quarta-feira, julho 06, 2005

Alerta: Pós-adolescente com crise existencial logo abaixo


Essa é só a primeira confusão que me atormenta: que rótulo sou eu? Faz tanto tempo que me encaixo na denominação “adolescente” que começo a me sentir desconfortável com o fato de ela começar a ficar obsoleta para mim. Como não acredito que alguém vá dormir adolescente e acorde adulto, prefiro me localizar numa faixa de transição, assim como entre as densas forestas e os áridos desertos existem faixas transitórias de cerrados e savanas.

A segunda é ainda mais pessoal e não creio que tenha interesse para vocês: de quem eu gosto? Estou dividido entre duas mulheres, talvez uma terceira e sem saber ao certo o que sinto por uma quarta, com quem sequer falo há meses. Sei que o transcorrer do tempo me impele ao ponto em que terei de tomar uma decisão, e não sei qual seria a melhor para mim e para as outras pessoas envolvidas. Nem mesmo tenho certeza se tomar uma decisão é mesmo a melhor alternativa. Talvez isso seja canalhice afetiva, mas a duradoura amizade com Lorde Henry Wotton me habituou demais à idéia de amar o amor mais do que a pessoa amada para que eu possa rever meus conceitos de forma tão abrupta.

A terceira acredito ser normal para quem tem vinte e um anos: que quero eu fazer? No final desse ano, me formo em Direito, o curso dos sonhos da maioria que deseja tal diploma como forma de obter uma sinecura no funcionalismo público, cheia de vantagens e com pouco trabalho a fazer. Mas há tempos me desiludi com o curso: se o levo à frente, é apenas por não saber o que fazer. Gosto um pouco de praticamente tudo, e poderia acompanhar qualquer curso de graduação, seja filosofia ou matemática. Mas na hora de decidir qual dos meus gostos transformar em parte integrante da vida pelas próximas décadas é que vem a paralisia. Se hoje estou encantado com física de partículas, amanhã estarei com biologia evolutiva, depois com história contemporânea, na semana seguinte com economia, na posterior com geopolítica, no mês seguinte com matemática pura. Ia mencionar ainda que moro num lugar aonde as oportunidade são quase inexistentes, mas isso é mero detalhe.

Como se não bastassem as dúvidas prementes, estas que exigem soluções para breve, ainda me deixo atormentar por outras com as quais sequer estou face a face. Enquanto era cristão, não tinha dúvidas de que queria perpetuar a espécie. Na fase turbilhonante que se segue ao abandono de uma certeza há tempos cultivada, somos levados a repensar (o que se torna quase sinônimo de renegar) nossas concepções anteriores, e reneguei a paternidade como opção dos mais fracos que não tinham outra alternativa que não esta para deixar marcada sua passagem pelo mundo. Hoje volto a repensá-la; me assusta o fato de que por falta de descendentes, todo esse modelo de civilização que tanto admiro, laico, racional, tolerante, epicurista, venha a ruir e que uma nova Idade das Trevas despenque sobre esta jóia lapidada com tanto esmero no decorrer dos séculos chamada civilização ocidental. Por outro lado, que tenho eu a ver com isso? Acaso poderei impedir a queda após a minha morte? Poderia fazê-lo através da paternidade? Não é nada improvável que minha prole venha a rejeitar tudo aquilo que eu estimo. O que pode um ser humano solitário contra a torrente caudalosa da história? Nada. Mas dá vontade de pelo menos tentar alguma coisa, para não ficar com a consciência pesada e não ser cobrado pelas gerações futuras pela inação diante do perigo.

Até que finalmente me tranqüilizo um pouco: essa civilização superior, moldada pelos depravados e hedonistas gregos, consolidada pelos igualmente depravados e hedonistas romanos e resgatada pelos também depravados e hedonistas renascentistas já demonstrou sua força nesses quase três mil anos de história. O cristianismo não conseguiu destruí-la, o islã também não o conseguirá. Assim como o primeiro nela se diluiu e acrescentou algumas nuances que deixaram o tecido um pouco mais rico, talvez aconteça o mesmo agora.

Tudo isso para chegar no ponto crucial: como está dito no título do blog, há tempos larguei as áridas, mas razoavelmente seguras, praias da certeza para navegar no interessante oceano da dúvida. Há cinco anos estou nele, e dele aprendi a extrair minha sobrevivência, de forma muito mais agradável e interessante do que na época em que estava em terra firme. O problema é que as águas nas quais singrava, outrora calmas, hoje se revoltam em prenúncio de borrasca, me atiram de um lado para outro, de tal forma que não consigo mais direcionar meu rumo. E ante prenúncios tempestuosos de tempos sombrios, passo a ansiar pela visão de uma costa. Eu, que de todas as costas de certeza tenho fugido como o diabo da cruz me vejo cada vez mais na contingência de ser obrigado a ancorar em algum porto. Em qual deles? Uma religião? Nunca! Uma ideologia? Tampouco. Um emprego estável? Talvez. Uma família? Não tenho certeza. O fato é que após tantos anos acostumado a ter sempre vastidões à vista para onde quer que voltasse o olhar, temo pela possibilidade de ver o alcance de minha visão limitado por acidentes geográficos de certezas estáveis. Seria o caso de correr o risco de ancorar em mar aberto, ainda que correndo riscos, e esperar a calmaria? Ou reforçar a estrutura do barco para que ele possa navegar ainda que o oceano se encrespe? Ou deveria mesmo ancorar em algum porto e ter a infinitude à vista apenas da praia, pousando nela apenas os olhos cansados da saudade de quem não é mais capaz de nela sobreviver, como o velho marinheiro remói seus dias de glória ante a visão das velas que cruzam o limite da percepção limitada dos que vivem em terra firme?

Vá para o diabo esse post, que começou bobo e terminou tão hermético que ninguém conseguirá entender coisa alguma. De todo modo não há razões para pânico: não pretendo virar o barco e desistir da viagem. Resistirei ao que quer que aconteça. Posso parecer constituído de matéria frágil, mas tenho a tenacidade de temperamento típica dos que sobreviveram a algumas borrascas no mar de dúvidas, e talvez por falta de amor-próprio pouco temem o que lhes venha a acontecer.


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