sexta-feira, abril 29, 2005

O Conclave dos meus sonhos


O povo se movimenta intrépido na Praça São Pedro ao ver a fumaça saindo da Capela Sistina. Gritos e ovações pairam em suspenso na garganta, prontos para explodir em apoteose caso a fumaça seja branca. Olhos atentos para identificar a cor que pode reprimir ou libertar o júbilo. Porém, o sentimento que a cor liberta não é o de alegria, mas sim o de pasmo: a fumaça é vermelha!

Nem mesmo o badalar alegre dos sinos anunciando a escolha do novo pontífice alivia o estupor da multidão, que nesse momento está atônita e assustada. Profecias obscuras sobre o início do Juízo Final no dia em que a fumaça anunciadora da escolha do novo Papa não fosse branca são ressuscitadas, e no burburinho que percorre rapidamente todos os cantos da Praça de São Pedro, ganham dimensões apocalípticas. Alguns tentam sair correndo e um pequeno tumulto começa, reprimido pela ação da polícia, temerosa de algum possível dano ao patrimônio histórico do Vaticano. Mas eis que as cortinas da sacada do Palácio Apostólico se abrem, e o terror pelo apocalipse iminente não consegue ser mais forte do que a curiosidade em saber quem é o homem que motivou a fumaça escarlate que emanou da chaminé da capela.

Um cardeal—Vestido, obviamente, de vermelho—Sai à sacada para fazer o anúncio do nome do novo pontífice. Arruma sua mitra, dá um grau na estola, corrige levemente a posição dos óculos e começa a ler:

—Annuntio vobis gaudium magnum; habemus Papam: Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Caius Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem De Boca qui sibi nomen imposuit Alexander VII.

Uma leve conferida de memória na lista dos papáveis não encontra o nome do pontífice recém-eleito. Fora, sem sombra—Ou fumaça—De dúvida, um azarão que surpreendeu na reta final. Cardeal Caio De Boca, quem seria ele? Por que a fumaça que o anunciou era rubra? Por que adotar um nome pontifício que há séculos não era usado e já considerado proscrito pelas atitudes escandalosas e pouco cristãs de seu último detentor? As perguntas se calam à entrada do Papa. Mais uma para a coleção de surpresas desse dia histórico: o Santo Padre não traja a tradicional veste branca, nem mesmo a veste cardinalícia. Apresenta-se ao público vestindo um roupão vermelho que lhe deixa desnuda uma parte do peito. Na mitra alguns detalhes com evidente sugestão fálica incutem horror em alguns rostos, mas no geral termina sendo uma pequena parte no já grande somatório de surpresas em que se constituía a eleição daquele pontífice singular, para dizer o mínimo. O novo chefe da Igreja Católica Apostólica Romana Solicita o microfone. Ele quer falar aos fiéis.Paira sobre a praça um silêncio de cripta, no qual se ouvem apenas as respirações dos presentes.

—É com alegria que vos comunico, irmãos, que os bons tempos estão de volta (Apesar de toda a evidência em contrário, os conservadores comemoram, certos de que o bizarro pontífice fará a Igreja voltar à época do Concílio de Trentto). Depois de mais de meio milênio de Papas sem graça, os cardeais, imbuídos da inspiração magna do Espírito Santo, elegeram a mim, um fauno degustador das boas coisas da vida que nosso bom Deus dispõe ao usufruto dos homens de boa vontade, para guiar seu rebanho nessa longa jornada rumo ao auspício de sua graça divina: o prazer. Invoco, pois, a memória de nosso grande pontífice Alexandre VI*, a quem singelamente homenageio ao adotar o mesmo nome, para que nos guie neste espinhoso caminho.

Neste exato instante, por sabe-se lá quais artifícios tecnológicos ou divinos, duas querubinas descem dos vitrais da Capela Sistina em direção ao Papa. Aportam uma de cada lado e, já estando nuas, retiram as parcas vestes que recobriam o corpo pontifício. O povo delira na praça, e já se podem ver evidentes manifestações de que esse pontífice já caiu nas graças do povo. Porém, para justificar o nome que tem, o Bispo de Roma não deseja cair nas graças do povo, e sim de boca nos jovens e deliciosos corpos das querubinas que lhe foram enviadas para o gozo de sua árdua missão. A multidão, extasiada, entende que essa é a senha para Cair de Boca—No pecado. E com uma orgia pública estrepitosa se encerra esse dia histórico no Vaticano. O dia com o qual Nietzsche sonhara, o dia no qual a vitalidade do corpo se imporia vitoriosa à corrupção dos instintos. Viva o Novo Papa!

*Alexandre VI, ou Rodrigo Bórgia, foi papa de 1493 a 1503. Dissoluto, corrupto e assassino, teve quatro filhos ilegítimos, amantes incontáveis e foi grande incentivador das artes da renascença.É meu papa preferido.

terça-feira, abril 26, 2005

Genial!

Quando digo pra vocês que o LLL é meu blog preferido, não pensem que o faço à toa. Leiam isso aqui e digam se não concordam comigo...

domingo, abril 24, 2005

Literatura moderna & Quebra de continuidade


Numa de minhas andanças pela Internet, encontrei informações a respeito de um movimento literário pujante no início do século XX, mas relegado ao ostracismo com o passar do tempo. Era uma espécie de Escola Urbana daqueles tempos, descrevendo a vida dissoluta que a alta sociedade levava nos salões fechados da Belle Èpoque. Seus autores eram populares, tinham tiragens gigantescas e eram aclamados na alta roda (uma vez que eram geralmente ricos diletantes). De repente, foram relegados ao esquecimento. Suas obras saíram de catálogo e seus nomes dos livros de literatura. Passaram a fazer parte apenas do folclore histórico da época à qual pertenceram.


Mas qual terá sido o motivo para tal ostracismo? A qualidade inferior de suas obras? A qualidade muito superior das obras de outros ícones de nossa literatura? À primeira pergunta eu não sei responder. À segunda eu respondo com segurança: não! A gangue modernista dos Andrades Mário e Oswald é chata de doer e pra mim é apenas um clone degenerado e farsesco do indianismo romântico tupiniquim. Os regionalistas nordestinos podem até ter tido algum tempero no começo, mas a fórmula de botar gente honesta e batalhadora para apanhar sem parar da natureza e dos poderosos saturou rapidamente.


E o que surgiu nos últimos tempos? Esses romances pseudo-existencialistas que retomam, ao seu modo, alguns ambientes e situações da literatura inicialmente evocada aqui, de modo que bem se poderia imaginar que o Modernismo e o Regionalismo representam barreiras que se ergueram contra uma legítima continuidade entre esses dois movimentos. E mais uma vez os modernistas trabalharam contra. Se soubessem que alguém já havia feito o que eles fazem a nível nacional, a Escola Urbana de hoje talvez desistisse de abordar as mesmas coisas e partisse para algo novo. Modernistas e Regionalistas, com raras exceções, prestaram mais esse desserviço à cultura nacional: ao sufocarem um movimento, permitiram que ele reaparecesse posteriormente, e de maneira bem menos interessante. Atrasaram nossa cultura em pelo menos quarenta anos.

quinta-feira, abril 21, 2005

Opinião & achismo

Pra começo de conversa, digo que nada tenho contra conservadores além de divergências ideológicas em um ou outro ponto, e a maior prova disso é que o blog do Alexandre Soares Silva, que é conservador, está lincado aí ao lado. De uma pessoa não exijo que concorde comigo em tudo por tudo, basta ter inteligência e bom humor, e essas são coisas que ele, por exemplo, tem de sobra. E por que isso agora? Para que não me venham dizer que implico com alguém simplesmente por pensar diferente de mim.E como a pior maneira de se começar a emitir uma opinião é pedir desculpas por ela, paro por aqui antes que desça a nível tão baixo.Vamos ao que interessa.

A pérola da vez vem do Nivaldo Cordeiro (ó novidade!). Ao comentar o último livro de Wojtyla, ele lamenta o caminho que a filosofia ocidental tomou, à parte da religião. Até aí nada de mais. O problema é quando ele resolve encetar uma diatribe contra Nietzsche:

"O que teria o Santo Padre a dizer sobre Nietzsche, o incendiário que foi o inspirador direto do nazismo e que tem legiões de admiradores pelo mundo todo? Nietzsche, o niilista que se propunha acima do bem e do mal, que queria tresvalorizar todos os valores, o anunciador da desimportância do indivíduo diante da espécie, do inclemente sobre aqueles que mantinham a fé em Deus, o próprio Anti-Cristo autopersonificado?"

Existem nessa frase uma meia verdade e uma completa mentira acerca do filósofo alemão. A meia verdade é que ele é inspirador direto do nazismo: o fato de Hitler gostar deele nada significa, Hitler demonstrou reiteradas vezes sua tibieza intelectual e incrível capacidade de distorcer a seu favor tudo que fosse possível. E a completa mentira é dizer que ele pregava a primazia da espécie sobre o indivíduo. Mostro aqui enxertos de Assim falava Zaratustra e O Anticristo para que vejam o quanto Nivaldo se deixou levar por um achismo não-fundamentado. Leiam e me digam: alguém que diz coisas como essas pode ser estatólatra, coletivista e nacionalista?

"Mas o Estado mente em todas as línguas do bem e do mal, e em tudo quanto diz mente, tudo quanto tem roubou-o".

"A quem odeio mais entre a ralé de hoje? A escumalha socialista, aos apóstolos de chandala que minam o instinto do trabalhador, seu prazer, seu sentimento de contentamento com uma existência pequena - que o tornam invejoso, que lhe ensinam a vingança..."

"Tudo quanto é grande passa longe da praça pública e da glória. Longe da praça pública e da glória viveram sempre os inventores de valores novos".

"Ah, esses alemães, quanto já nos custaram! Tornar todas as coisas vãs - sempre foi esse o trabalho dos alemães. - A Reforma; Leibniz; Kant e a assim chamada filosofia alemã; as guerras de "independência"; o Império - sempre um substituto fútil para algo que existia, para algo irrecuperável... Estes alemães, eu confesso, são meus inimigos: desprezo neles toda a sujidade nos valores e nos conceitos, a covardia perante todo sim e não sinceros".

Nesses trechos Nietzsche ridiculariza o Estado, o espírito de manada e o povo alemão, culpando esse último de ter desgraçado a Europa. Hitler acaso era anti-estatista, contrário às manifestações públicas e ridicularizador da pátria e da história alemã? Disse e reafirmo: opiniões, mesmo as radicalmente contrárias ao meu pensamento, não me incomodam. O que incomoda são os "achismos", pseudo-opiniões emitidas sem base. Distorções nunca são bons meios de se apoiar uma causa. Cordeiro vacilou. De novo.

domingo, abril 17, 2005

Tudo que é privado é melhor. Até a bandidagem



Essa recente chacina da baixada fluminense, aonde mais de 30 pessoas foram exterminadas sem motivo aparente, ressuscitou em mim algumas memórias e reflexões. A memória foi uma pensata de um tio meu, saudoso do regime militar porque, de acordo com ele, “não havia essa bandidagem toda que se vê hoje por aí “. Como discussões em família, ainda mais com um tio vetusto, não levam a nada, fiquei calado. Mas os fatos das últimas semanas reforçaram ainda mais a minha convicção de que não há nada que o Estado possa fazer que a iniciativa privada não faça melhor. Até mesmo o banditismo.

Não é só meu tio que acha que ditaduras inibem a criminalidade. Demonstrando o fascínio que a esquerda tem por facínoras, José Arbex Júnior publicou recentemente um artigo na Caros Amigos (da onça) em que fala maravilhas da Síria, citando a baixa criminalidade como exemplo. Pensemos: o que bandidos fazem? Seqüestram, roubam, furtam, ameaçam, estupram, torturam, matam... Num regime ditatorial, a própria máquina estatal cuida de fazer tudo isso, e os bandidos comuns desaparecem por não resistirem à concorrência predatória do Estado, que é mais bem aparelhado e tem a lei a seu favor.

Voltemos à chacina da baixada fluminense: o que diferenciou aquele massacre dos demais? O fato de as vítimas pagarem salário, plano de saúde e previdência social para seus algozes. E aí reside o outro motivo pelo qual a bandidagem privada é menos lesiva ao cidadão do que a pública: o bandido freelancer conta apenas consigo próprio, e tem a lei e todo um aparato estatal contra si.O risco de sua atividade é bem maior, e por isso ele não se arrisca em crimes sem motivo, como essas chacinas (todas das quais eu me lembro foram promovidas por policiais): como o risco existe e o ônus das operações recai apenas sobre eles próprios, bandidos comuns só se arriscam em uma empreitada se houver um objetivo específico: tomar algo, pedir resgate, matar alguém que o compromete ou ameaça...

Já o bandido estatal é financiado pelas suas presas. Está sob a guarida da lei, e age em nome dela. Faz parte da instituição que opera contra o bandido autônomo. Pode agir sem objetivo específico, apenas para exercitar sua crueldade, como fizeram os criminosos da Candelária, Vigário Geral e Baixada Fluminense. Todo o custo de suas atividades criminosas é pago pelas próprias vítimas. Desse jeito não tem bandidagem particular que sobreviva. E quanto mais forte é o Estado, menos sujeitos a punições e mais livres para agir são os bandidos infiltrados em suas fileiras, até chegar ao extremo numa ditadura, que extingue o banditismo privado para institucionalizar de uma vez o público, bem mais lesivo à sociedade.

Esse é um dos motivos pelos quais eu sou a favor da democracia. Mesmo que ela seja inepta no combate à criminalidade, fico aliviado por saber que os criminosos não estão recebendo nada além daquilo que me tomam. Que não pago seu salário, plano de saúde e previdência social.

sábado, abril 16, 2005

Não serve pra nada mesmo...

Discurso de Heloísa Helena na Câmara dos Deputados:
"Eu fico impressionada como existem pessoas extremamente ignorantes que querem impôr o aborto como a única solução anti-concepcional, como se isso fosse uma coisa inovodara, quando no entanto é uma das coisas mais primitivas que existem.Ainda mais hoje dia com a tecnologia cada vez mais avançada no qual existem pelo menos 20 métodos para se evitar uma gravidez. (Posso citar mais de 20, se vocês quiserem).São verdadeiros primatas que ao invés de implatar o planejamento familiar, uma real solução, disponibilizam para as mulheres o aborto..."
Não vou falar no absurdo que é comparar o aborto com um método anticoncepcional corriqueiro, nem fazer uma defesa da legalizaçao (planejo fazer isso, mas será em post específico).O assunto em pauta é outro: a total inutilidade da esquerda brasileira.Nos países desenvolvidos ao menos a esquerda teve participação ativa nas legalizações do aborto que aconteceram por lá entre os anos 60 e 80, malgrado seus desastres na economia.Aqui, pelo visto, nem para isso ela serve.O esquerdismo religioso da América Latina é a coisa mais inútil que já se inventou na face da Terra.
Ano que vem ela é candidata a presidente.Santa paciência!

segunda-feira, abril 11, 2005

Conversa com uma amiga no MSN


Eu: Pois é, agora eu resolvi virar marxista!

Ela: Como é que é? Você agora acredita em socialismo, materialismo histórico, materialismo dialético, contradições do capitalismo, ditadura do proletariado e sociedade sem classes?

Eu: Nunca! Onde já se viu, eu acreditando nas idéias do TED* alemão que tinha furúnculo na bunda? Estou falando em outro Marx. Groucho Marx. Adoro a máxima dele.

Ela: E qual é?

Eu: Seja lá o que for, sou contra!

*TED: Sigla que, no baixo português falado pelos submundos da Botocúndia, significa "Terror das Empregadas Domésticas".

sábado, abril 09, 2005

A Incoerência Final


Se há algo que Karol Wojtyla sempre praticou por toda a sua vida, incluindo seu pontificado, foi a coerência.As posições que tomou a respeito dos mais diversos assuntos no decorrer desses vinte e seis anos foram marcadas pelo signo da polêmica, agradando e desgostando, dificilmente causando indiferença.Mas todos esses posicionamentos, por mais idiotas que tenham sido algumas vezes, sempre tiveram a virtude da coerência.

Quando militava contra o aborto e os métodos anticoncepcionais, o fazia sabendo ser incoerente ficar contra o primeiro e a favor dos últimos, como a maioria dos militates "pró-vida" fazem.Sabia que, se era errado proibir um feto de seguir seu curso e tentar se desenvolver no útero, era igualmente errado proibir um gameta de seguir seu curso e tentar a fecundação.Podem tachar tal posicionamento de retrógrado, mas jamais de contraditório.Quando se posicionou violentamente contra a Teologia da Libertação (uma tentativa abilolada de conjugar cristianismo e marxismo), o fez baseado na premissa lógica de que duas religiões não ocupam o mesmo lugar no espaço, e portanto conciliar dois sistemas dogmáticos não fazia o menor sentido.Quando se posicionou contra a eutanásia, o fez com base no pensamento cristão de que o sofrimento não deve ser evitado e a vida deve ser preservada a todo custo.

Mas, peraí? Como explicar então o posicionamento do papa em seus últimos dias? Por que ele se recusou a ir ao hospital quando a doença finalmente o dominou? Esperava-se, eu principalmente, que mesmo nos últimos momentos ele preservasse a coerência como marca registrada, e tentasse preservar sua própria vida a todo custo, bem como não procurasse meios de fugir ou abreviar seu sofrimento.

No entanto, Wojtyla não lutou pela sua vida quando já era evidente que a luta era inútil.Praticou ele mesmo a eutanásia que tanto combateu, ao se furtar deliberadamente a um tratamento sem esperança de sucesso.Caso fosse ao hospital, poderia ter sua vida preservada com o auxílio de aparelhos e medicamentos talvez por meses.Sofreria atrozmente, claro.Mesmo os constantemente sedados não escapam das dores lancinantes da agonia, uma vez que a ausência dos sedativos provoca síndrome de abstinência, e eles não podem ser ministrados em tempo integral.Ante à perspectiva de prolongar sua vida e sua agonia por meses, ele preferiu... Desistir, e com isso sofrer e viver apenas alguns dias.

Ainda não tenho a exata medida do quanto essa incoerência final pesará nas posições que o próximo pontífice venha a tomar a respeito dos mais diversos assuntos.Mas o fato é que os militantes pró-eutanásia, que antes tinham em João Paulo II um forte adversário, agora podem erguer seus últimos dias como estandarte na luta por sua causa.Não faço idéia do quanto o estado mental do Papa estava alterado pelas sucessivas enfermidades e pelo Mal de Parkinson, portanto não sei se tal incoerência foi resultado de uma decisão conscientemente tomada ou desvario de quem já não conseguia concatenar com precisão as idéias.Mas para quem passou a última semana de vida condenando a abreviação da vida de Terri Schiavo, abreviar a própria vida foi um aberrante depoimento contra os princípios que defendera por toda a vida.

Fazendo o balanço, acredito que a influência de Wojtyla foi mais positiva do que negativa.Naquilo em que ele podia intervir, ele o fez para o bem (ajudar a derrubar os regimes comunistas do leste).Condena-se muito sua posição contra os anticoncepcionais, mas convenhamos, se nem o próprio rebanho que ele comandava seguia seu pensamento nessa seara, podemos considerar a influência desse seu posicionamento praticamente nula.Naquilo em que ele poderia influenciar de forma negativa, portanto, ele simplesmente não conseguiu fazê-lo, e a eutanásia cometida contra si próprio pode influenciar de forma totalmente diversa da que ele pretendeu por toda a vida, e influenciará de forma positiva.No último ato, Wojtyla marcou, mesmo sem querer, um ponto a favor da humanidade.Admitamos que o ex-cardeal de Cracóvia foi um cara e tanto.Mesmo no dia em que o catolicismo for apenas objeto da curiosidade de estudiosos de religiões extintas, Karol será lembrado como um personagem relevante na derrubada da maior tirania que a humanidade já viu.E desse legado ninguém poderá despojá-lo.

terça-feira, abril 05, 2005

Inversão de Autoritarismos


Até o começo dos anos 80, esquerda no Brasil era pra levar pau, e a "direita" militarista estava no poder.Hoje os papéis se inverteram dramaticamente: a esquerda dominou todas as esferas intelectuais, sociais e políticas, e ser dizer de direita é a senha para um linchamento moral generalizado.Essa inversão também ocorreu em outro campo: o tabagismo.

A geração dos meus pais cresceu num mundo em que fumar era um rito de maturidade tão obrigatório quanto abandonar as fraldas ou passar a morar longe dos pais.Quem não fumava era visto como um tipo careta, imaturo, totalmente out.Rapazes e moças flertavam entre uma baforada e outra, e meninos na puberdade disputavam para ver quem dominava melhor as técnicas, como falar sem soltar a fumaça ou retê-la com a boca aberta, fazendo-a sair em sinuosos formatos.Tudo bem infantil, concordo.Muitas pessoas tiveram vidas encurtadas por tumores ou enfisemas muitas vezes apenas para imitar o glamour dos astros do cinema e da televisão.

Mas eis que o mundo mudou, também por volta dos anos 80, a militância tabagista começou a ter seguidas vitórias, numa tendência que foi se acentuando.Hoje, o antitabagismo é a verdadeira ditadura, e o ato de fumar um cigarrinho virou um anátema, demonstração de breguice, cafonice, "dominação cultural", de acordo com os mais ensandecidos.O fumo é proibido em praticamente todos os lugares e uma verdadeira Inquisição do politicamente correto passa a "enxergar fumantes debaixo da cama", para usar o jargão em voga nos EUA da era Macarthista.Uma garota recentemente me taxou de idiota, sem sequer me conhecer melhor, apenas porque eu disse que curtia um cigarrinho uma vez ou outra.

Passamos pelos extremos e não soubemos aproveitar o benfazejo meio-termo.Que o fumo é uma droga altamente viciante e que provoca uma série de doenças eu estou careca de saber."E como eu posso ao menos encostar em cigarro sabendo disso, Meu Deus", é o que muitos se perguntam.A resposta é simples: o fumo é um prazer.E todo prazer envolve riscos.E não compreendo porque o fumo é tão demonizado e o álcool tão tolerado.Todo pai torce a cara ao ver o filho fumando, mas ri, entusiástico, ao vê-lo bebendo.E álcool provoca tumores, cirrose, diabetes, úlceras, provoca acidentes automobilísticos e altera totalmente o estado de seus consumidores.Traz muitos mais transtorno social do que o cigarro e é bem mais tolerado.Vá entender esse povo...

Não sou exatamente um entusiasta da nicotina, mas quero ter o direito de fumar minhas costumeiras duas vezes ao mês tanto quanto meu vizinho tem o direito de se embriagar todo domingo, me torturar com música de péssima qualidade, bater na esposa e xingar as filhas, e ninguém sai dizendo que quem enche a cara é idiota, nem a presença de bebuns foi proibida em todos os lugares públicos.Ditadura comportamental é isso aí.

domingo, abril 03, 2005


Imagem que eu vi na transmissão de hoje: um torcedor implorando para que a geral do Maracanã (aquele espaço aonde as pessoas ficam em pé, e nem conforto, nem segurança são lá os fortes) não acabasse.Mais: os locutores da Globo falam da reforma que vai extinguir esse setor para criar um com cadeiras quase que como um apocalipse para o futebol carioca e brasileiro.Invariavelmente, reclamam que a modernização vai acabar com a "magia" dos estádios brasileiros, assim como a rigidez tática importada dos clubes europeus mata o talento, a "ginga" natural do jogador tupiniquim.

Como dizem muitos sociólogos, o futebol é um excelente espelho da sociedade brasileira.Essa fixação pela pobreza e apego ao improviso citados acima são uma mostra do quanto ainda precisamos mudar para fazer parte do mundo civilizado.E, para variar, os defensores da pobreza e do improviso estão completamente errados: é exatamente o "charme" da precariedade dos nossos estádios que tem feito as médias de público caírem tanto.Quanto ao rigor tático, enquanto nossos clubes e a seleção não se enquadraram no futebol moderno, baseado em tática e preparação física esmerada, ficaram anos sem ganhar nada: a seleção 24 anos sem título, e os clubes brasileiros com apenas dois mundiais e três libertadores em mais de vinte anos.Não é à toa que jogadores brasileiros preferem sair o quanto antes, nem que seja para países remotos: lá eles jogarão em clubes profissionais, com estádios impecáveis e equipes bem arrumadas taticamente.Por isso os campeonatos a nível estadual e nacional são tão ruins e pioram cada vez mais.

Qualquer paiseco da Europa Oriental ou do sudeste asiático tem estádios melhores, calendários mais racionais e clubes mais profissionais que os nossos.Enquanto nossa fixação pela pobreza e desprezo pela ortodoxia persistirem, jamais conseguiremos organizar campeonatos decentes, nem mesmo um país decente.

sexta-feira, abril 01, 2005

Quando você sabe que seu país está perdido...

Capa da revista Exame desse mês:

"Para o brasileiro, o lucro não deve ser prioridade de uma empresa".


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