sábado, novembro 05, 2005

Anti o quê?


Não quero entrar na questão da legitimidade ou da razão de ser das manifestações anti-tudo-isso-que-está-aí-e-mais-o-que-vier-pela-frente. Gostaria apenas de questionar seus entusiastas sobre a utilidade delas.


Há anos que elas se repetem incessantemente, e até agora qual o resultado efetivo que elas trouxeram em prol das causas que seus participantes defendem? Até onde eu sei, nada. A política externa americana só tem endurecido e Bush ganhou de forma inconteste um segundo mandato. A Alca continua caminhando, no mesmo passo de tartaruga de sempre, e vários países latino-americanos estão tentanto fechar acordos bilaterais de livre-comércio com os Estados Unidos. A "globalização" esta entidade diáfana que eu nunca compreendi bem a razão de merecer tanta ojeriza, prossegue de vento em popa. Então o resultado dessas manifestações é nulo?


Seria exagero responder que sim. Pois há os beneficiados e os prejudicados com esses movimentos anti-(...). Os beneficiados são os líderes dos movimentos, que têm a sua boa-vida com viagens ao redor do mundo em bons hotéis, enquanto a baixa militância acampa em barracas, toma pancada da polícia e sustenta o dolce far niente dos líderes, que ainda posam de grandes beneméritos da humanidade. Ganham também os governantes demagógicos, que usam esses idiotas úteis como massa de manobra para se manterem no poder e exalar popularidade, posando de grandes estadistas quando não passam de caudilhos oportunistas, como tantos que já se viram pela América Latina, e que parecem ser uma nefasta tradição deste sofrido subcontinente.


Os prejudicados, esses são ainda mais fáceis de serem identificados. Primariamente, os donos dos estabelecimentos depredados pela ação dos vândalos-militantes, que perdem um monte de dinheiro sem expectativa de serem ressarcidos de qualquer forma. Ah, mas eu me esqueço que para os anti-(...) qualquer empresário é um miserável explorador que tem que morrer no paredón. Só que os empresários lesados pelas depredações cortam custos, e qual a maneira mais fácil e rápida de cortar custos? Demitir funcionários. Os militantes vão embora assim que a Cúpula terminar, e deixarão para trás algumas centenas de trabalhadores argentinos desempregados, sem ter como pagar as contas e sustentar suas famílias. Para eles, a situação é ainda mais calamitosa.


E perde a coletividade como um todo, porque sempre o patrimônio público é depredado, e a mobilização do aparato policial é totalmente custeada pelo contribuinte, sejam os moradores dos edifícios chiques da Recoleta ou os habitantes das favelas miseráveis de Buenos Aires. Agora imaginem tais prejuízos num país cuja infra-estrutura está se deteriorando a olhos vistos, que não tem dinheiro sequer para dar uma demão de tinta nos edifícios públicos, e onde, de acordo com o Smart, o aeroporto da capital é deprimente e as ruas estão sujas. Isso na capital! Fosse num país desenvolvido seria igualmente condenável, mas ao menos a população não sentiria tanto o baque. Numa nação que precisa desesperadamente de cada migalha como a Argentina, esse tipo de ação é ainda mais nefasto.


E antes que me chamem de fascista, não sou contra manifestações. Não veria problema se os manifestantes empunhassem cartazes, gritassem algumas palavras de ordem e depois se dispersassem. Mas quem vai para um protesto com pedras e coquetéis Molotov nas mãos não passa de um baderneiro. E movimentos que incentivam esse tipo de comportamento não passam de associações de baderna organizada.


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