terça-feira, março 29, 2005

A Somália Não É O Fim Do Mundo

Começo a pensar cada vez mais que uma lúdica sociedade sem estado começa a pairar no horizonte plúmbeo e nebuloso dessa alvorada de milênio.E a vanguarda começa num dos lugares mais atrasados da Terra.Dêem uma olhada nessa reportagem impressionante:

A Somália não é o fim do mundo29.Jun.2002

Pelo menos no estado do Rio de Janeiro, todo eleitor deveria,antes de votar, saber o que está acontecendo na Somália. Anárquico até paraos padrões da política africana, sem governo, sem capital, sem partidos e sem constituição desde 1991, o país conseguiu elevar a bagunça institucional a tais alturas que nos 636 mil quilômetros quadrados de seu território dividido e desolado ela virou uma forma de perfeição. Pelo menos a revista "National Geographic", na edição deste mês, apresenta a Somália como exemplo "supremo de livre mercado".

Não é pouco para um lugar caótico que, há um século, descrevia a si mesmo, pela voz do líder nacionalista Mohamed Abdullah Hassan, como um deserto que não tinha nada para justificar a presença dos colonizadores ingleses, fora pedras e cupins. Além disso, argumentava Hassan, por alcunha o Mulá Furioso, "eu gosto de guerra e vocês não". Não deu outra. Desde que 42 anos atrás os pedaços ocupados pela Inglaterra e a Itália naquela ponta do Chifre da África foram colados numa república independente, a Somália só teve de sobra camelos, conflitos, secas e fome.

Passou vinte e tantos anos, depois da independência, sob um general feroz, Siad Barre. Quando a ditadura militar caiu em 1991, os bandos que se armaram para derrubá-la passaram a retalhar o país em tribos separatistas.O norte virou a Somalilândia, nas mãos de um clã guerreiro. O sul foi tomado à unha por milícias islâmicas. O centro é disputado pela Etiópia, que ganhou uma fatia da velha colônia como presente de despedida da administração inglesa. Pelo menos vinte senhores feudais, equipados com armas modernas, disputam entre si o espólio do atraso, sejam seus próprios rebanhos de carneiro ou estoques de comida mandados de fora por comitês internacionais de ajuda.

Em Mogadíscio, a antiga capital, nem seus 900 mil habitantes sabem quem manda. Foi desertada pelos diplomatas quando 18 soldados americanos, enviados pela ONU como força de paz, morreram na cidade em combate com o Habr Gedir, um dos clãs guerrilheiros que assolam o país. De lá para cá, exceto quando meses atrás a história desse fiasco militar chegou ao cinema, o mundo mais ou menos se esqueceu da Somália, deixando-a entregue à fome e às escaramuças internas.

Deu certo, segundo o relato de Andrew Cockburn para a "National Geographic": "Como plantas desabrochando depois de um incêndio na mata, os somalis deram um jeito de sobreviver e construir por conta própria, em certos aspectos com mais êxito do que países em desenvolvimento que estão na fila da ajuda e da assistência internacional". Ou seja, desde que há sete anos deixou de ter qualquer forma aparente de governo, a Somália continuou devastada por todas pragas, menos as que o governo mandava.

Isso quer dizer, segundo a reportagem, que em Hargeysa, originalmente um campo de refugiados da Somalilândia, uma família nativa conseguiu levar água encanada a todos os moradores. Investiu no fornecimento uma ninharia e ganha com a exploração 20 dólares por semana. Voando mais alto, o empresário Abdirizak Ido bancou a Nationlink, uma das vinte empresas telefônicas da Somália, todas funcionando num sistema informal mais competitivo.Com Ido, em Mogadíscio uma linha telefônica chega à casa do freguês no máximo oito horas depois da inscrição e custa 10 dólares por mês. Celular é ligado na hora. As chamadas locais são gratuitas. As tarifas para ligações internacionais começam em 60 centavos de dólar por minuto, mesmo quando saiam de lugarejos no meio do deserto, onde o telefone passa por rádios de ondas curtas. Foi difícil? "Passamos por momentos de aperto", responde Ido,"mas era pior quando tínhamos um governo. Quando não há governo, existe oportunidade". E os processos de privatização dispensam propina, ele poderia acrescentar.

Com os serviços telefônicos à frente, diz a revista, "outros negócios estão florescendo em Mogadíscio e outros lugares. Gaalkacyo, um povoado no deserto central, tem luzes de rua, graças a Abdirizak Osman, um empresário local" que, de quebra, fornece eletricidade de graça para o único hospital da cidade. Abdul Dini, um sócio de Ido, abriu uma fábrica de espaguete, outra de plástico, uma engarrafadora de água mineral e uma panificadora. E há duas estações de TV a cabo disputando atualmente a audiência de Mogadíscio com uma programação que inclui cópias piratas de produções americanas poucas semanas depois do lançamento nos Estados Unidos.

Mas milagrosa mesma é a rede internacional para remessa de dinheiro, ligando à terra natal mais de um milhão de emigrantes somalianos por uma teia de relações pessoais, tribais ou familiares. Por ela, qualquer quantia que um somali entregue a seu cambista de confiança no interior dos Estados Unidos chega em menos 24 horas ao bolso do destinatário no meio do deserto.Mais de 700 milhões de dólares entram por ano no país sem que a banca internacional veja a cor dessa notas. E é esse dinheiro que mantém o fôlego do país.

Depois de tantos anos de esquecimento, ainda há na Somália quem tenha saudades de um governo mais ou menos organizado, o que dificilmente acontecerá sem intervenção estrangeira. Mas o repórter da "National Geographic" saiu de lá convencido de que, pela história recente, os "somalis se viram melhor se forem deixados por sua própria conta". O que é um consolo e uma esperança para os eleitores do Rio de Janeiro, numa campanha eleitoral em que o elenco de candidaturas parece escolhido a dedo para consolidar nas urnas a decadência política do estado. Se viver entre bandos armados e governos desfeitos não é o fim do mundo, como nos ensina a Somália, é provável que nada seja o fim do mundo.

sexta-feira, março 25, 2005

Será que ele era???


Nesses dias de semana santa me flagro a pensar nas circunstâncias que levaram à morte de Cristo de acordo como narradas na Bíblia.E um raciocínio inocente me levou a um questionamento perturbador: será que Pilatos era? Não, eu não sou companheiro do Luiz Mott e não acho que toda a humanidade se divida em QR's e CV's.Minha dúvida é se o prefeito da Judéia naqueles dias era mesmo tão incompetente como os Evangelhos o pintam.

Vamos à história, quer dizer, ao conto: Jesus entra em Jerusalém, cidade principal de uma província problemática, sendo aclamado Rei dos Judeus, às vésperas da maior festividade deste povo, de conotação extremamente patriótica e potencialmente explosiva numa nação dominada por estrangeiros.Pilatos com certeza foi informado de todo esse parangolé, afinal os soldados romanos deviam estar de prontidão com as proximidades de um festejo religioso com fortes tons nacionalistas como era a Páscoa.E o que ele faz?

Na qualidade de representante do poder romano na região, diante de uma afronta explícita ao Império que ele representa, Pilatos simplesmente não faz nada! De domingo até quinta-feira um homem aclamado pelo povo como Rei, ou seja, um líder em potencial de uma revolta contra Roma, fica na capital política e religiosa da província sem ser incomodado pelas autoridades romanas, e se não fossem as autoridades judaicas, esse desafio escandaloso teria passado impune! Difícil de acreditar, não?

Para não fazer julgamentos equivocados, procuro pensar como se fosse Pilatos: eu sou representante de Roma numa província problemática, e próximo a uma data nacionalista um homem entra na capital aclamado como rei pelo povo.O que eu faria? Claro que eu não deixaria esse homem solto, esperando as autoridades locais tomarem uma atitude.Por mais que elas fossem colaboracionistas, podiam perfeitamente estar mancomunadas com esse conspirador, por que não? No lugar do Pilatos bíblico eu ordenaria as tropas ficarem de prontidão para qualquer motim que se organizasse.E depois de passada a euforia popular, mandaria prender imediatamente esse homem que afronta o poder que eu represento.Afinal, meu pescoço também estava em jogo: o Imperador poderia me despojar de meus bens e minha vida em caso de fracasso na condução da administração do protetorado que me foi confiado diretamente pelas mãos dele.

Mas o Pilatos bíblico é um homem incompetente, incapaz de perceber uma afronta tão descarada a Roma! E mesmo quando as autoridades judaicas fazem o que cabia a ele fazer (preservar a estabilidade do domínio romano), ele ainda reluta, acredita que um homem aclamado como rei pelo povo não representa um perigo iminente à autoridade romana.Sinceramente, não dá para acreditar que o imperador indicaria alguém tão fraco e incompetente para administrar logo uma província tão conturbada como era a Judéia.

Por mais que me critiquem, afirmo: os evangelhos fazem das autoridades judaicas os malévolos executores da morte de Cristo para ficar em bons termos com os donos do mundo na época.Nao deu certo, mas eles tinham que tentar.Ainda mais considerando que os evangelhos foram escritos na época da diáspora, e acusar o Todo-Poderoso Império Romano para inocentar um povo perseguido era suicídio tático.Melhor seria incriminar os judeus, já escorraçados de sua terra, porque chutar vira-lata morto é bem mais inteligente do que peitar um Rotweiller vivo.

quinta-feira, março 24, 2005

Não Há Como Dobrar o Inflexível


Sou quiçá o único vaticanista ateu da face da Terra, e antes que me considere um hipócrita ou um doido varrido, explico-me: meu interesse pela sucessão do Trono de Pedro se dá por conta de uma profecia que há algum tempo fiz a respeito do futuro da mais antiga instituição religiosa do mundo.

Tal pensamento remonta à época em que eu era católico (o que já faz uns bons quatro anos), e se deve ao cabo-de-guerra que divide a Igreja Católica internamente: de um lado os "progressistas", que acreditam que a Igreja precisa se adaptar às mudanças dos tempos para se preservar viva e forte; de um outro, os conservadores (grupo no qual se inclui Wojtila), que pensam que a Igrejanão precisa mudar para persistir, e que mesmo as tênues mudanças do Concílio Vaticano II devem ser repensadas (e provavelmente abolidas).Estes grupos colocam o futuro da Igreja em suspenso há quatro décadas.

E quem está certo? Os dois.E ao mesmo tempo nenhum dos dois.Os progressistas acertam no diagnóstico: a Igreja está perdendo fiéis e espaço no mundo e nos corações dos devotos devido às mudanças que o mundo tem sofrido nos últimos séculos, e de forma vertiginosa, nos últimos cinqüenta anos.Porém sua receita é desastrosa: propõem uma ampla reforma para tentar adaptar a instituição aos tempos modernos.O dia em que essa reforma for realizada será o dia da destruição final da Igreja Católica Apostólica Romana.

Por que? Aí chegamos à análise que fiz, com base em um estudo comparativo com outra religião messiânica do mundo ocidental: o marxismo.Como bem sabemos, o marxismo começou restrito a grupos visionários com nenhuma esperança de um dia alçar o vôo do poder.Por uma conjuntura especialmente infeliz de fatores, eis que chegaram ao poder e expandiram seu domínio por extensão considerável do planeta.O problema é que os regimes marxistas eram um desastre em todos os sentidos possíveis e imagináveis.Então surgiram os reformistas, integrantes do sistema e crentes nas premissas básicas do alemão barbudo que tinha furúnculo na bunda.O objetivo deles era adaptar o marxismo à evolução do mundo para evitar que ele fosse destruído.E um dia, o que parecia improvável aconteceu: um reformista galgou os degraus dentro do sistema e chegou ao comando máximo do comunismo mundial.Seu nome era Mikhail Gorbatchev, e sua tentativa sensata e bem-intencionada de reformar o comunismo para torná-lo ágil e moderno redundou no que já conhecemos.O Segundo Mundo, que parecia sólido como o muro que rasgava a capital alemã ao meio, desabou juntamente com este em apenas seis anos.O marxismo, outrora senhor de um terço da humanidade, é hoje privativo de regimes falidos e pessoas recalcadas e mesquinhas que insistem em lutar contra os fatos.

Podemos perceber uma similaridade histórica incrível entre o bolchevismo e a Igreja Católica: assim como aquele, esta começou perseguida, galgou os degraus mais altos do poder graças à sua organização e logística, lá chegando perseguiu implacavelmente as outras vertentes da crença (gnósticos, docetistas, monofisitas, bem como mencheviques e anarquistas penaram mais sob Lênindo que sob Nicolau II), dominou por um período de tempo (bem mais longo), e a marcha inexorável da história a relegou à caduquice e à insignificância.

Daí depreendo que um Gorbatchev católico nada mais faria que não enterrar de vez a Igreja.E isso se dá porque, assim como o bolchevismo, a Igreja Católica é um sistema dogmático e hierarquizado, que é baseado em premissas rígidas e inflexíveis.E o inflexível não dobra: ao tentar fazê-lo, ele inevitavelmente quebrará, tal como aconteceu com o comunismo.Gorbatchev tentou reformar o irreformável, bem como os progressistas o tentam fazê-lo na Igreja.E por que marxismo e catolicismo caducaram? Simples: porque são intrinsecamente ineficientes e fadados à derrota, apenas a Igreja é bem mais forte que o marxismo por não ser materialista, e com isso, não frustrar de forma clara as promessas que faz.Mas não se engane, a Igreja também não aguentaria uma reforma profunda.No dia em que ela autorizar aborto, anticoncepcionais, casamento de padres, ordenação de mulheres, dentre outras coisas, ela terminará de afundar definivamente.

É triste para o bilhão de seres humanos que é católico, mas sua instituição tem apenas duas saídas: ou continua como está e morre lentamente sufocada pelo avanço da história, ou tenta se reformar e comete um haraquiri rápido e definitivo.Assim como o bolchevismo, ela traz em si um gene cancerígeno que mais cedo ou mais tarde se manifesta e mata seu portador.Sua morte é apenas uma questão de tempo.

E já que todo mundo tá mesmo dando palpite, lá vai o meu: o próximo papa será o nigeriano Francis Arinze, o único capaz de dar alguma evidência a plano mundial a um cargo cuja importância está cada vez mais esvaziada.E o mais importante: é conservador.Não será ele quem derrubará a Basílicade São Pedro.

domingo, março 20, 2005

Crepúsculo de Calíope

Mais uma vez disponibilizo um texto da minha coluna no Novometal.com para os preguiçosos que não querem ir até lá.Caso queiram, entrem aqui e confiram.

"A trajetória da humanidade pela história equivale a uma grande viagem em que incessantemente procuramos nos mover das trevas em direção à luz, e à exceção de alguns conservadores radicais (sim, esse bicho existe) e anarco-primitivistas insanos, ninguém ousa contestar as benesses que nos trouxeram essa corrida por mais e mais conhecimento: além de dobrarmos nossa expectativa de vida, aumentamos dramaticamente a qualidade de vida desta, a ponto de a maioria da humanidade hoje viver melhor do que nobres de séculos anteriores.Porém, nenhuma mudança é isenta de perdas, e o que se perdeu pelo caminho durante essa viagem é algo que vai muito além da ignorância, embora esteja diretamente relacionada a ela: a capacidade de se admirar com o desconhecido e se sentir pequeno diante de forças bem maiores e incontroláveis.E o que diretamente deriva desta sensação, que é a capacidade de criar e se encantar com heróis e histórias sobre-humanas.Em resumo, o aumento de conhecimento parece cada vez mais sufocar e matar de inanição as epopéias".

"Triste fim para uma forma de arte que na antiguidade conheceu sua hegemonia.Numa época em que o homem se considerava menos uma força transformadora da natureza do que mero joguete nas mãos desta e do que quer que estivesse acima da mesma, acreditar e conceber epopéias era uma válvula de escape, uma maneira de se sentir menos diminuído, e quantos tesouros inestimáveis nosso gênero não ganhou devido a esta visão de mundo e de si próprio.O homem, ao se sentir pequeno, na arte se fazia grande, e personagens como Gilgamesh, Aquiles, Ulisses e Enéas puderam tomar forma pelo gênio de grandes artistas dos quais nada sabemos além dos nomes, e essa suprema ironia ainda mais agiganta a dimensão de suas obras: um ser humano, diminuto e frágil, pela dimensão de seu intelecto toma lugar em palco de gigantes.Mais tarde, Dante, Malory e Camões aprimoraram essa tradição ao mesclar elementos da cultura clássica com influências pagãs e cristãs, Milton trouxe o divino para a esfera do humano, e Wagner uniu literatura e música para criar um conceito completo de epopéia: aquela que não apenas se lê, mas se ouve".

"O século passado, porém, acabou sem deixar a sua obra épica.Ulisses e Em Busca do Tempo Perdido, as obras que mais próximo chegaram desse patamar, são epopéias do homem comum, o que se não deixa de ter inestimável valor artístico, por certo desvirtua o elemento do fantástico que a tradição épica sempre incorporou como algo primordial e indispensável.Talvez isso se deva à história peculiar que vivemos, na qual seres humanos pretenderam ascender à condição de divindades e se transformaram em demônios que todos desejam exorcizar, e as ideologias do século recém-falecido parecem haver solapado o místico encanto do sobrenatural com golpes dolorosos de cruenta realidade, no seu desejo de substitui-lo por um paraíso terrestre que jamais viria a se realizar.Contribuiu também para tanto o progresso científico, ao afastar para cada vez mais longe as brumas do desconhecido, e filosófico, que elevou a existência ao patamar de único valor absoluto".

"Não que eu desgoste de todos esses progressos, muito pelo contrário.Mas isso não torna menos desalentador o fato de que à custa desses estamos deixando para trás uma tradição artística tão rica.Seria o caso de se perguntar: O que fará a humanidade quando se vir irremediavelmente presa na armadilha da infinita sapiência, que brilha com tal magnitude que todos torna cegos? Procurará os guias, os portadores da escuridão, que no meio do mar de luz, serão os únicos a enxergar.Mas, e se não houver os portadores da escuridão? Aqueles que tanto lutaram para dissipá-la teriam ânimo de trazê-la um pouco de volta, mesmo que fosse para salvar as próprias existências? Nesse caso, a musa grega que hoje lamenta a amargura do ostracismo ressurgiria para oferecer aos homens os sedutores ardis de seus mistérios, usando a escuridão para emergir de volta à luz, numa feliz conciliação de opostos.Como na melhor tradição épica".

terça-feira, março 15, 2005

Uma Obra Para Ser Sentida (E Pensada).

A obra do escritor tcheco Franz Kakfa é tão difundida, e já foi tão dissecada, que dificilmente alguém pega para ler um romance seu sem tomar conhecimento de muito do que já foi dito a respeito.De Freud a Hannah Arendt, vários pensadores tiveram suas idéias identificadas dentro do peculiar mundo kafkiano, e eu já conhecia algumas dessas interpretações.Foi portanto com uma intrigante sensação de "já sei o que vou encontrar pela frente" que li O Processo e, posteriormente, A Metamorfose.

No entanto, o principal atrativo do romance estava numa característica sua que ninguém havia mencionado: sua capacidade de transmitir ao leitor o espírito da história não apenas através de pensamentos, mas também de sensações.A normalidade bucólica da vida de Josef K. pode ser sentida nos primeiros trechos, quando o mesmo não perde a calma mesmo tendo seu quarto revistado por dois estranhos.Toma café, conversa com a senhoria, até flerta com uma vizinha, como se o nebuloso processo do qual é réu nem de longe o tocasse.

Após a primeira visita ao tribunal, o mundo asfixiante daquele tribunal tão hermético e singular vai progressivamente dominando-o, até a queda final, absorvendo todos os seus pensamentos e se instalando em todas as instâncias de sua vida.Se nos primeiros capítulos são mencionadas relações dele com a senhoria, a vizinha, uma namorada, um amigo promotor, todo esse mundo do qual fazia parte antes do processo desaparece da metade para a frente.E o leitor, paralelamente, sente o amplexo progressivo dessa serpente, que constrange e sufoca progressivamente tanto o protagonista quando o espectador de seu drama.É impossível não se sentir sufocado a cada corredor estreito, acada saleta escura, a cada reentrância legal em que se enreda Josef, que quanto mais luta para escapar, mais e mais se complica, como a presa que se enreda na teia à medida que se debate com mais e mais ímpeto, enquanto a aranha observa, calma, apenas aguardando o momento de devorá-la.E tudo se torna ainda mais assustador quando percebemos que não apenas K. é a mosca, mas também nós, os leitores, sentimos as fibras da teia nos apertarem mais e mais, e podemos senti-la tremular enquanto a aranha se aproxima lentamente para tomar o que lhe é de direito.

Aqui fazemos menção à outra obra em análise, A Metamorfose, que possui exatamente a mesma índole: oprimir progressivamente o leitor, fazendo-o sentir-se como Gregor Samsa, mas aqui a perspectiva é um pouco distinta.Em O Processo, vemos Josef K. perdendo progressivamente sua vida pessoal para ser completamente absorvido pelo drama que vive.Em A Metamorfose, a narrativa começa com a desgraça já consumada.Enquanto K. vê sua vida se perdendo como quem vê a água descer pelo ralo,Gregor contempla aquilo que já perdeu.Embora houvesse a possibilidade de voltar ao normal da mesma forma bizarra e inexplicável como se metamorfoseou, em nenhum momento se retrata essa esperança.Sua luta, que dura cem páginas, é apenas para continuar a sobreviver naquela situação horrenda, até que finalmente ele, assim como Josef K., se entrega, após tanta luta, com serenidade e sem resistência no momento final, àquela circunstância que se impôs invencível diante dele.

Josef K. e Gregor Samsa, como já mencionado, foram transformados em ícones tanto do complexo de Édipo freudiano (bem como Kafka, cuja relação conflituosa com o pai já rendeu muita psicanálise)como da irracionalidade tirânica do totalitarismo (não há como não comparar o processo movido contra Josef com os famosos "processos de Moscou").Não discordo de tais abordagens, mas para mim o que torna Kafka soberbo é a sua habilidade em jogar o leitor na mesma espiral de desespero naqual envolve seus personagens.Se você não sente um aperto na garganta durante as visitas de K.aos órgãos do tribunal ou no parágrafo de sete páginas no qual são expostas as nuances do processo,nem ao imaginar o quarto fechado, escuro e poeirento no qual Gregor rasteja sua condição miserável, Kafka será para você apenas um autor hermético e chato.O que é uma pena, mas...

sábado, março 12, 2005

Questão de (mau) gosto

Uma pessoa recentemente me perguntou o porquê da minha implicância com a esquerda.Principalmente, ela indagava por que eu acredito que o esquerdismo não pode ser tão bom quanto o liberalismo.Em outras palavras: por que não acredito que "outro mundo é possível", ou por que não acredito que a social-democracia pode, sem subverter a ordem de mercado, oferecer uma nova abordagem econômica tão válida e eficaz quanto a liberal.

Me veio então à mente uma explicação dada por Gustavo Franco acerca desta pergunta.Uma analogia fácil de entender por qualquer pessoa.Imaginemo-nos diante de um quadro, a Mona Lisa, de Da Vinci, para usarmos um que todos conhecem.Você está apreciando a obra de arte em todos os seus detalhes e prismas.De repente, alguém chega e sugere, de forma séria, e talvez até bem-intencionada: "que tal se virarmos a pintura de cabeça para baixo?"Não custa nada tentar, é o que você pensa, como pessoa refratária a dogmatismos que é.Então lá vai a Mona Lisa plantar bananeira num canto do Louvre.

Duas perguntas aqui cabem: mudar a posição do quadro criou uma nova obra de arte? Ofereceu uma nova perspectiva tão rica em nuances quanto a anterior? Minha interlocutora não respondeu afirmativamente a nenhuma das duas perguntas.Era óbvio, dizia ela, que Mona Lisa de cabeça para baixo não era uma nova obra.Tampouco oferecia a mesma riqueza de detalhes da posição original, pois Da Vinci o pintou para que fosse visto de uma posição determinada.Com a mudança, perdeu-se a percepção completa de jogos de luz e sombra, e a perspectiva da figura fica toda comprometida, o famoso relance dos olhos, o detalhe mais famoso da obra, simplesmente não é percebido a partir dessa posição nova.

O que podemos concluir de tais observações? Que colocar a pintura de ponta-cabeça não representou nem uma inovação nem uma boa visão do quadro.Foi apenas uma atitude de mau gosto artístico.Essa é a analogia que explica o significado do esquerdismo em matéria de política e economia: não inova, nem melhora.Apenas subverte mal e porcamente o curso natural de ambas.

sexta-feira, março 11, 2005

Série Reconstituições Históricas: Como Seria... Se Lula houvesse vencido as eleições de 1989?


Dando continuidade à série iniciada alhures, vamos novamente analisar a história recente do Brasil.Eu comecei aqui com a Revolução de 1930, o Eduardo
prosseguiu com o golpe de 64, e eu toco a bola pra frente com um momento bastante recente: as primeiras eleições após a queda do famigerado regime militar.Em meio a duas dezenas de candidatos, dois foram ao segundo turno: Collor, político jovem e de um partido desconhecido, mas com idéias inovadoras de liberalismo nesta nação tão marcada pelo intervencionismo, e Lula, ex-sindicalista claramente alinhado com o lado oriental do muro que cairia poucos dias antes da realização do segundo escrotínio (ops! trocadilho ridículo detectado!).


Como todos sabem, Collor venceu as eleições, e após um governo marcado por medidas boas (abertura dos mercados), e outras discutíveis (confisco da poupança para controlar a inflação), caiu em
meio a um mar de denúncias de corrupção envolvendo seu tesoureiro de campanha, denúncias estas que nunca foram esclarecidas ou provadas... Mas essa é outra história, a que aconteceu.E o que aconteceu não interessa.Vamos ao hipotético:


Caso Lula houvesse vencido as eleições, o efeito imediato seria devastador: como Mário Amato previu, haveria uma fuga maciça de capitais do país, procurando fugir de um possível confisco.
As tensões no campo e nas cidades se aprofundariam, e o governo utilizaria a máquina pública para incendiar ainda mais o ambiente, a ponto de deixar o país à beira de uma guerra civil.Ao mesmo
tempo, montaria um enorme aparato assistencialista para dar esmolas aos pobres e assim ganhar a imagem de "pai dos pobres", tão cara aos populistas.Enfim, traga o que está acontecendo na Venezuela para cá e você terá o quadro completo.


Só que a "Revolução Bolivariana" não vingaria por estas bandas.Chávez consegue sustentar seu populismo barato, malgrado o desastre econômico que é seu governo, apenas porque está sentado
sobre a quarta maior reserva de petróleo do mundo.Como nós aqui não temos essa riqueza fácil, o tesouro quebraria rapidamente.Pressionado pela crise, Lula terminaria exatamente como Fernando De La Rúa: derrubado por panelaços populares, saindo da cena política brasileira de uma vez por todas e voltando a fazer o que ele sabe: cuidar de um torno mecânico.


Depois de um período de turbulência institucional, as coisas voltariam lentamente aos eixos: com uma experiência esquerdista desastrosa no currículo incutiria temor no povo, que relutaria muito
em novamente confiar em um político canhoto.O presidente seguinte do Brasil provavelmente seria alguém afinado com os princípios liberais.E aí poderíamos iniciar uma estupenda arrancada rumo
ao primeiro mundo.


Definitivamente, há bens que vêm para mal.

quinta-feira, março 10, 2005

Justificativas


Estou enfrentando problemas técnicos temporários no PC e por isso praticamente não tenho atualizado isso aqui.Aguentem um pouquinho só, por esses dias estarei de volta no velho (e lento) ritmo.

terça-feira, março 08, 2005

Grandes Frases Que Encontro Em Livros


"A cisão não enfraquece um movimento, mas amplia sua base social, atraindo diferentes partidários e reforçando a corrente principal na luta contra os divisionistas.O exemplo mais evidente disso é o cristianismo".


(Anatoly Ribakov, em seu romance Os Filhos da Rua Arbat, que se passa na era Stalinista.Sempre achei que cristianismo e comunismo tinham lá seus pontos de contato...).

sexta-feira, março 04, 2005

Guerra do Iraque, Final: A Melhor das Soluções


Depois de avaliar o presente e o passado do atual conflito na Mesopotâmia, a melhor forma de finalizar é avaliar o futuro.Mas não vou me meter no complicado exercício de tentar prever o que vai sair dali, se uma nação próspera e democrática ou um país mergulhado em uma tenebrosa guerra civil nos moldes iugoslavos.Apenas descreverei o que seria a melhor coisa a fazer para evitar um confronto interno que surge como desfecho sangrento e melancólico para uma missão que, ainda que deflagrada por fins políticos e estratégicos, se revestiu também de um desejo de libertar um povo de um tirano sanguinário e dar-lhe uma oportunidade de, pelo menos, decidir o próprio futuro.E essa solução é tão simples que sequer é avençada nos esboços futuros, porque totalmente fora de cogitação.Mas solução melhor não poderia haver: dividir o Iraque em três países.Pura e simplesmente.


A constituição do Iraque se deu na mesma época e nos mesmos moldes da Ex-Iugoslávia: facções étnicas ou religiosas hostis entre si sendo forçadas a construir um país em comum.O horrendo fim da experiência nos Bálcãs deveria servir de exemplo para que essa possibilidade fosse considerada, mas os casuísmos tendem a continuar insistindo na convivência entre inimigos históricos.Isso porque o Estado Xiita ao sul, dono do grosso do petróleo, cercado de países sunitas potencialmente hostis, procuraria naturalmente o apoio do grande país xiita da região, que vem a ser o Irã, figadal inimigo dos Estados Unidos, que vetariam a divisão para que tal possibilidade não viesse a tomar corpo.Esperam os americanos que o governo pluralista de um Iraque unificado evitará tal aproximação por força da minoria sunita.O problema é que a minoria sunita praticamente não tem representação, e não parece disposta a resolver o impasse da disputa pelo poder por meios legais.A ameaça de guerra civil paira no ar.


Ao norte o problema é diverso: a minoria curda ocupa praticamente sozinha um território rico em água e com algumas boas reservas petrolíferas.Como os curdos são um povo sem Estado, não haveria a ameaça de seu país se bandear para as hostes de algum inimigo.E nesse caso, a falta de Estado aliado, ao contrário do caso anterior, é parte do problema.As nações circunvizinhas, detentoras de significativas minorias curdas, temem a formação de um Estado curdo independente mais do que a de um Iraque democrático e aliado dos americanos.Isso porque os curdos em seus territórios começariam a pressionar as fronteiras desse novo país, e das duas uma: ou haveria migrações em massa, ou (cenário mais provável) o Curdistão apoiaria os já existentes movimentos separatistas curdos na Síria, na Turquia e no Irã, e não passa pela cabeça da cúpula americana desgostar um aliado estratégico na região como a Turquia.Ver o fantasma de Abdullah Okalam (comandante do PKK, o partido curdo resistente) renascer como um mártir da causa curda, apoiada por um país rico em petróleo situado em suas cercanias é o pior dos infernos que Ankara pode imaginar que surja em meio ao turbilhão iraquiano.


Isso sem falar nos sunitas que, desamparados num território quase sem petróleo, talvez fosse alvo fácil das organizações fundamentalistas e se tornasse o novo QG da Al Qaeda, declarando talvez uma guerra contra os xiitas ao sul e se aliando ao governo canalha da Síria numa repressão ao estado curdo do norte.Pensando melhor, a divisão pode espalhar um rastilho de pólvora que tem tudo para incendiar não apenas o Iraque, mas o Oriente Médio como um todo.Um Iraque unido também traz perspectivas tenebrosas, mas não desagrada aliados nem atira estados no colo de inimigos.Por isso os americanos vão insistir nessa cartada, mesmo sem saber se ela será bem-sucedida.

quinta-feira, março 03, 2005

Guerra do Iraque, Parte II: Um balanço do momento


Todo mundo tem uma opinião diferente acerca da guerra, e geralmente os extremistas de ambos os lados cometem absurdos ao avaliar quem ganhou e quem perdeu com com o atual conflito que se desenrola em terras mesopotâmicas.Vamos tentar então fazer um balancete resumido:


GANHADORES:


1-Xiitas e Curdos Iraquianos: Pelo simples fato de ser quem mais tinha a ganhar e nada tinha a perder.Mesmo a situação atual de conflito é preferível à anterior, porqque agora existe uma esperança, ainda que ameaçada, de um país livre e próspero emergir dos escombros da guerra.Os iraquianos sabem que a outra alternativa era continuar sob o jugo de um tirano cruel e insano, e até mesmo a possibilidade de morte é melhor do que a perspectiva de uma vida inteira de sofrimento.Tanto assim o é que a maioria dos iraquianos acha que a invasão foi boa para o país: os xiitas por terem deixado de ser a escória para ter a chance de subir ao poder pela primeira vez na história do país.Os curdos por finalmente terem a esperança de alguma autonomia em sua longa história de submissão e dominação.Como somados ambos são 75% da população iraquiana...


2-Bush: Não poderia deixar de ser.A imagem de homem decidido a defender a nação ainda que passando por cima da opinião pública mundial foi crucial para seu sucesso nas eleições.Caso contrário, o debate eleitoral seria centrado em questões econômicas, e mal acostumado ao crescimento espetacular dos anos Clinton, o povo americano se inclinaria a reconduzir os democratas à Casa Branca, ainda que fosse um candidato sem sal como Kerry.


Empresas que venceram as licitações para a reconstrução: Ganharam a possibilidade de fazer grandes (e caras) obras para um cliente que tem fama de bom pagador: o tesouro americano.Sim, pois por mais que os esquerdistas digam que o petróleo iraquiano está custeando tudo, a estrutura extrativa está tão deteriorada que os americanos, se quisessem manter um país minimamente governável, se viram obrigados a meter a mão no bolso.Como não têm nada com isso, as empreiteiras estão rindo à toa.


PERDEDORES:


1-Contribuinte Americano: Não vou considerar o Saddam para não ser por demais óbvio, mas depois dele, o maior perdedor certamente foi aquele que está pagando todas as despesas da aventura bushista pelo Oriente Médio, e vê se agigantar ainda mais um déficit que já era considerado grande, e como mestres que são em liberalismo, os americanos sabem que mais imposto = menos desenvolvimento.A própria história estadunidense mostra o quanto esse povo detesta pagar imposto: todos os conflitos internos lá se deveram a pendengas tributárias.


2-Sunitas Iraquianos: Antes uma minoria encastelada no poder, e que deste se utilizava para manter nos grilhões a maioria xiita, os sunitas se vêem agora numa situação desesperadora: a de serem governados por aqueles que maltratava e a quem desprezava, e faz todo o sentido que eles temam ser submetidos a todos os sofrimentos que impingiram aos xiitas.O grande risco é eles considerarem a possibilidade de um confronto interno mais sedutora que a de viver submetidos à autoridade xiita.Como quem sempre exerceu a tirania não espera receber a tolerância, essa é uma possibilidade terrivelmente factível.


3-Países Vizinhos Com Populações Curdas: Os curdos sempre foram os desgraçados do Oriente Médio.Muçulmanos oprimidos pelos próprios companheiros de fé, jamais tiveram que olhasse por eles, nunca homens-bomba se explodiram pela causa de sua independência.Com a queda do regime de Saddam, são enormes as chances dos curdos iraquianos terem um bom naco de terra com relativa autonomia, e um naco de terra com muito petróleo.O que, logicamente, pode insuflar os ânimos das minorias curdas espalhadas pelos países vizinhos, que já militam pela sua independência.O temor de que um estado curdo semi-autônomo nasça das atuais circunstâncias é uma possibilidade que põe Turquia, Síria e Irã de cabelos em pé.

quarta-feira, março 02, 2005

Guerra do Iraque, Parte I: Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa


O provérbio acima citado é uma pérola da sabedoria "nonsense" popular, mas se aplica bem a determinadas situações nas quais as pessoas parecem esquecer essa sentença ridiculamente óbvia e passam a traçar paralelos absurdos e, não coincidentemente, ideologicamente contaminados.E se até um espirro de uma liderança norte-americana corre sério risco de ser ideologicamente interpretado, que dirá uma empreitada complexa e ambígua como a Guerra do Iraque.E não é raro ver as pessoas fazerem uma absurda comparação entre esse conflito e as ocupações efetuadas pela Alemanha Nazista.

Não é preciso ser gênio para perceber que não há base de comparação entre uma coisa e outra.Primeiro: a Alemanha Nazi invadiu nações em sua maioria democráticas, com governos legitimamente eleitos e respeitadores dos direitos individuais.Os EUA invadiram um país oprimido por um tirano assassino e cleptomaníaco, que moveu campanhas de extermínio contra cidadãos de seu próprio país e duas guerras contra nações vizinhas.Segundo: Hitler nomeou cupinchas seus para administrarem os territórios da maneira que bem entendessem, e não há registros de que tenha permitido que alguma nação ocupada realizasse eleições para uma assembléia constituinte com o objetivo de escrever uma nova constituição para o país.

Absurdo maior ainda é comparar a resistência à ocupação americana àquela empreendida contra a ocupação nazista.Ora, o Iraque é uma nação completamente diferente das européias.Enquanto essas já eram na época Estados consolidados e com povos homogêneos, o Iraque é um mosaico de grupos étnicos e religiosos que não se entendem de jeito algum, e que jamais se sentiram parte de um país.A resistência na II Guerra era tipicamente nacionalista.A resistência atual não pode ser considerada "iraquiana" porque os próprios habitantes do país não se consideram como tais.Predomina naquela parte do mundo o regime de clãs e ligações tribais, aonde as pessoas se identificam pelas famílias às quais pertencem e, em última instância, ao ramo do islamismo que professam (sunitas e xiitas).Nacionalismo no Iraque só o curdo, e ao que consta, este povo aceita de muito boa vontade a ocupação, violentados que foram pela ditadura de Saddam Hussein.

E o que vem a ser a resistência? A resposta é dada pelos próprios "insurgentes": um movimento terrorista que visa deestabilizar o país a ponto de conduzi-lo a uma guerra civil e abalar as bases americanas no Oriente Médio.Uma coisa que os entusiastas da "resistência iraquiana" não explicam é o fato de o povo resistir sob o comando de um estrangeiro: Abu Musab Al Zarqawi é jordaniano, e a quase totalidade dos envolvidos em atentados presa é composta por estrangeiros.Será que eles sabem melhor do que os próprios iraquianos o que é melhor para a nação? São mais capazes de empreender missões em um território do que os próprios ocupantes dele?

E o argumento que derruba de uma vez por todas essa comparação ridícula: desde quando resistir a uma ocupação estrangeira significa promover atentados em que 90% das vítimas são nacionais? Será que a resistência francesa, polonesa, norueguesa, etc... atuava contra os nazistas explodindo zonas de aglomeração e matando quase que apenas compatriotas? Francamente, é preciso ter muito miolo mole, ou doses cavalares de vigarice intelectual para comparar a heróica resistência à tirania nazista com criminosos que explodem filas nas quais pais de família procuram emprego para dar de comer a seus filhos.Pensemos um momento nas famílias destes mais de cem mortos nesse último atentado: quantas esposas e crianças estão nesse momento chorando a dor da morte e da indigência devido à "heróica resistência iraquiana"?


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