Será que ele era???
Nesses dias de semana santa me flagro a pensar nas circunstâncias que levaram à morte de Cristo de acordo como narradas na Bíblia.E um raciocínio inocente me levou a um questionamento perturbador: será que Pilatos era? Não, eu não sou companheiro do Luiz Mott e não acho que toda a humanidade se divida em QR's e CV's.Minha dúvida é se o prefeito da Judéia naqueles dias era mesmo tão incompetente como os Evangelhos o pintam.
Vamos à história, quer dizer, ao conto: Jesus entra em Jerusalém, cidade principal de uma província problemática, sendo aclamado Rei dos Judeus, às vésperas da maior festividade deste povo, de conotação extremamente patriótica e potencialmente explosiva numa nação dominada por estrangeiros.Pilatos com certeza foi informado de todo esse parangolé, afinal os soldados romanos deviam estar de prontidão com as proximidades de um festejo religioso com fortes tons nacionalistas como era a Páscoa.E o que ele faz?
Na qualidade de representante do poder romano na região, diante de uma afronta explícita ao Império que ele representa, Pilatos simplesmente não faz nada! De domingo até quinta-feira um homem aclamado pelo povo como Rei, ou seja, um líder em potencial de uma revolta contra Roma, fica na capital política e religiosa da província sem ser incomodado pelas autoridades romanas, e se não fossem as autoridades judaicas, esse desafio escandaloso teria passado impune! Difícil de acreditar, não?
Para não fazer julgamentos equivocados, procuro pensar como se fosse Pilatos: eu sou representante de Roma numa província problemática, e próximo a uma data nacionalista um homem entra na capital aclamado como rei pelo povo.O que eu faria? Claro que eu não deixaria esse homem solto, esperando as autoridades locais tomarem uma atitude.Por mais que elas fossem colaboracionistas, podiam perfeitamente estar mancomunadas com esse conspirador, por que não? No lugar do Pilatos bíblico eu ordenaria as tropas ficarem de prontidão para qualquer motim que se organizasse.E depois de passada a euforia popular, mandaria prender imediatamente esse homem que afronta o poder que eu represento.Afinal, meu pescoço também estava em jogo: o Imperador poderia me despojar de meus bens e minha vida em caso de fracasso na condução da administração do protetorado que me foi confiado diretamente pelas mãos dele.
Mas o Pilatos bíblico é um homem incompetente, incapaz de perceber uma afronta tão descarada a Roma! E mesmo quando as autoridades judaicas fazem o que cabia a ele fazer (preservar a estabilidade do domínio romano), ele ainda reluta, acredita que um homem aclamado como rei pelo povo não representa um perigo iminente à autoridade romana.Sinceramente, não dá para acreditar que o imperador indicaria alguém tão fraco e incompetente para administrar logo uma província tão conturbada como era a Judéia.
Por mais que me critiquem, afirmo: os evangelhos fazem das autoridades judaicas os malévolos executores da morte de Cristo para ficar em bons termos com os donos do mundo na época.Nao deu certo, mas eles tinham que tentar.Ainda mais considerando que os evangelhos foram escritos na época da diáspora, e acusar o Todo-Poderoso Império Romano para inocentar um povo perseguido era suicídio tático.Melhor seria incriminar os judeus, já escorraçados de sua terra, porque chutar vira-lata morto é bem mais inteligente do que peitar um Rotweiller vivo.
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