domingo, maio 22, 2005

Gosto literário se discute

Não se iludam: quando um blog começa a postar correntes e questionários, é sinal inequívoco de que está em franca decadência. Advertência feita, aí vai outro quiz literário, via LLL . Demorei tanto tempo para fazê-lo que não vou deixá-lo mofando no HD, ainda que ninguém dê bola, lá vai:

1 - Qual o livro que você mais relê?


O Lobo do Mar foi o que eu mais reli, por ter representado um divisor de águas na minha vida.


2 - E que livro relido ficou melhor?


Doutor Jivago. Quando li a primeira vez, gostei muito, mas senti que algo havia me escapado, uma leitura mais atenta. Na segunda leitura, virou um dos meus preferidos.


3 - Dê exemplo de livros injustiçados que, apesar de muito bons, nunca foram devidamente louvados.


Acho que O Lobo Do Mar, O Cristo Recucificado, de Kazantzakis, Horizonte Perdido, de James Hilton (esse eu considero o mais injustiçado de todos).


4 - Cite um livro decepcionante, que frustrou suas melhores expectativas?

Retrato do Artista Quando Jovem, de Joyce. Reconheço o talento lingüistico e imaginativo dele, mas dava pra ter escrito um livro menos chato?


5 - E um livro surpreendente, isto é, bom e pelo qual você não dava nada?


Horizonte Perdido. Esperava um romance de aventura bem levinho e terminou se saindo um livraço.


6 - Há cenas marcantes na boa literatura. Cite duas de sua antologia pessoal.


A cena final de Doutor Jivago, com o eco ao fundo da frase de Aleksandr Blok: "Somos os filhos dos anos terríveis da Rússia". E a cena final de Pais e Filhos, de Turgueniev, que apesar de não ser um dos meus livros preferidos, ficou marcada para sempre.


7 - Há personagens tão fortes na literatura que ganham vida própria. Cite os que tiveram esta força na sua imaginação de leitor?


Foram muitos, mas Heathcliff merece uma menção especial. Não fosse por ele, Wuthering Heights não seria nada. O livro depende dele, gira em torno dele, o cara tomou até mesmo a dimensão literária dos outros personagens da história. O homem sádico em sua perfeição. Lorde Henry Wotton também não pode ser esquecido, é outro que faz o livro ao qual pertence ter valor. Um requintado e idiossincrático apologista da beleza e do vício. A frase: "é melhor ser belo do que ser bom, mas é melhor ser bom do que ser feio", é uma das minhas preferidas.


8 - Qual o livro bom que lhe fez mal, de tão perturbador?


O Processo me fez perder o fôlego um sem-número de vezes durante a leitura. Se Kafka não fosse sufocante, não teria graça nenhuma ler seus livros.


9 - E qual o que lhe deu mais prazer e alegria


Servidão Humana, de Somerset Maugham. O protagonista se parece tanto comigo que parecia que o livro havia sido escrito especialmente para mim. Penso que não há alegria maior para um leitor do que se identificar completamente com a história que lê.


10 - E o que mais lhe fez pensar?


Mais uma vez terei de citá-lo: O Lobo do Mar. Era outra pessoa após tê-lo lido.


11 - Cite...


a) um livro meio chato, mas bom


Irmãos Karamazov cansa pelo tamanho e pelos volteios e paradas que a história às vezes dá. Mas é um livro que não pode deixar de ser lido.


b) um livro que você acha que deve ser muito bom mas que jamais leu


As obras de Samuel Beckett, Bernard Shaw e Arthur Miller, e outras peças em geral, acho que li muito menos dramaturgia do que deveria. O Som e a Fúria, de Faulkner, Os "Trópicos" de Henry Miller, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Os livros do Pär Largekvist, dentre outros livros dos quais me falam maravilhas.


c) um livro que não é um grande livro, apenas simpático


Um Socialista Anti-Social, única obra de Bernard Shaw que li, e ainda é prosa. É um livro bem leve e bobinho às vezes, mas uma mulher ardilosa e manipuladora como Agatha Wiley faz qualquer livro valer a pena.


d) um livro difícil, mas indispensável


Hamlet. Exige concentração total, mas é uma fonte inesgotável de questionamentos. Todas as dúvidas foram suscitadas nessa peça.


e) um livro que começa muito bem e se perde


Mãe, de Gorki. No começo ele ainda resiste, mas no final termina descambando para o panfletarismo explícito. Mas não deixa de ter seu valor.


f) um livro que começa mal e se encontra


O Jogador, de Dostoievski, começa bem chato e depois engrena, terminando à beira do clímax e deixando aquela ânsia que antecede o final, quando a gente sente as páginas faltando nos dedos, represada a ponto de explodir.


g) um livro que valha apenas por uma cena ou por um personagem, ainda que secundário


Pais e Filhos me conquistou pela última cena. E Lorde Henry Wotton faz O Retrato de Dorian Gray ser o grande livro que é.


12 - Qual o início de livro mais arrebatador para você?


Nunca se irá escrever um começo de livro melhor que o de Lolita. Podemos captar o espírito da obra inteira apenas lendo o primeiro parágrafo.


13 - De que livro você mudaria o final? Como?


O Amante de Lady Chatterley é bom, a história vai ganhando tensão à medida que se dirige para o final, mas termina um tanto trivial demais. Talvez não ficasse melhor com um desfecho trágico, mas a impressão que tive é que Lawrence broxou na reta final e não teve fôlego para bolar um desenlace mais empolgante.


14 - Que livros ficariam muitos melhores se um pedaço fosse suprimido?


Os Frutos Selvagens da Sibéria, de Yevtuchenko, é legalzinho, mas um capítulo inteiro sobre Salvador Allende não tem conexão nenhuma com o restante da história. Há 105% de chance de ter sido escrito apenas para agradar a censura do regime comunista e facilitar a publicação.


15 - Que livros que não têm nada a ver com você, até contrariam algumas de suas convicções e que ainda assim você considera bons ou recomendáveis?


Os de Dostoievski em geral. O homem podia ser o caretão reacionário e moralista que fosse, mas entendia de ficção como pouquíssimos.


16 - A literatura contemporânea é muito criticada. Cite livro (s), escrito (s) nos últimos dez anos, aqui ou no mundo, que mereça (m) a honraria de clássico (s) ou obra-prima (s).


Se eu lesse livros contemporâneos poderia responder essa pergunta...


17 - Por falar em clássicos. Para que clássico brasileiro de qualquer época você escreveria um prefácio daqueles que incitam a leitura?


Nenhum dos romances clássicos brasileiros que eu li marcou pra valer. Mas escreveria o prefácio de uma coletânea de contos do Machado com todo prazer.


18 - Cite um vício literário que considere abominável.


Descrições minuciosas de detalhes irrelevantes para o transcorrer da história, um vício que faz os romances Realistas perderem parte de seu encanto. Não sou contra descrições bem trabalhadas, mas muitos autores exageram nelas apenas para mostrar que sabem escrever ou que conhecem a época que estão retratando.


19 - E qual a virtude que mais preza na boa literatura?


A boa literatura tem tantas virtudes que não saberia citar uma especificamente.


20 - De que livro você mais tirou lições para seu ofício?


No dia que eu tiver um ofício poderei responder.


21 - E que a frase ou verso que escolheria como epígrafe desta entrevista?


"Não existe livro moral, nem imoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo" Oscar Wilde


Meu Profile No Orkut
Bjorn Lomborg
Instituto Millenium
Apostos
Instituto Federalista
Women On Waves
Instituto Liberal
Liberdade Econômica
NovoMetal
Mises Institute
Adam Smith Institute
Wunderblogs
Escola Sem Partido
Diogo Mainardi
Ateus.Net
Aventura das Partí­culas
Sociedade da Terra Redonda
Projeto Ockham
In Memoriam (Fotolog)
CocaDaBoa

O Pequeno Burguês
A Desjanela Dela
Alessandra Souza
Alexandre Soares Silva
Blog Da Santa
Breves Notas
Butija
Cris Zimermann
Canjicas
Diplomatizando
De Gustibus Non Est Disputandum
Fischer IT
FYI
Janer Cristaldo
Jesus, me Chicoteia
Leite de Pato
Liberal, Libertário, Libertino
Livre Pensamento
Meu Primeiro Blog
O Barnabé
Paulo Polzonoff
Pura Goiaba
Radical, Rebelde, Revolucionário
Rodrigo Constantino
The Tosco Way Of Life
Viajando nas Palavras

Anton Tchekhov
Boris Pasternak
Charles Baudelaire
Gabriel Garci­a Márquez
Henrik Ibsen
Pär Lagerkvist
Jack London
Nikos Kazantzakis
Oscar Wilde
Stendhal
William Somerset Maugham

Dogville
American Beauty
Dead Poets Society
A Beautiful Mind
M.A.S.H.
Crash
Once Upon A Time In America
Casablanca
Hotel Rwanda
Eternal Sunshine of a Spotless Mind
A Clockwork Orange
Gegen Die Wand
Pi
Pirates of Silicon Valley

A-Ha
After Forever
Anathema
Anno Zero
Ayreon
Black Sabbath
Emperor
Engenheiros do Hawaii
Helloween
Iced Earth
Iron Maiden
Judas Priest
Lacrimosa
Lacuna Coil
Limbonic Art
Moonspell
Pink Floyd
Scorpions
Stratovarius
The Dresden Dolls
The Sins Of Thy Beloved
Therion
Vintersorg

Bezerra da Silva
Carl Orff
Fágner
Falcão
Franz Liszt
Fryderik Chopin
Ludwig Von Beethoven
Raul Seixas
Richard Wagner
Sergei Prokofiev
Sergei Rachmaninov
Zé Ramalho

Ayn Rand
David Hume
Friedrich Nietzsche
Harold Bloom
José Ortega Y Gasset
Jean-Paul Sartre
John Stuart Mill


Se gostou desse blog, inclua um botão no seu site 

I support Denmark in its struggle for the freedom of speech