Por que essa síndrome de Títon?
Títon é um personagem menos conhecido da mitologia grega a quem teria sido concedida a dádiva da vida eterna. Mas com um porém: não lhe foi concedida a juventude. Ou seja, Títon foi condenado a uma velhice eterna, cada vez mais decrépito, caquético e frágil.
As pessoas desse início de milênio parecem estar possuídas pelo mesmo desvario inconseqüente do desafortunado grego. Quando Paulo Autran morreu, aos oitenta e cinco anos após ter construído a maior carreira do teatro nacional, não faltou quem lamentasse o fato de o cigarro ter abreviado uma vida tão prolífica. Venhamos e convenhamos: Autran não tinha mais nada a conquistar ou provar em seu campo. Vivesse ou não mais alguns anos, seria ainda assim considerado o maior ator do teatro brasileiro do século. E num país onde a expectativa de vida de um homem gira em torno dos 67 anos, chegar aos 85 significa viver quase duas décadas a mais que a média. E daí que ele provavelmente teria ombreado com Dercy Gonçalves, uma que parece ter feito com os deuses o pacto de Títon? De minha parte digo: se me fosse concedido o prêmio de morrer pra lá dos oitenta consagrado como o melhor na minha área, me daria por satisfeito e nunca mais incomodaria as divindades volúveis do Olimpo.