Guia de como (não) resolver problemas
Repare em alguns discursos da moda a respeito da última crise do Oriente Médio. Eles demonstram muito bem como não se deve proceder quando se tenta resolver um problema.
Saber como o problema nasceu, rastrear suas raízes é ótimo, satisfaz a curiosidade intelectual e pode até ajudar concretamente. Só que diagnosticar as razões não é suficiente. Não basta saber que o estado de Israel foi construído em cima de um território onde outro povo viva. Isso não vai fazer o estado de Israel desaparecer da região (voltarei a esta questão posteriormente).
O primeiro passo então é reconhecer as coisas como elas são: existe um estado judeu, e ele é cercado por povos muçulmanos governados por ditaduras que adoram incendiar o panorama externo para desviar a atenção de todos da pobreza e da falta de liberdade às quais submetem seus povos. A pergunta inicial é: quem deu o primeiro tapa?
Quanto a isso não há dúvida: foram o Hamas e o Hezbollah, ao seqüestrarem soldados israelenses. Militantes do Hamas, aliás, vinham usando suas bases na faixa de Gaza para bombardear a cidade israelense de Asqelon.
E há um fato incontestável: Israel fez duas grandes concessões unilaterais. Uma em 2000, desocupando o sul do Líbano (onde estavam havia vinte anos), e outra ano passado, desocupando a faixa de Gaza. Israel fez o que os "pacifistas" dos mais diversos matizes dizia que funcionaria: cedeu território ao inimigo e passou a pressioná-lo menos.
O resultado aí está. Os palestinos não usaram a liberdade de movimentos na faixa de Gaza para construir as bases de um estado minimamente funcional; pelo contrário, mergulharam na anarquia de guerras entre grupos rivais, e os jihadistas aproveitaram a bagunça para intensificar os ataques contra alvos israelenses. No caso do Líbano, a coisa é ainda mais grave, pois com a desocupação do sul, o Hezbollah simplesmente perdeu sua razão de existir (o grupo surgiu com o objetivo específico de expulsar Israel do sul do Líbano). O Hezbollah desarmou suas milícias? Não, usou a liberdade de movimentos para fortalecer suas bases e aumentar o poder de fogo de atacar Israel.
Levando-se em conta esses fatos, qualquer um que acredite que o Hamas e o Hezbollah querem algum tipo de entendimento pacífico com Israel é um idiota ou um canalha intelectual. Negociação só pode existir entre dois lados que possuem um objetivo em comum (a paz, a manutenção de territórios etc.). Se um dos lados não aceita a existência do outro, não há paz possível. Israel, portanto, não tem outra opção. Ou reage com sua típica truculência a toda e qualquer agressão, ou cometerá um suicídio como nação.
Dito isso, vamos para a segunda, mais complicada e crucial parte do problema: o Líbano. Mais precisamente, duas ditaduras que usam o Líbano como instrumento para atacar Israel: Síria e Irã. Ambos financiam grupos terroristas palestinos; do Irã vem o dinheiro e da Síria o apoio logístico ao Hezbollah. Vale lembrar que a Síria colonizou (essa é a palavra correta) o Líbano de 1976 até o ano passado, quando o regime de Damasco assassinou um político popular libanês contrário à presença de tropas sírias no país. Tueini, outro político carismático anti-Síria, foi morto ano passado em circunstâncias suspeitíssimas. A Síria saiu do Líbano, mas vem demonstrando que não vai abrir mão de exercer o seu poder no país. Somente a comunidade internacional pode tirar as garras de Bashar Assad do Líbano.
De tal forma que os civis libaneses realmente são os coitadinhos da história. O Hezbollah como partido político tem representação minúscula, e concentrada em vilarejos do sul. Beirute é anti-Hezbollah em peso. Só que a culpa das mortes e da destruição no país não deve recair sobre as costas de Israel, e sim de quem usa covardemente os civis libaneses como escudo humano para promover suas ações terroristas. Bush, direto e simplório como sempre, foi direto ao ponto: "a Síria tem que acabar com aquela m. no Líbano". Ao contrário de muitos analistas políticos com ares intelectuais, o rude caubói texano ao menos sabe onde está o problema.
Resumindo: a bola, em tese, está com o governo libanês. Se ele deseja paz com Israel, deve neutralizar o Hezbollah e ocupar a fronteira com seus exércitos (vale lembrar que Jordânia e Egito também expulsaram jihadistas anti-Israel de suas fronteiras, e convivem pacificamente com o estado judeu). O fator Síria é que embola as variáveis da equação. Damasco não quer perder a chance de aporrinhar Israel sem se expor, usando o povo libanês como bucha de canhão. Os libaneses querem paz depois de anos de guerra civil e opressão síria. Cabe a eles dizerem que não querem mais ser joguetes de Bashar Assad e mandar a Síria se entender diretamente com Israel.
(Amanhã: a questão palestina vista através de um filme).
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