Coincidências políticas latino-americanas
Este é um ano de muitas eleições na América Latina. Peru, Colômbia, Costa Rica e México já elegeram seus presidentes. Brasil, Equador e Nicarágua o farão ainda esse ano. Desconsideremos aquela democracia de araque em que o governo elege 100% dos parlamentares, apenas 25% do povo vota e o presidente ora diz que pretende ficar até 2013, ora até 2031.
Em abril, os peruanos foram às urnas. Depois de passar meses isolado na frente, o candidato Ollanta Humala, claramente vinculado a Hugo Chávez, perdeu as eleições. Os peruanos preferiram eleger um ex-presidente que fez um governo desastroso e corrupto do que se transformar em mais uma vítima do imperialismo venezuelano.
A eleição colombiana em maio transcorreu sem surpresas. Com altos índices de aprovação devido ao crescimento econômico e à diminuição da violência, Álvaro Uribe se reelege com mais de 60% dos votos. Ele é um conservador abertamente anti-chavista.
O prêmio Nobel da paz de 1987, Oscar Arias, venceu as eleições na Costa Rica por uma pequena margem de votos. Ele defende um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos, aproximação demonizada por Chávez e seus asseclas.
No México, pela segunda vez desde o fim da ditadura do PRI, houve eleições livres. O prefeito da Cidade do México, Andrés López Obrador, populista, tem sua imagem associada ao chavismo. Ele tenta o quanto pode desvincular sua imagem do petroditador. Não deu certo, e depois de ser favorito disparado, ele perde as eleições para Rafael Calderón por uma margem estreitíssima de votos.
Nicarágua e Equador, convenhamos, são insignificantes política e economicamente, e não há indícios de que chavistas terão vida fácil nas eleições por lá. Sobra então a eleição brasileira, com certeza a mais importante do continente. Lula é aliado político de Chávez, embora acompanhe a certa distância seus delírios. Lidera as pesquisas, mas se encontra em viés de baixa, enquanto seu principal adversário vem ganhando espaço ainda antes da campanha esquentar de vez com o horário eleitoral na TV.
Não duvido que a virada espetacular do referendo do ano passado se repita. O cenário é muito parecido: o Sim liderava com folga todas as pesquisas até três meses antes da consulta. Com um detalhe: vinha fazendo uma campanha intensa havia dois anos, enquanto os partidários do Não quase não tinham espaço na mídia. Bastou começar o horário gratuito, o Não ganhar tanto espaço quanto o Sim para a virada acontecer: de 80% Sim x 20% Não para 65% Não x 35% Sim.
Caso isso aconteça, terá sido não apenas mais uma derrota política chavista. Terá sido a maior de todas, indicando que o continente repudia sua demagogia cretina e seu populismo rasteiro. A rigor, Chávez terá apenas a pobre e isolada Bolívia como aliada incondicional.
Que assim seja.
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