felicidade deslumbrante ganhe um aspecto fúnebre e irretornável. E a dor de uma felicidade morta chega a ser mais torturante que aquela causada pela morte de um ente querido. Mas o fato é que não vale a pena levar adiante algo que, se um dia te fez a pessoa mais feliz do mundo, hoje te deprime e te amarga. Não que aquela felicidade deva ser renegada. Enquanto ela existiu foi real. Mais uma vez, felicidades são como os mortos: por mais queridos que sejam, têm de ser enterrados, ou só provocarão transtorno e desconforto. Devidamente encerrada no reino dos mortos, aí sim ela pode ser lembrada com carinho e saudade.
O trabalho é penoso, mas está sendo muito bem realizado. Então o caminho para outras felicidades estará aberto. É com esse misto de lamentação e alívio que eu fico por aqui.
P.S. Em breve, acho que tenho boas novidades para anunciar-vos.
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