Série Reconstituições Históricas: E se... Rommel houvesse deposto Hitler?
Sessenta anos depois de seu término, a Segunda Guerra Mundial ainda é considerada um divisor de águas na história contemporânea. E por ser um momento crucial na história do século, nenhum período histórico foi tão vítima de “E ses”, desde a possibilidade de triunfo nazista até a hipotética não ocorrência do Dia D. Como não tem graça explorar possibilidades já exploradas, e mesmo porque discordo de muitas dessas análises, vou levantar uma que talvez seja banal, mas que, a meu ver, faria toda a diferença no pós-guerra: E se a tentativa de assassinar Hitler e a cúpula nazista em junho de 1944 tivesse logrado sucesso? O grupo de golpistas liderado pelo lendário Feldmarechal Erwin Rommel teria reescrito a história de forma diversa?
A meu ver, sim. Numa época em que a Alemanha era impiedosamente castigada por toneladas de bombas, a guerra já estava claramente perdida e Hitler era apenas um hipocondríaco encarquilhado incapaz de inspirar a devoção fervorosa de tempos idos, o Führer já era bastante impopular entre os alemães. Já Rommel era general de incomparável carisma, amado pelo povo e considerado principal artífice das grandes conquistas do início da guerra.Se Hitler realmente tivesse sido morto naquele dia e Rommel houvesse subido ao poder, a população aclamaria seu herói de guerra que a livrou de um líder fanático e decrépito que os atirara numa guerra sem expectativa de vitória. Ele e os demais generais conspiraram com um único objetivo: evitar a invasão e conseqüente devastação da Alemanha e conseguir uma derrota nos melhores termos possíveis. E como teria acontecido?
Ao tomar o poder, Rommel iniciaria de imediato a negociação de um armistício. Como estavam em posição de força, pressionando em três frentes, os aliados aceitariam poucas, talvez nenhuma condição. A rendição seria solicitada, as tropas alemãs se retirariam imediatamente dos territórios ocupados, e os aliados não iriam deixar de capturar seus despojos de guerra, que seriam os líderes do regime nazista. Todos seriam caçados e presos para serem entregues aos aliados, alguns fugiriam e outros cometeriam suicídio.Os campos de concentração seriam desativados e seus comandantes presos ainda na metade de 1944, o que evitaria a morte de pelo menos um milhão de pessoas, mortas no último ano da guerra. Todo o cenário que se viu desenrolar a partir de maio de 1945 teria acontecido, em sua quase totalidade, um ano antes.
E haveria ainda outra conseqüência excelente: o exército vermelho àquela altura ainda não havia ocupado a Polônia Ocidental, a Tchecoslováquia e a Hungria. Dificilmente, portanto, esses países cairiam sob o jugo comunista. Ao invés de dominarem metade da Europa, os soviéticos teriam que se contentar com as suas fronteiras originais acrescidas dos países bálticos e de alguns territórios tomados à Romênia e à Polônia. Sem a intervenção soviética, o plano Marshall teria ajudado as nações do leste europeu, tornando a sua queda para o comunismo ainda mais improvável. E sem o domínio de seus satélites, a União Soviética seria um adversário mais frágil na Guerra Fria. Sua derrocada talvez se desse dez ou vinte anos antes do que aconteceu.
E a Alemanha? Rommel e seus parceiros eram militares, e os militares alemães, ao contrário dos nossos, historicamente tinham ojeriza ao meio político. Não demorariam a passar o poder para os civis, ainda mais sendo pressionados por exércitos aliados em suas fronteiras. Sem a divisão, o país teria se transformado na maior potência da Europa, mas com as feridas materiais e morais de duas guerras ainda expostas, e ainda considerando que tropas americanas estariam, senão dentro, muito próximas do território alemão, uma nova tentativa de guerra não aconteceria. E uma Alemanha ainda mais forte seria uma adversária em potencial ainda maior para pressionar a União Soviética, que teria que gastar ainda mais em armamentos e com isso acelerando ainda mais seu inevitável colapso.
Precisando investir tanto para proteger suas fronteiras, sobraria pouco dinheiro para os soviéticos patrocinarem movimentos comunistas mundo afora (era a proteção da cortina de ferro que dava a eles tanta segurança). Cuba não seria comunista, e sem tal ameaça a rondar os continentes, os golpes e quarteladas na América Latina seriam bem menos freqüentes. Esqueça FARC, sandinistas, Sendero Luminoso e asseclas. A África também sairia ganhando nesse cenário. Sem serem palco de lutas entre regimes pró-URSS e pró-EUA, algumas nações africanas teriam conseguido se desenvolver satisfatoriamente. O Vietnã, ainda que fosse comunista, não seria encarado como a ameaça que foi, e não haveria invasão àquele país. O sudeste asiático também teria se desenvolvido mais sem ter sido palco de conflitos.
Enfim, o mundo estaria melhor do que está hoje. Não muito melhor, mas sem dúvida melhor, inclusive para nós brasileiros. Ah, apenas uma última retificação: sem Polônia comunista, sem papa polonês. Wojtyla seria um nome desconhecido, e a história da Igreja teria sido tão diferente que não consigo imaginar o cenário alternativo. Sugestões são bem vindas.
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