quinta-feira, novembro 08, 2007

Pelo direito à militância

Desde que iniciou sua autodenominada, um bocado quixotesca e um tanto inútil cruzada contra a religião mundo afora, teístas de todos os cantos, desde os religiosos profissionais àqueles que não pisam mais do que quatro vezes na vida num templo religioso, apontam a sua militância ateísta como algo ofensivo à fé dos 95% da humanidade que têm alguma crença no metafísico. Mas estariam os religiosos ofendidos ou receosos de perder sua reserva de mercado?


Em quase todos os lugares e em quase todas as épocas, os descrentes não apenas não podiam divulgar como mesmo não podiam assumir, sob pena de perder os bens ou mesmo a vida, sua descrença. Mesmo que pudéssemos classificar esse "movimento" (que nem mesmo existe física e institucionalizadamente) como a primeira organização a fazer proselitismo ateu, qual seria o problema? Os religiosos fazem proselitismo de suas idéias há uns bons milhares de anos, inclusive de formas bastante agressivas, como cristãos e muçulmanos bem o podem dizer. Alguém há de citar os regimes marxistas, com suas perseguições religiosas e seu ateísmo de Estado, como exemplos de intolerância ateísta, mas não confundamos militando pro PT com mil-e-tanto pro PT. O que motivava os comunistas em seus crimes era a ideologia marxista, não o ateísmo, que era apenas um componente dela. E um componente teórico, já que nem mesmo a maioria dos potentados socialistas mundo afora era convictamente atéia. Vide o novel representante venezuelano da espécie, que adora usar citações e metáforas cristãs em suas diatribes. Seria algo como, por exemplo, atribuir aos times de futebol os crimes que suas torcidas organizadas cometem.


Mas excluindo os casos de conversão forçada desalentadoramente comuns na história dos grandes monoteísmos (e aqui que o digam os judeus, dessa vez como vítimas), por que é lícito, justo e lindo instituições religiosas manterem serviços missionários para disseminar sua pregação a todos aqueles a quem desejarem que ela chegue, e é desafiador e agressivo por parte dos ateus e agnósticos se portarem da mesma forma? Um crente pode tocar a campainha de minha casa às sete horas da manhã de um domingo subseqüente a uma pródiga farra sabatina com uma Bíblia debaixo do braço, instando-me a deixar as hostes do Inimigo e juntar-se ao rebanho do Senhor (talvez por uma incrível coincidência, todo crente acredita que a sua confissão é a única eleita por um Deus que pretensamente teria criado um universo de bilhões de anos-luz de raio), mas um ateu não pode bater à porta da casa de uma família religiosa trazendo consigo livros de Dawkins, Sagan ou Dennet e pedir uma chance para convencê-lo de que tudo que existe é matéria e energia, nem que seja para ouvir um educado “não, obrigado, mas nós já temos nossas crenças, não estamos dispostos a ouvi-lo”, ou mesmo uma desculpa esfarrapada como “infelizmente, não será possível, pois estamos indo visitar a vovó no asilo nesse exato instante”?


No que me toca, já fui católico e hoje sou um descrente (o que não é sinônimo de ateu, reparem bem), e nos primórdios dessas duas fases também senti vontade de bradar ao mundo inteiro que havia uma verdade absoluta que precisava ser propagada a todo ser pensante. Mas depois você amadurece e deixa isso pra lá. Muito provavelmente a iniciativa de Dawkins resultará em nada. Convencer alguém de uma negativa, afinal, não é tarefa das mais fáceis, e nisso os crentes podem se confortar, têm uma considerável e insuperável vantagem. Mas será que aq ueles que desejam fazê-lo não têm o direito de fazê-lo sem serem acusados de deflagrar uma guerra contra a absoluta maioria dos macacos humanos que crêem no inefável e no sobrenatural? Ainda não aprendemos com todo o sofrimento e sangue derramado por conta de divergências de opinião?


Sim, crentes e descrentes, todas essas suas convicções arraigadas a seus seres como caranguejos nas rochas tentando resistir à maré não passam disso: opiniões. E acreditem, a vida, a saúde, a liberdade e a felicidade de vocês não dependem inapelavelmente de convencer os outros a ter as mesmas opiniões que você. Haja vista a multidão de pessoas que já enfrentou a tortura e o martírio por tentar convencer os outros de suas opiniões, o proselitismo não é lá um estilo de vida dos mais agradáveis e tranqüilos.

Marcadores: ,


Meu Profile No Orkut
Bjorn Lomborg
Instituto Millenium
Apostos
Instituto Federalista
Women On Waves
Instituto Liberal
Liberdade Econômica
NovoMetal
Mises Institute
Adam Smith Institute
Wunderblogs
Escola Sem Partido
Diogo Mainardi
Ateus.Net
Aventura das Partí­culas
Sociedade da Terra Redonda
Projeto Ockham
In Memoriam (Fotolog)
CocaDaBoa

O Pequeno Burguês
A Desjanela Dela
Alessandra Souza
Alexandre Soares Silva
Blog Da Santa
Breves Notas
Butija
Cris Zimermann
Canjicas
Diplomatizando
De Gustibus Non Est Disputandum
Fischer IT
FYI
Janer Cristaldo
Jesus, me Chicoteia
Leite de Pato
Liberal, Libertário, Libertino
Livre Pensamento
Meu Primeiro Blog
O Barnabé
Paulo Polzonoff
Pura Goiaba
Radical, Rebelde, Revolucionário
Rodrigo Constantino
The Tosco Way Of Life
Viajando nas Palavras

Anton Tchekhov
Boris Pasternak
Charles Baudelaire
Gabriel Garci­a Márquez
Henrik Ibsen
Pär Lagerkvist
Jack London
Nikos Kazantzakis
Oscar Wilde
Stendhal
William Somerset Maugham

Dogville
American Beauty
Dead Poets Society
A Beautiful Mind
M.A.S.H.
Crash
Once Upon A Time In America
Casablanca
Hotel Rwanda
Eternal Sunshine of a Spotless Mind
A Clockwork Orange
Gegen Die Wand
Pi
Pirates of Silicon Valley

A-Ha
After Forever
Anathema
Anno Zero
Ayreon
Black Sabbath
Emperor
Engenheiros do Hawaii
Helloween
Iced Earth
Iron Maiden
Judas Priest
Lacrimosa
Lacuna Coil
Limbonic Art
Moonspell
Pink Floyd
Scorpions
Stratovarius
The Dresden Dolls
The Sins Of Thy Beloved
Therion
Vintersorg

Bezerra da Silva
Carl Orff
Fágner
Falcão
Franz Liszt
Fryderik Chopin
Ludwig Von Beethoven
Raul Seixas
Richard Wagner
Sergei Prokofiev
Sergei Rachmaninov
Zé Ramalho

Ayn Rand
David Hume
Friedrich Nietzsche
Harold Bloom
José Ortega Y Gasset
Jean-Paul Sartre
John Stuart Mill


Se gostou desse blog, inclua um botão no seu site 

I support Denmark in its struggle for the freedom of speech