TV Assembléia: sou a favor!
A Assembléia Legislativa do Estado do Piauí está em vias de criar o seu próprio canal de TV, depois de muito choramingar por recursos extras. Os parlamentares endossam a medida, dizendo que com ela a assembléia estará “mais próxima do povo”, e que com ela o eleitor conseguirá controlar de perto a atuação do picareta que elegeu. Ledo engano. Num estado aonde quase metade da população mal escreve um bilhete de três linhas, são poucas as pessoas capazes de compreender alguma coisa do que seja dito no plenário. E mesmo que tivessem capacidade, faltaria a vontade. O projeto tem o claro objetivo de arrumar ainda mais emprego para apaniguados que jamais irão trabalhar, como o presidente da casa reconheceu, em tom de deboche diante das câmeras de TV em horário nobre, que se todos os funcionários lotados na assembléia aparecessem para trabalhar no mesmo dia, o prédio ruiria por sua estrutura não suportar a quantidade.
Dito isso, fica fácil dizer que o projeto não atende a nenhum interesse popular e se destina apenas ao empreguismo rasteiro, e mais fácil ainda é ficar contra. Não é o meu caso. Sou completamente a favor da criação da TV Assembléia. Não por seus objetivos edificantes, que inexistem. Mas pelas boas doses de humor explícito que certamente nos irá proporcionar.
Quem duvida de mim que assista a TV Câmara ou a TV Senado, congêneres nacionais do embrionário projeto piauiense. A começar pelas esdrúxulas combinações de roupas dos parlamentares, é diversão garantida. Desato em gargalhadas convulsivas ao ver um deputado com a cara amarfanhada pelo sono discursando com voz de quem bebeu uma garrafa de uísque e de tal forma vestido que você se pergunta se o emérito representante do povo se lembrou de tirar o pijama antes de vir para a sessão. Sou capaz de jurar, se a câmera focasse os pés do sujeito, que ele ainda está de pantufas. A parte do vestuário, além de uma aula para estilitas do que não deve ser feito, rende risadas a fundo mais perdido do que empréstimo de banco estadual, destaque a ser dado para as gravatas de bolinhas e as combinações de ternos claros com calças xadrez em tons escuros. Um freak show da melhor qualidade, I assure you. Mas confesso que às vezes sinto raiva: como é que eles recebem auxílio-paletó e ainda se vestem de maneira tão grotesca? Isso deveria ser motivo para o fim do auxílio de 70% dos parlamentares.
Mas existe algo melhor do que caçoar do gosto estilístico duvidoso: ver cenas de agressões verbais, quando não de pugilato explícito, é um bálsamo para as pessoas comuns, tão acostumadas a crer que a elite é tão diferente delas próprias. Nada vai elevar mais a auto-estima do trabalhador cedo da manhã, diante de uma média com pão dormido, do que ver os digníssimos legisladores falando coisas como: “prevaricador é a sua mãe, filho da puta!”. Apenas uma mostra do que estamos perdendo: essa semana, numa reunião da comissão de constituição e justiça da assembléia daqui, o deputado Roncalli Paulo (PSDB) lia uma coisa qualquer quando teve sua honestidade posta em dúvida por Olavo Rebelo (PT). O parlamentar tucano não pensou duas vezes: voou da mesa e agarrou o petista pelo colarinho, só não indo mais longe por intervenção dos que estavam em volta. Ano passado, Gustavo Medeiros (PFL) e João de Deus (PT), dando uma pacata entrevista ao vivo à hora do almoço, trocaram mútuas acusações. “Traidor do povo!”, esganiçava o pefelista. O petista não deixou por menos e insinuou que seu oponente havia enriquecido por meios pouco honestos. E o povão, derrubando o PF antes de voltar ao trabalho, delirava. Programa do Ratinho de 8 da manhã às 6 da tarde, se o projeto sair mesmo do papel.
E ainda querem privar o povo de uma diversão como essa! Panis et Circenses, meus caros, da Roma Antiga aos dias de hoje, é a real!
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