sábado, outubro 01, 2005

Sempre arrebenta do lado mais fraco (o do cidadão)


Não canso de me surpreender com as saídas pela tangente cada vez mais engenhosas que nossos governantes arrumam para fingir que estão resolvendo problemas que não conseguem, ou não têm interesse de resolver. Como já não bastasse a nefanda campanha do desarmamento, o secretário de segurança do Piauí resolveu estabelecer uma espécie de "toque de recolher". A partir de agora, todos os estabelecimentos, até mesmo lanchonetes, fecharão às duas da manhã.


O raciocínio é o seguinte: o governo é incompetente para vigiar as ruas e logradouros, e não consegue prender os bandidos. A saída que ele adota para aplacar o clamor da sociedade contra a violência crescente então é... Prender o cidadão de bem! Restringindo a circulação das pessoas honestas, o secretário tenciona diminuir a quantidade de assaltos e assassinatos praticados nas ruas madrugadas afora. Só gostaria de saber se os bandidos vão deixar de "faturar" simplesmente porque suas vítimas não estão mais circulando nas ruas. Como diz o provérbio árabe: "se Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé". Se o bandido não tem mais a vítima à sua mercê na rua, ele vai procurá-la aonde ela está: em casa!


Conclusão lógica 1: os assaltos no meio da rua vão diminuir, mas os arrombamentos vão aumentar. E não pára por aí: além de acuar os cidadãos em casa, o governo ainda quer tirar os meios deles se defenderem em seus domicílios. O bandido ganha um "estímulo" do poder público a ir à casa das pessoas para tomar-lhes os bens (afinal, eles não são preguiçosos a ponto de deixar o crime apenas porque suas vítimas não estão mais tão disponíveis), e o governo ainda acena com a possibilidade de tirar de sua vítima os instrumentos de autodefesa. É nessas horas que eu penso se governo e bandidos não estão todos no mesmo barco.


Conclusão lógica 2: Se antes o cidadão perdia apenas sua carteira e seu celular sendo assaltado no meio da rua, agora perderá, ainda, eletrodomésticos, jóias e outros bens de valor que são guardados em casa, e muito provavelmente a integridade física e sexual. Sendo assaltado na rua, além de me levarem menos coisas, pelo menos não vou ter que gastar dinheiro (que dinheiro, se eles levaram tudo?) para consertar portas e fechaduras arrombadas. É a teoria da multiplicação dos prejuízos.


Vão por mim: as melhores saídas para o Brasil são Cumbica e Galeão.


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