O Significado da Música de Beethoven
Em dezembro do ano passado, o governo do Irã proibiu toda e qualquer forma de música ocidental do país, com ênfase na música de Ludwig Von Beethoven. Este artigo de Ivan Hewett nos mostra o porquê do compositor alemão ser tão temido.
Nós precisamos lembrar o que a música de Beethoven significa
Ivan Hewett
Em toda a apreensão sobre o aparente movimento do Irã rumo a tornar-se uma potência nuclear, outro sinal preocupante do rumo que as coisas estão tomando naquele país praticamente não tem sido noticiado. No último 19 de dezembro o Supremo Conselho Cultural da Revolução decretou uma norma que bane a música ocidental. “É necessário proibir a divulgação de música indecente e ocidental da República Islâmica do Irã”, disse o conselho, acrescentando que “supervisionar o conteúdo de filmes é enfatizado, com o objetivo de apoiar o cinema espiritual e banir vulgaridade e violência”.
Mesmo antes do banimento, o novo humor se fez sentir. Em novembro, uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Teerã da Nona Sinfonia de Beethoven foi atacada por comentaristas religiosos conservadores na imprensa, e desde então o regente da orquestra, Ali Rahbari deixou o país. Quanta diferença para a época do Xá, quando a música ocidental era bem-vinda. Olhando para trás, aquela era agora parece o último suspiro do movimento nacionalista e ocidentalizante que se espalhou pelo Oriente Médio no começo do século XX. A Turquia abriu caminho, graças à violenta agenda modernizante de Mustapha Kemal “Atatürk”. Um teórico do novo Estado perguntou, retoricamente, qual o melhor estilo de música para a Turquia: islâmica, música popular turca ou música ocidental? Não a primeira, ele respondeu, mas definitivamente as duas últimas.”Música popular é nossa cultura, música ocidental é a música da nova civilização. Nenhuma das duas pode ser estrangeira para nós”.
Quem ousaria dizer isso agora? Como apontou um recente artigo de Daniel Pipes no Middle East Quartely, para onde quer que você olhe no Oriente Médio, a música ocidental está sob ataque. Ele cita um muçulmano tunisiano que escreveu: “A traição de um árabe começa quando ele passa a gostar de ouvir Mozart ou Beethoven”. Na Arábia Saudita, o Centro Cultural Rei Fahd, construído a um custo escandaloso nos anos 80 para executar concertos ocidentais, tem ficado mais ou menos vazio desde que líderes religiosos condenaram a política de “concertos mistos”, onde mulheres e homens ficavam juntos na platéia. Em uma reunião fundamentalista em Istambul no final dos anos 90, um palestrante declarou: “essa é a verdadeira Turquia, não uma multidão a esmo que sai para ver a Nona Sinfonia”.
O fato é que a Nona de Beethoven é preferida pelos detratores para apontar a razão pela qual o ocidente é tão desacreditado. Ela fala de liberdade, irmandade de todos os homens independente de raça ou credo. Ela não pode ser música para os ouvidos de Mahmoud Ahmadinejad, que gostaria de ver Israel “varrido da face do mapa”.
I
gualmente mau seria o modo como a música ocidental excita poderosos e “impuros” sentimentos. O Aiatolá Khomeini, que instituiu a primeira proibição à música ocidental em 1979, disse que “a música entorpece a mente porque ela envolve prazer ou êxtase, similar às drogas. Ela destrói nossa juventude, que se torna evenenada por ela.
O estranho desses pronunciamentos é o modo como eles encontram eco no que Platão disse sobre a música dois milênios atrás. Ele queria banir todos os costumes que enfraquecessem o vigor dos guerreiros. A melhor harmonia era aquela que “imita as expressões e acentua o engajamento do homem na arte da guerra”. Eu me confundi quando li essas coisas. O liberal que há em mim diz que este é um ultrajante assalto à liberdade individual. Outra parte diz “Isso não vai funcionar de jeito nenhum”, que era certamente a lição da proibição iraniana. Mas outra parte de mim tem um furtivo respeito pela visão de mundo que dá à música tão grande importância. Às vezes pode parecer que a nossa liberdade meramente traz um sentimento de saciedade, e faz da música um mero passatempo.
A proibição é uma lembrança atual dos valores da música que ocasionalmente esquecemos. Precisamos nos lembrar do que a Nona Sinfonia de Beethoven significa, e que bem como ser divertida ou intoxicante, a música também pode ser lixo, ou elevadora, ou sublime. É apenas por termos rápido acesso a todo tipo de música que nós podemos fazer nossos próprios julgamentos. A liberdade de ouvir o que queremos nos dá—se optarmos por usá-la—aquela liberdade essencial que seres morais como Platão ou Khomeini gostariam de nos tomar.
Nós precisamos lembrar o que a música de Beethoven significa
Ivan Hewett
Em toda a apreensão sobre o aparente movimento do Irã rumo a tornar-se uma potência nuclear, outro sinal preocupante do rumo que as coisas estão tomando naquele país praticamente não tem sido noticiado. No último 19 de dezembro o Supremo Conselho Cultural da Revolução decretou uma norma que bane a música ocidental. “É necessário proibir a divulgação de música indecente e ocidental da República Islâmica do Irã”, disse o conselho, acrescentando que “supervisionar o conteúdo de filmes é enfatizado, com o objetivo de apoiar o cinema espiritual e banir vulgaridade e violência”.
Mesmo antes do banimento, o novo humor se fez sentir. Em novembro, uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Teerã da Nona Sinfonia de Beethoven foi atacada por comentaristas religiosos conservadores na imprensa, e desde então o regente da orquestra, Ali Rahbari deixou o país. Quanta diferença para a época do Xá, quando a música ocidental era bem-vinda. Olhando para trás, aquela era agora parece o último suspiro do movimento nacionalista e ocidentalizante que se espalhou pelo Oriente Médio no começo do século XX. A Turquia abriu caminho, graças à violenta agenda modernizante de Mustapha Kemal “Atatürk”. Um teórico do novo Estado perguntou, retoricamente, qual o melhor estilo de música para a Turquia: islâmica, música popular turca ou música ocidental? Não a primeira, ele respondeu, mas definitivamente as duas últimas.”Música popular é nossa cultura, música ocidental é a música da nova civilização. Nenhuma das duas pode ser estrangeira para nós”.
Quem ousaria dizer isso agora? Como apontou um recente artigo de Daniel Pipes no Middle East Quartely, para onde quer que você olhe no Oriente Médio, a música ocidental está sob ataque. Ele cita um muçulmano tunisiano que escreveu: “A traição de um árabe começa quando ele passa a gostar de ouvir Mozart ou Beethoven”. Na Arábia Saudita, o Centro Cultural Rei Fahd, construído a um custo escandaloso nos anos 80 para executar concertos ocidentais, tem ficado mais ou menos vazio desde que líderes religiosos condenaram a política de “concertos mistos”, onde mulheres e homens ficavam juntos na platéia. Em uma reunião fundamentalista em Istambul no final dos anos 90, um palestrante declarou: “essa é a verdadeira Turquia, não uma multidão a esmo que sai para ver a Nona Sinfonia”.
O fato é que a Nona de Beethoven é preferida pelos detratores para apontar a razão pela qual o ocidente é tão desacreditado. Ela fala de liberdade, irmandade de todos os homens independente de raça ou credo. Ela não pode ser música para os ouvidos de Mahmoud Ahmadinejad, que gostaria de ver Israel “varrido da face do mapa”.
I
gualmente mau seria o modo como a música ocidental excita poderosos e “impuros” sentimentos. O Aiatolá Khomeini, que instituiu a primeira proibição à música ocidental em 1979, disse que “a música entorpece a mente porque ela envolve prazer ou êxtase, similar às drogas. Ela destrói nossa juventude, que se torna evenenada por ela.
O estranho desses pronunciamentos é o modo como eles encontram eco no que Platão disse sobre a música dois milênios atrás. Ele queria banir todos os costumes que enfraquecessem o vigor dos guerreiros. A melhor harmonia era aquela que “imita as expressões e acentua o engajamento do homem na arte da guerra”. Eu me confundi quando li essas coisas. O liberal que há em mim diz que este é um ultrajante assalto à liberdade individual. Outra parte diz “Isso não vai funcionar de jeito nenhum”, que era certamente a lição da proibição iraniana. Mas outra parte de mim tem um furtivo respeito pela visão de mundo que dá à música tão grande importância. Às vezes pode parecer que a nossa liberdade meramente traz um sentimento de saciedade, e faz da música um mero passatempo.
A proibição é uma lembrança atual dos valores da música que ocasionalmente esquecemos. Precisamos nos lembrar do que a Nona Sinfonia de Beethoven significa, e que bem como ser divertida ou intoxicante, a música também pode ser lixo, ou elevadora, ou sublime. É apenas por termos rápido acesso a todo tipo de música que nós podemos fazer nossos próprios julgamentos. A liberdade de ouvir o que queremos nos dá—se optarmos por usá-la—aquela liberdade essencial que seres morais como Platão ou Khomeini gostariam de nos tomar.
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