Não Há Como Dobrar o Inflexível
Sou quiçá o único vaticanista ateu da face da Terra, e antes que me considere um hipócrita ou um doido varrido, explico-me: meu interesse pela sucessão do Trono de Pedro se dá por conta de uma profecia que há algum tempo fiz a respeito do futuro da mais antiga instituição religiosa do mundo.
Tal pensamento remonta à época em que eu era católico (o que já faz uns bons quatro anos), e se deve ao cabo-de-guerra que divide a Igreja Católica internamente: de um lado os "progressistas", que acreditam que a Igreja precisa se adaptar às mudanças dos tempos para se preservar viva e forte; de um outro, os conservadores (grupo no qual se inclui Wojtila), que pensam que a Igrejanão precisa mudar para persistir, e que mesmo as tênues mudanças do Concílio Vaticano II devem ser repensadas (e provavelmente abolidas).Estes grupos colocam o futuro da Igreja em suspenso há quatro décadas.
E quem está certo? Os dois.E ao mesmo tempo nenhum dos dois.Os progressistas acertam no diagnóstico: a Igreja está perdendo fiéis e espaço no mundo e nos corações dos devotos devido às mudanças que o mundo tem sofrido nos últimos séculos, e de forma vertiginosa, nos últimos cinqüenta anos.Porém sua receita é desastrosa: propõem uma ampla reforma para tentar adaptar a instituição aos tempos modernos.O dia em que essa reforma for realizada será o dia da destruição final da Igreja Católica Apostólica Romana.
Por que? Aí chegamos à análise que fiz, com base em um estudo comparativo com outra religião messiânica do mundo ocidental: o marxismo.Como bem sabemos, o marxismo começou restrito a grupos visionários com nenhuma esperança de um dia alçar o vôo do poder.Por uma conjuntura especialmente infeliz de fatores, eis que chegaram ao poder e expandiram seu domínio por extensão considerável do planeta.O problema é que os regimes marxistas eram um desastre em todos os sentidos possíveis e imagináveis.Então surgiram os reformistas, integrantes do sistema e crentes nas premissas básicas do alemão barbudo que tinha furúnculo na bunda.O objetivo deles era adaptar o marxismo à evolução do mundo para evitar que ele fosse destruído.E um dia, o que parecia improvável aconteceu: um reformista galgou os degraus dentro do sistema e chegou ao comando máximo do comunismo mundial.Seu nome era Mikhail Gorbatchev, e sua tentativa sensata e bem-intencionada de reformar o comunismo para torná-lo ágil e moderno redundou no que já conhecemos.O Segundo Mundo, que parecia sólido como o muro que rasgava a capital alemã ao meio, desabou juntamente com este em apenas seis anos.O marxismo, outrora senhor de um terço da humanidade, é hoje privativo de regimes falidos e pessoas recalcadas e mesquinhas que insistem em lutar contra os fatos.
Podemos perceber uma similaridade histórica incrível entre o bolchevismo e a Igreja Católica: assim como aquele, esta começou perseguida, galgou os degraus mais altos do poder graças à sua organização e logística, lá chegando perseguiu implacavelmente as outras vertentes da crença (gnósticos, docetistas, monofisitas, bem como mencheviques e anarquistas penaram mais sob Lênindo que sob Nicolau II), dominou por um período de tempo (bem mais longo), e a marcha inexorável da história a relegou à caduquice e à insignificância.
Daí depreendo que um Gorbatchev católico nada mais faria que não enterrar de vez a Igreja.E isso se dá porque, assim como o bolchevismo, a Igreja Católica é um sistema dogmático e hierarquizado, que é baseado em premissas rígidas e inflexíveis.E o inflexível não dobra: ao tentar fazê-lo, ele inevitavelmente quebrará, tal como aconteceu com o comunismo.Gorbatchev tentou reformar o irreformável, bem como os progressistas o tentam fazê-lo na Igreja.E por que marxismo e catolicismo caducaram? Simples: porque são intrinsecamente ineficientes e fadados à derrota, apenas a Igreja é bem mais forte que o marxismo por não ser materialista, e com isso, não frustrar de forma clara as promessas que faz.Mas não se engane, a Igreja também não aguentaria uma reforma profunda.No dia em que ela autorizar aborto, anticoncepcionais, casamento de padres, ordenação de mulheres, dentre outras coisas, ela terminará de afundar definivamente.
É triste para o bilhão de seres humanos que é católico, mas sua instituição tem apenas duas saídas: ou continua como está e morre lentamente sufocada pelo avanço da história, ou tenta se reformar e comete um haraquiri rápido e definitivo.Assim como o bolchevismo, ela traz em si um gene cancerígeno que mais cedo ou mais tarde se manifesta e mata seu portador.Sua morte é apenas uma questão de tempo.
E já que todo mundo tá mesmo dando palpite, lá vai o meu: o próximo papa será o nigeriano Francis Arinze, o único capaz de dar alguma evidência a plano mundial a um cargo cuja importância está cada vez mais esvaziada.E o mais importante: é conservador.Não será ele quem derrubará a Basílicade São Pedro.
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