quarta-feira, maio 23, 2007

O futuro da Turquia

extraído de: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=150746&tid=2533537588732257618

Os turcos há décadas não têm outra opção a não ser se integrar à Europa. Quem acha que os turcos são idênticos ou semelhantes aos árabes demonstra total desconhecimento cultural e histórico. A única semelhança entre turcos e árabes é de fato a religião islâmica. Os turcos são altaicos e falam um idioma uralo-altaico, enquanto os árabes são semitas e falam um idioma semita.

Durante o Império Otomano os árabes viam o sultão de Istambul mais como um opressor e inimigo do que como o comandante máximo de uma grandiosa nação islâmica. O fundador do Wahabismo, tendência religiosa radical que inspirou e inspira o fundamentalismo islâmico era um crítico ácido da "decadência moral" dos imperialistas turcos. O próprio nacionalismo árabe nasceu no início do século passado tendo como pedra fundamental a oposição à dominação turca (somente a partir dos anos 20 começou a incorporar o anti-ocidentalismo e o anti-judaísmo). Reino Unido e França derrotaram os exércitos do sultão turco em estrita colaboração com os líderes dos clãs árabes mais poderosos, que viam na aliança com os ocidentais uma oportunidade de ganhar territórios e poder. Portanto, não dá para mandar os turcos se entenderem com seus companheiros de fé. Árabes e turcos, além de muito diferentes, nutrem em relação uns aos outros profundos ressentimentos históricos.

Que outra saída resta aos turcos então? As outras nações de composição etnolinguística similar à turca são ex-repúblicas soviéticas como Azerbaijão, Cazaquistão, Turcomenistão e Uzbequistão, com quem os turcos passaram décadas sem contato algum e que hoje são cultural e economicamente mais próximas da Rússia e da China do que da Turquia.

Restou-lhes então a Europa Ocidental. Quando a Turquia moderna foi erigida por Mustapha Kemal "Atatürk" sobre os escombros do Império Otomano, ele já sabia disso. Sem possibilidade de acordo com os vizinhos árabes que os detestavam e isolados de seus primos culturais que integravam então a União Soviética bolchevique, os turcos olharam para o Ocidente.

Kemal conduziu então um vendaval de secularização sem precedente na história do Islã e que deixou até mesmo alguns processos secularizantes ocidentais no chinelo. O Estado foi desvinculado da religião, o ensino foi laicizado, o Corão e as Suras deixaram de ter valor legal e um código civil copiado dos códigos francês e suíço passou a reger a vida dos cidadãos, o alfabeto árabe foi substituído pelo latino no prazo recorde de seis meses, a poligamia foi proibida e o sultanato substituído por uma república parlamentarista.

Desde então as relações diplomáticas e comerciais da Turquia são mais intensas com a Europa do que com qualquer outra vizinhança. Não foi à toa que a Alemanha Ocidental preferiu importar trabalhadores da Turquia, enquanto a França trazia magrebinos e africanos em geral e o Reino Unido trazia caribenhos e indianos. Era um reconhecimento às boas relações cultivadas entre ambas as nações desde a época da República de Weimar.

E nunca é supérfluo lembrar que a Turquia esteve desde o início da Guerra Fria ao lado do Ocidente. Entrou para a OTAN ainda nos anos 50 e as bases de mísseis norte-americanos lá instaladas, nas proximidades da URSS, funcionaram como um importante elemento dissuasor de contendas mais "quentes" entre as duas grandes potências. E aí os turcos bem que poderiam fazer uma singela perguntinha: "se somos aliados o suficiente para integrar a OTAN, por que não o somos o suficiente para integrar a UE?". Se nações que há bem pouco tempo eram comunistas e abrigavam em seus territórios mísseis soviéticos que constituíam uma tácita ameaça à democracia e à prosperidade da Europa Ocidental, podem ser admitidas, por que os turcos que sempre foram aliados militares não o podem? Bósnia e Albânia também são majoritariamente muçulmanas, mas nunca apareceu ninguém que dissesse que elas não são européias. E o que dizer da Rússia, tida e havida como européia e que foi uma ameaça ao Ocidente durante três quartos de século? E da Alemanha, que há 60 anos tentou escravizar o continente inteiro?

Resumo da ópera: A Turquia é um caso à parte. E casos a parte merecem ser tratados como tal. É possível apontar algumas objeções à entrada da Turquia na União Européia, dentre elas o não-reconhecimento diplomático do Chipre, que é integrante do Bloco, a questão curda, altamente complexa e potencialmente explosiva, ameaças pontuais ao secularismo como a atual (embora as manifestações dos últimos dias mostrem que o movimento pró-Estado Laico é mais forte e influente que qualquer pendor teocrático). Mas uma vez removidos tais obstáculos, não restam razões para que a UE deixe de admitir a Turquia.

Medo de terroristas turcos? Ora, a maior ameaça à Europa não resite na Anatólia, nem mesmo no Oriente Médio, mas nas periferias das grandes cidades da própria Europa. Garanto que Londres, Paris, Amsterdam, Bruxelas e Madrid têm mais fundamentalistas islâmicos integrados a redes terroristas do que Istambul. E é interessante notar que de todos os muçulmanos residentes na Europa, os turcos são justamente os que conseguiram assimilar melhor o modo de vida ocidental. É ridículo a Europa temer um futuro Mehmet Ali enquanto milhares de Mohammeds Bouyeris circulam livremente em suas ruas e portam passaportes comunitários e cidadanias ou mesmo nacionalidades européias, o que lhes dá plena liberdade de ação no âmbito da UE.

O que sobra de objeção é a choradeira de religiosos inconformados com o fato de o secularismo ser hoje mais definidor da identidade cultural do Ocidente do que a religião cristã. Mas é compreensível que o último monarca absolutista teocrático do continente se revolte contra essa situação. O que não fará os relógios retrocederem ao século XVII. Se formos contar os cristãos que realmente freqüentam igrejas e professam sua fé no dia-a-dia, é capaz de se encontrar mais cristãos na Turquia do que na Suécia. Ou na República Tcheca, onde mais da metade da população se declara sem religião, e que foi aceita na UE sem alardes histriônicos.

Dê-se à Turquia o direito de entrar na União Européia! Mas não agora...

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segunda-feira, maio 14, 2007

Wind of change

Na música de mesmo nome, a banda alemã Scorpions descreve com muito lirismo e com uma belíssima melodia a sensação de sentir os ventos da mudança soprarem no leste europeu na segunda metade dos anos 80. E o que chama a atenção é o caráter repentino do processo: em 1985 ninguém diria que o bloco comunista europeu estava bem perto da derrocada, que o muro de Berlim cairia dentro de quatro anos e a própria União Soviética implodiria em cacos e escombros dois anos depois.

Tratar-se-ia de mais um post político chato? Não, minha intenção hoje é outra. Sempre ocupei demais esse blog com política, e isso me bloqueou de falar sobre tantas outras coisas que adoro e sobre as quais tenho opiniões (grande novidade, sempre me consideraram uma pessoa opiniosa).

O vento da mudança ao qual me refiro é o que começou a soprar esse ano como uma leve aragem, mas que em breve se transformará num furacão que derrubará estruturas e transformará dramaticamente o mundo e a mentalidade das pessoas. E é algo para breve: para a próxima década, ou no mais tardar a seguinte. Não, você não está lendo mais um post-catástrofe sobre o Aquecimento Global. Trata-se de algo muitíssimo mais impactante. Mesmo os menos atentos em noticiários científicos souberam da descoberta de um planeta rochoso similar à Terra e dentro da zona de habitabilidade de sua estrela. OK, não há nada que prove que lá exista mesmo vida, que dirá uma civilização tecnológica. Mas a descoberta não se trata de um fato isolado. Na verdade, é apenas o começo da Segunda Grande Revolução da astronomia, eu diria até mesmo superior à primeira dos anos 60.

Explico: ano passado, quase sem alarde, foi lançada o primeiro satélite capaz de encontrar planetas telúricos. O Corot vai examinar centenas de milhares de estrelas, e mesmo sua técnica de busca ainda favorecer o achado dos chamados Júpiteres quentes (planetas gigantescos quase colados em suas estrelas, os mais fáceis de se detectar pela atual técnica da perturbação gravitacional), ele vai encontrar algumas dezenas, quiçá centenas de Terras por aí.

E não é só isso: menos de um mês da descoberta da outra Terra, astrônomos já conseguiram medir temperatura e condições atmosféricas de outro planeta (nem adianta se animar: o dito-cujo é um trambolho maior que Júpiter pertíssimo de sua estrela, três vezes mais quente que Vênus). Claro que a chance de encontrarmos prova concreta de vida fora da Terra nesses próximos anos é pequena. Mas o que importa é o precedente.

A coisa promete esquentar na década que vem, com o lançamento do TPF (Terrestrial Planet Finder) previsto pela Nasa para ocorrer por volta de 2015. Como o nome sugere, a missão terá como objetivo encontrar planetas similares à Terra numa raio de 50 anos-luz. E será sensível o suficiente para detectar inclusive a composição atmosférica de tais planetas . A Agência Espacial Européia, mãe do Corot, também promete novas missões nesse sentido para a mesma época. E se ainda assim não obtivermos prova irrefutável de vida fora daqui, a geração seguinte de sondas, prevista para a década de 2020, solucionará o problema. Seus equipamentos teriam capacidade de enxergar mesmo as superfícies de planetas extra-solares.

De tal modo que não há como escapar: se a vida realmente existe e é abundante no cosmo como os últimos dados parecem sugerir, nós a encontraremos em muito breve, com certeza antes de 2030. É, portanto, bastante provável que sejamos a última geração de pessoas que aprendeu a ver a vida como uma exclusividade terrena, uma jóia rara e preciosa, perdida e solitária nesse rincão da galáxia. O impacto que exercerá a notícia de que há vida la fora é imensurável e imprevisível, e é capaz de mudar as visões de mundo de bilhões de pessoas de forma repentina e dramática. E assim que encontrarmos provas de vida, não demorará nadinha até fazermos contato com civilizações de alto nível tecnológico, assim como os portugueses demoraram quase um século para contornar a África, mas estavam dando a volta ao mundo apenas vinte anos depois.

A questão que me fascina e atormenta é como as religiões, principalmente as monoteístas, que partem todas do princípio de que o ser humano é especial e único no projeto da vida, encararão esses fatos. Como poderia Deus ter espalhado vida por todo o universo e ter enviado profetas e salvadores apenas para a Terra? Da mesma forma que conhecer outras etnias e culturas totalmente distintas mudou radicalmente a forma de pensar dos europeus do século XVI, acredito que uma nova série de revoluções ideológicas e intelectuais que não somos sequer capazes de imaginar se desencadeará a partir de então. Sentiremos finalmente, depois de meio século confinados em nosso planeta, a necessidade de sair e explorar o que há lá fora que inebriou nossas mentes nos anos 60. Sendo que o "lá fora" dessa vez não é apenas nosso satélite: é nosso sistema estelar inteiro, e quiçá outros.

Como assim outros, vocês devem estar se perguntando? Se mal conseguimos manter meia dúzia de humanos voando 400 quilômetros acima de nossas cabeças, como poderemos mandá-los para as estrelas no espaço de tempo de nossas vidas? Essa é uma resposta que darei em breve (mesmo!). Aguardem.

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sábado, maio 05, 2007

A dialética canalha do petralhismo

No Piauí, como acredito que seja em outros estados, o PFL sempre carregou, não sem alguma justiça, o estigma do partido fisiológico por excelência. Seus políticos têm a imagem de corruptos venais dispostos a qualquer coisa para usufruir de uma mamata. Já o PT era o partido sério de gente honesta comprometida com ideais e que salvaria o estado da pobreza. A lógica incutida por milhares de professores em todos os níveis de ensino era a de que votar no PT seria um compromisso para retirar o nosso estado da vanguarda do atraso. Nas últimas eleições, ouvi esse discurso à exaustão. E eis que o governador Wellington Dias se aliou com o homem mais rico do estado e ganhou a eleição ainda no primeiro turno.

O delírio orgásmico dos antipefelistas, no entanto, sofreu um duro golpe na manhã seguinte. De repente eles descobriram o motivo pelo qual o PFL daqui não havia lançado candidato a governador, embora seja o partido que tem o maior número de prefeitos e vereadores no estado: fizeram uma aliança secreta com o governador, que montado na grana do magnata João Claudino (demonizado pelo PT durante vinte anos, mas aliado incondicional nos dias que correm) comprou quase todas as lideranças pefelistas locais, e estas deram uma contribuição decisiva para seu retumbante sucesso nas urnas. Tarde demais os crédulos (para não usar o termo "otários") descobriram que foram enganados pelos petralhas. Hoje figurões históricos do pefelismo ganham secretarias importantes e cargos generosos, e até mesmo um arranjo político foi feito para que um pefelista derrotado nas urnas (Leal Júnior) assumisse uma vaga na assembléia como suplente.

Que tipo de reação esperar então? Que eles reconhecessem que caíram como patos no canto venenoso da sereia petralhista? Coisa nenhuma! Incapazes de admitir que o outrora partido dos puros e imaculados os fez de tolos enquanto ganhava seus preciosos votinhos, as desculpas da hora apelam para a "maturidade política" do Partido da Trapaça. Trocando em miúdos: antes quem se aliasse com os pefelistas estava se mancomunando com ladrões e atravancando o desenvolvimento do estado. Agora que o petismo desfila alegre e despudorado de braços dados com a fina flor do pefelismo mais clientelista, eles se embevecem com a capacidade do governador de "costurar alianças acima das desavenças políticas em prol do desenvolvimento do nosso estado". Eis a dialética canalha do petralhismo.

De tal modo que eu desisto. Sabe aquela mulher que apanha todo dia do marido, mas sempre inventa uma desculpa para justificar seu comportamento e ainda reage irada contra quem o critica ou o denuncia às autoridades? Pois é, esse tipinho tem mais é que apanhar bastante, já que parece gostar de uns tabefes.

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