Tudo que é privado é melhor. Até a bandidagem
Essa recente chacina da baixada fluminense, aonde mais de 30 pessoas foram exterminadas sem motivo aparente, ressuscitou em mim algumas memórias e reflexões. A memória foi uma pensata de um tio meu, saudoso do regime militar porque, de acordo com ele, “não havia essa bandidagem toda que se vê hoje por aí “. Como discussões em família, ainda mais com um tio vetusto, não levam a nada, fiquei calado. Mas os fatos das últimas semanas reforçaram ainda mais a minha convicção de que não há nada que o Estado possa fazer que a iniciativa privada não faça melhor. Até mesmo o banditismo.
Não é só meu tio que acha que ditaduras inibem a criminalidade. Demonstrando o fascínio que a esquerda tem por facínoras, José Arbex Júnior publicou recentemente um artigo na Caros Amigos (da onça) em que fala maravilhas da Síria, citando a baixa criminalidade como exemplo. Pensemos: o que bandidos fazem? Seqüestram, roubam, furtam, ameaçam, estupram, torturam, matam... Num regime ditatorial, a própria máquina estatal cuida de fazer tudo isso, e os bandidos comuns desaparecem por não resistirem à concorrência predatória do Estado, que é mais bem aparelhado e tem a lei a seu favor.
Voltemos à chacina da baixada fluminense: o que diferenciou aquele massacre dos demais? O fato de as vítimas pagarem salário, plano de saúde e previdência social para seus algozes. E aí reside o outro motivo pelo qual a bandidagem privada é menos lesiva ao cidadão do que a pública: o bandido freelancer conta apenas consigo próprio, e tem a lei e todo um aparato estatal contra si.O risco de sua atividade é bem maior, e por isso ele não se arrisca em crimes sem motivo, como essas chacinas (todas das quais eu me lembro foram promovidas por policiais): como o risco existe e o ônus das operações recai apenas sobre eles próprios, bandidos comuns só se arriscam em uma empreitada se houver um objetivo específico: tomar algo, pedir resgate, matar alguém que o compromete ou ameaça...
Já o bandido estatal é financiado pelas suas presas. Está sob a guarida da lei, e age em nome dela. Faz parte da instituição que opera contra o bandido autônomo. Pode agir sem objetivo específico, apenas para exercitar sua crueldade, como fizeram os criminosos da Candelária, Vigário Geral e Baixada Fluminense. Todo o custo de suas atividades criminosas é pago pelas próprias vítimas. Desse jeito não tem bandidagem particular que sobreviva. E quanto mais forte é o Estado, menos sujeitos a punições e mais livres para agir são os bandidos infiltrados em suas fileiras, até chegar ao extremo numa ditadura, que extingue o banditismo privado para institucionalizar de uma vez o público, bem mais lesivo à sociedade.
Esse é um dos motivos pelos quais eu sou a favor da democracia. Mesmo que ela seja inepta no combate à criminalidade, fico aliviado por saber que os criminosos não estão recebendo nada além daquilo que me tomam. Que não pago seu salário, plano de saúde e previdência social.
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