Por que eles não gostam do Sarney?
Confesso que cada vez mais a cena política brasileira me parece um hospital psiquiátrico, dada a esquizofrenia e confusão mental das principais forças do cenário. A dita “direita” sofre de males como cleptomania e dupla personalidade. Já a esquerda, além da esquizofrenia que sempre lhe foi característica, ainda sofre de um problema sério de falta de identidade. Parece não saber quem é, nem quem são seus protetores ou inimigos. Talvez esses sejam sintomas típicos da esquizofrenia, mas como entendo tanto de psiquiatria quanto Marx entendia de economia, deixemos esses detalhes para lá.
Um dia desses lá pelo interior, entre uma dose de cachaça e outra, estive pensando em quais foram os governantes brasileiros que mais próximos chegaram do ideal esquerdista, para tirar a limpo essa história que eles contam de que o Brasil nunca teve governos de esquerda. Que eles enaltecem o Vargas, não é novidade. O que nada mais é que uma demonstração cabal da Síndrome de Estocolmo: Vargas foi um ditador fascista que perseguiu e matou muitos comunistas (chega a ser engraçado ver esquerdistas enaltecendo Vargas e chorando por Olga Benário. Ou eles são falsos na bajulação, ou choram lágrimas de crocodilo, ou são doentes mentais mesmo). JK também é visto como um grande estadista pela galera canhota. Logo o homem que trouxe as multinacionais que eles querem ver banidas do país. A essa altura o álcool me subia à cabeça e eu não entendia mais nada com coisa nenhuma.
Até que me lembrei do José de Ribamar, vulgo Sarney, aquele homem parvo, com ridícula tintura acaju no cabelo e um inglês de matar de vergonha qualquer estudante de primeira época do Wizard. As esquerdas dizem que ele foi um oligarca que governou para as elites. Eu era muito pequeno naquela época, e estava muito ocupado decorando nomes de seriados japoneses para prestar atenção nas reviravoltas do Plano Cruzado. Fui dar uma lida em revistas da época e descobri alguns fatos interessantes.
Uma das bandeiras que a esquerda sempre fezquestão de brandir foi a do calote nas dívidas interna e externa. A única moratória da história moderna do país foi realizada por... José Sarney! Outra característica dos esquerdistas é ter ódio dos empresários e querer persegui-los de todas as formas. Pois descobri que nenhum governo perseguiu tanto os empresários quanto o de Sarney: tabelou e congelou preços e juros bancários não apenas uma vez e chegou a extinguir a correção monetária. Vários empresários foram presos por desobedecer os tabelamentos e por não vender seus produtos aos preços vis estabelecidos pelo governo. Era uma época em que todo dono de empresa era visto como um criminoso em potencial. Do jeito que as esquerdas gostam.
Para entrar numa passeata do PSOL, você precisa ser contra a abertura comercial e defender as reservas de mercado para “proteger” a indústria nacional. Sarney, herói incompreendido dos espectros vermelhos da política, foi ardoroso mantenedor da reserva de mercado para a informática, além de manter e reforçar os bancos estaduais que, quebrados pela corrupção e má gestão, deveriam ter falido muito antes do governo Collor. Se àquela época se falasse de Alca para Sarney, ele provavelmente reagiria irado, de cocar na cabeça e tacape em punho, invocando os espíritos na dança da guerra dos índios tabajaras.
Perseguição a empresários, protecionismo comercial, moratória... Algumas das bandeiras mais caras à esquerda nacional foram brandidas bravamente por José Sarney. E como os vemelhinhos tupiniquins tratam o ex-presidente? A pedradas, considerando o governante mais esquerdista da história do Brasil um pulha que governou para os interesses das elites nacionais e do grande capital internacional (falam isso de Sarney, que praticamente inviabilizou as joint-ventures de capital nacional e estrageiro, é burrice, patifaria, ou as duas coisas juntas). O que me leva a concluir que esse povinho é demente ou ingrato. Uma pena que quando tenha chegado ao final do raciocínio, estava tão bêbado que não conseguia sequer segurar meu copo, que dirá fazer uma opção entre a demência ou a ingratidão. Fico com a embriaguez mesmo. A etílica ou a ideológica, não faz muita diferença mesmo...
<< Home