Macondo: nossa casa
Numa das muitas passagens e momentos brilhantes desse monumento literário chamado Cem Anos de Solidão, a matriarca da família Buendía, Úrsula, ao ver as diversas gerações de sua família sucedendo umas às outras, lamenta a convicção cada vez mais forte que a história anda em círculos. Além dos nomes se repetirem, as personalidades de seus portadores também são em muito semelhantes, e os mesmos eventos se sucedem, ainda que travestidos em roupagens diferentes.
Ao olhar para a história da América Latina percebi o genial insight de Gabriel García Márquez. Com efêmeras e pontuais exceções, a história latino-americana parece uma molécula de benzeno: dá voltas incansáveis e infindas em torno de si mesma. A independência, movida pelas lutas entre elites aristocráticas e caudilhos populistas, criou esse padrão político do qual os países teimam em não escapar. Aqui e ali aparece uma exceção, mas em termos gerais o padrão é esse.
Quando vejo o prestígio e a popularidade de Hugo Chávez em ascensão na América Latina, cada vez mais me convenço de que Úrsula é melhor que muitos ditos "intelectuais" que vejo por aí. Onde a mídia esquerdista diz haver um líder inovador e progressista, eu só consigo enxergar um caudilho populista a la Vargas e Perón, desses que infestam periodicamente nosso subcontinente há décadas. E me sinto tentado a pensar que a América Latina está fadada a ser eternamente governada por uma diarquia de Aurelianos e Josés Arcadios.
Será que também terminaremos devorados pelas formigas?
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