Wind of change
Na música de mesmo nome, a banda alemã Scorpions descreve com muito lirismo e com uma belíssima melodia a sensação de sentir os ventos da mudança soprarem no leste europeu na segunda metade dos anos 80. E o que chama a atenção é o caráter repentino do processo: em 1985 ninguém diria que o bloco comunista europeu estava bem perto da derrocada, que o muro de Berlim cairia dentro de quatro anos e a própria União Soviética implodiria em cacos e escombros dois anos depois.
Tratar-se-ia de mais um post político chato? Não, minha intenção hoje é outra. Sempre ocupei demais esse blog com política, e isso me bloqueou de falar sobre tantas outras coisas que adoro e sobre as quais tenho opiniões (grande novidade, sempre me consideraram uma pessoa opiniosa).
O vento da mudança ao qual me refiro é o que começou a soprar esse ano como uma leve aragem, mas que em breve se transformará num furacão que derrubará estruturas e transformará dramaticamente o mundo e a mentalidade das pessoas. E é algo para breve: para a próxima década, ou no mais tardar a seguinte. Não, você não está lendo mais um post-catástrofe sobre o Aquecimento Global. Trata-se de algo muitíssimo mais impactante. Mesmo os menos atentos em noticiários científicos souberam da descoberta de um planeta rochoso similar à Terra e dentro da zona de habitabilidade de sua estrela. OK, não há nada que prove que lá exista mesmo vida, que dirá uma civilização tecnológica. Mas a descoberta não se trata de um fato isolado. Na verdade, é apenas o começo da Segunda Grande Revolução da astronomia, eu diria até mesmo superior à primeira dos anos 60.
Explico: ano passado, quase sem alarde, foi lançada o primeiro satélite capaz de encontrar planetas telúricos. O Corot vai examinar centenas de milhares de estrelas, e mesmo sua técnica de busca ainda favorecer o achado dos chamados Júpiteres quentes (planetas gigantescos quase colados em suas estrelas, os mais fáceis de se detectar pela atual técnica da perturbação gravitacional), ele vai encontrar algumas dezenas, quiçá centenas de Terras por aí.
E não é só isso: menos de um mês da descoberta da outra Terra, astrônomos já conseguiram medir temperatura e condições atmosféricas de outro planeta (nem adianta se animar: o dito-cujo é um trambolho maior que Júpiter pertíssimo de sua estrela, três vezes mais quente que Vênus). Claro que a chance de encontrarmos prova concreta de vida fora da Terra nesses próximos anos é pequena. Mas o que importa é o precedente.
A coisa promete esquentar na década que vem, com o lançamento do TPF (Terrestrial Planet Finder) previsto pela Nasa para ocorrer por volta de 2015. Como o nome sugere, a missão terá como objetivo encontrar planetas similares à Terra numa raio de 50 anos-luz. E será sensível o suficiente para detectar inclusive a composição atmosférica de tais planetas . A Agência Espacial Européia, mãe do Corot, também promete novas missões nesse sentido para a mesma época. E se ainda assim não obtivermos prova irrefutável de vida fora daqui, a geração seguinte de sondas, prevista para a década de 2020, solucionará o problema. Seus equipamentos teriam capacidade de enxergar mesmo as superfícies de planetas extra-solares.
De tal modo que não há como escapar: se a vida realmente existe e é abundante no cosmo como os últimos dados parecem sugerir, nós a encontraremos em muito breve, com certeza antes de 2030. É, portanto, bastante provável que sejamos a última geração de pessoas que aprendeu a ver a vida como uma exclusividade terrena, uma jóia rara e preciosa, perdida e solitária nesse rincão da galáxia. O impacto que exercerá a notícia de que há vida la fora é imensurável e imprevisível, e é capaz de mudar as visões de mundo de bilhões de pessoas de forma repentina e dramática. E assim que encontrarmos provas de vida, não demorará nadinha até fazermos contato com civilizações de alto nível tecnológico, assim como os portugueses demoraram quase um século para contornar a África, mas estavam dando a volta ao mundo apenas vinte anos depois.
A questão que me fascina e atormenta é como as religiões, principalmente as monoteístas, que partem todas do princípio de que o ser humano é especial e único no projeto da vida, encararão esses fatos. Como poderia Deus ter espalhado vida por todo o universo e ter enviado profetas e salvadores apenas para a Terra? Da mesma forma que conhecer outras etnias e culturas totalmente distintas mudou radicalmente a forma de pensar dos europeus do século XVI, acredito que uma nova série de revoluções ideológicas e intelectuais que não somos sequer capazes de imaginar se desencadeará a partir de então. Sentiremos finalmente, depois de meio século confinados em nosso planeta, a necessidade de sair e explorar o que há lá fora que inebriou nossas mentes nos anos 60. Sendo que o "lá fora" dessa vez não é apenas nosso satélite: é nosso sistema estelar inteiro, e quiçá outros.
Como assim outros, vocês devem estar se perguntando? Se mal conseguimos manter meia dúzia de humanos voando 400 quilômetros acima de nossas cabeças, como poderemos mandá-los para as estrelas no espaço de tempo de nossas vidas? Essa é uma resposta que darei em breve (mesmo!). Aguardem.
Tratar-se-ia de mais um post político chato? Não, minha intenção hoje é outra. Sempre ocupei demais esse blog com política, e isso me bloqueou de falar sobre tantas outras coisas que adoro e sobre as quais tenho opiniões (grande novidade, sempre me consideraram uma pessoa opiniosa).
O vento da mudança ao qual me refiro é o que começou a soprar esse ano como uma leve aragem, mas que em breve se transformará num furacão que derrubará estruturas e transformará dramaticamente o mundo e a mentalidade das pessoas. E é algo para breve: para a próxima década, ou no mais tardar a seguinte. Não, você não está lendo mais um post-catástrofe sobre o Aquecimento Global. Trata-se de algo muitíssimo mais impactante. Mesmo os menos atentos em noticiários científicos souberam da descoberta de um planeta rochoso similar à Terra e dentro da zona de habitabilidade de sua estrela. OK, não há nada que prove que lá exista mesmo vida, que dirá uma civilização tecnológica. Mas a descoberta não se trata de um fato isolado. Na verdade, é apenas o começo da Segunda Grande Revolução da astronomia, eu diria até mesmo superior à primeira dos anos 60.
Explico: ano passado, quase sem alarde, foi lançada o primeiro satélite capaz de encontrar planetas telúricos. O Corot vai examinar centenas de milhares de estrelas, e mesmo sua técnica de busca ainda favorecer o achado dos chamados Júpiteres quentes (planetas gigantescos quase colados em suas estrelas, os mais fáceis de se detectar pela atual técnica da perturbação gravitacional), ele vai encontrar algumas dezenas, quiçá centenas de Terras por aí.
E não é só isso: menos de um mês da descoberta da outra Terra, astrônomos já conseguiram medir temperatura e condições atmosféricas de outro planeta (nem adianta se animar: o dito-cujo é um trambolho maior que Júpiter pertíssimo de sua estrela, três vezes mais quente que Vênus). Claro que a chance de encontrarmos prova concreta de vida fora da Terra nesses próximos anos é pequena. Mas o que importa é o precedente.
A coisa promete esquentar na década que vem, com o lançamento do TPF (Terrestrial Planet Finder) previsto pela Nasa para ocorrer por volta de 2015. Como o nome sugere, a missão terá como objetivo encontrar planetas similares à Terra numa raio de 50 anos-luz. E será sensível o suficiente para detectar inclusive a composição atmosférica de tais planetas . A Agência Espacial Européia, mãe do Corot, também promete novas missões nesse sentido para a mesma época. E se ainda assim não obtivermos prova irrefutável de vida fora daqui, a geração seguinte de sondas, prevista para a década de 2020, solucionará o problema. Seus equipamentos teriam capacidade de enxergar mesmo as superfícies de planetas extra-solares.
De tal modo que não há como escapar: se a vida realmente existe e é abundante no cosmo como os últimos dados parecem sugerir, nós a encontraremos em muito breve, com certeza antes de 2030. É, portanto, bastante provável que sejamos a última geração de pessoas que aprendeu a ver a vida como uma exclusividade terrena, uma jóia rara e preciosa, perdida e solitária nesse rincão da galáxia. O impacto que exercerá a notícia de que há vida la fora é imensurável e imprevisível, e é capaz de mudar as visões de mundo de bilhões de pessoas de forma repentina e dramática. E assim que encontrarmos provas de vida, não demorará nadinha até fazermos contato com civilizações de alto nível tecnológico, assim como os portugueses demoraram quase um século para contornar a África, mas estavam dando a volta ao mundo apenas vinte anos depois.
A questão que me fascina e atormenta é como as religiões, principalmente as monoteístas, que partem todas do princípio de que o ser humano é especial e único no projeto da vida, encararão esses fatos. Como poderia Deus ter espalhado vida por todo o universo e ter enviado profetas e salvadores apenas para a Terra? Da mesma forma que conhecer outras etnias e culturas totalmente distintas mudou radicalmente a forma de pensar dos europeus do século XVI, acredito que uma nova série de revoluções ideológicas e intelectuais que não somos sequer capazes de imaginar se desencadeará a partir de então. Sentiremos finalmente, depois de meio século confinados em nosso planeta, a necessidade de sair e explorar o que há lá fora que inebriou nossas mentes nos anos 60. Sendo que o "lá fora" dessa vez não é apenas nosso satélite: é nosso sistema estelar inteiro, e quiçá outros.
Como assim outros, vocês devem estar se perguntando? Se mal conseguimos manter meia dúzia de humanos voando 400 quilômetros acima de nossas cabeças, como poderemos mandá-los para as estrelas no espaço de tempo de nossas vidas? Essa é uma resposta que darei em breve (mesmo!). Aguardem.
Marcadores: astronomia, Ciência, previsões
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