segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Mistérios Insondáveis Da Humanidade

O que vem a significar esse inspirado, lúdico e, por assim dizer, rosajoyceano neologismo que atende pelo epíteto (alcunha é coisa de gentinha) de "bundalelê"?

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

É tão barato assim?


Juro que eu não queria falar sobre a eleição para presidente da Câmara Federal, porque só ia chover no molhado, e além do mais, o próprio eleito disse às claras a que veio.Parei para esperar a reação dos mais diversos setores ao resultado das eleições, principalmente do que ainda resta do estropiado liberalismo no Brasil.E qual não foi então a minha surpresa!

Como todos sabem, existem dois grupos de liberais: os progressistas e os conservadores, e embora ser conservador e liberal ao mesmo tempo seja por si uma contradição em termos, não é bem disso que eu desejo falar.O que me surpreendeu foi o tom com o qual alguns "conservadores liberais" (seja lá o que signifique isso), receberam o presidente eleito, de discurso notorialmente corporativista e antiliberal.Alguns como o Nivaldo Cordeiro chegaram a dar as "boas vindas" ao sujeito! Tudo isso baseado no fato de que, apesar de ser um estatista, ele gostou das convicções morais de Severino.

Aqui então eu concluí: é por isso que o liberalismo no Brasil é tão desacreditado.Essa facção conservadora acatou com benevolência que beirou a simpatia um homem cujas propostas são ainda piores que as da esquerda tradicional.Esta ao menos dá uma desculpa nobre, porém errônea, para o aumento do gasto público e do intervencionismo: a tão propalada "justiça social" (que eu também ignoro o que seja).Já Severino propõe que o garrote tributário seja mantido na sociedade para bancar empregos e verbas públicas para os ricos e assistencialismo barato aos pobres.

Sob certo ponto de vista, até não considero a eleição de Severino um desastre, pois a possibilidade de Luiz Eduardo Greenhalgh, um capacho do governo e defensor de terroristas, seria ainda mais tenebrosa, e apesar de tudo, ao menos o tal Cavalcanti se propõe a criar empecilhos para a tal MP 232, o que não deixa de ser uma virtude.Ou não, porque quem deseja aumentar os gastos da Câmara vai aumentar impostos em outro lugar e de outra forma menos acintosa (aliás, o governo Lula só propôs essa medida descarada porque confiou no seu poder de manipulação sobre o congresso e a sociedade, mas essa também é outra história...).E os conservadores então se encantaram quando Severino disse que iria travar todas as tentativas de avanços nas questões relativas a aborto e casamento gay, e o já citado Nivaldo Cordeiro comemora, pois segundo ele "o avanço nessas áreas no Brasil ultimamente tem sido delirante".

Gostaria de saber em que país Nivaldo Cordeiro vive, pois com certeza não é o meu.Durante esses dois anos de mandato o projeto que regulamenta a união civil entre homossexuais, que já vinha caminhando a passo de lesma no governo FHC, foi jogado de vez na geladeira pelo governo atual.Há anos não se ouve nem falar no dito-cujo.E quanto ao aborto, mesmo tendo as duas casas nas mãos durante dois anos, o Palácio do Planalto não moveu uma palha sequer para garantir a realização do aborto nas condições já previstas em lei (aborto e malformação fetal), que dirá para ampliar as situações em que o mesmo possa ser realizado.Convenhamos, se o governo não quis levar esses projetos em frente nem quando tinha congresso e opinião pública nas mãos, porque iria tentar agora, mesmo que houvesse feito o presidente da casa? Considere-se ainda que a CNBB é radicalmente contra quaisquer avanços nessas duas áreas, e o PT não seria idiota de desgostar essa organização que sempre serviu aos seus propósitos.Não se preocupe, Nivaldo, não será no governo do PT que o país verá esses avanços.

E vejam quão barato custam esses conservadores que se dizem "liberais" na economia.Basta um afago em seus moralismos antiquados e eles se prontificam a abençoar o mais descarado estatismo.O liberalismo dessa gente parece ter o mesmo preço e natureza daqueles famigerados produtos vendidos a dois reais menos um centavo em qualquer revenda de quinquilharias dessas que se espalham Brasil afora.Tudo bem que a eleição do Greenhalgh seria uma tragédia, mas não precisa comemorar a eleição do Severino, que no atacado, é tão estatista quando o candidato por ele derrotado.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Um Assassinato Cristão



Você é um cristão perfeitamente convicto de suas crenças e praticante de todos os mandamentos deixados por Nosso Senhor Jesus Cristo.Seu melhor amigo também é um modelo de virtude e pureza, uma pessoa que sempre seguiu à risca os mandamentos.Vocês estão em um almoço dominical com suas respectivas famílias, e de repente, você pensa: meu amigo é uma pessoa tão virtuosamente cristã, tão seguidora dos mandamentos das escrituras que certamente irá para o céu quando morrer.E você fica contente.Mas logo uma nuvem negra perpassa pelo seu pensamento: “mas será que ele se preservará virtuoso até o fim da vida? Ainda é jovem, tem décadas de vida pela frente, e pode cair em tentação, afinal todos estamos sujeitos a elas, e então perderá seu lugar no paraíso”.

Neste momento você está quase a chorar de tristeza pela possibilidade que seu grande amigo não conquiste a salvação eterna e vocês não possam reunir suas famílias no paraíso e confraternizar por toda a eternidade, assim como estão fazendo naquele instante.Mas como evitar que ele caia em tentação, é a pergunta que você se faz, cada vez mais desesperado por não obter uma resposta, afinal, por mais que você o aconselhe e reze para que ele não saia do caminho da retidão, nada disso impede que ele porventura resvale para o domínio do pecado.O desespero por não poder evitar uma possível recaída o domina cada vez mais.

E de repente, sua mente se ilumina.Como não havia pensado naquilo antes? A única maneira 100% garantida de impedir que seu amigo peque e perca as graças do paraíso é matá-lo ali mesmo, antes que lhe apareça a oportunidade de ceder à tentação mais cedo ou mais tarde.Como bom cristão que é, você hesita: não é justo privar a família dele de seu convívio.Mas a dúvida logo se dissipa: ele vai para o paraíso, onde viverá eternamente, e em breve esposa e filhos dele estariam em júbilo pelo reencontro definitivo, pois como a vida no paraíso é eterna, não haverá mais separações.E não era o apóstolo Paulo que dizia que “os sofrimentos do presente em nada se comparam com a ventura da vida que me espera após a morte?” Em dentro de algumas décadas, todos estariam reunidos novamente, seria apenas uma separação temporária, para que não corressem o risco de se separarem eternamente, no caso dele debandar para as hostes de Satanás. É preciso, pois, agir rápido!

E rápido você age: pega a faca com a qual estão cortando a picanha do churrasco e a enterra profundamente no coração do seu amigo.Ele geme, se contorce de dor, e como bom cristão que é, você abrevia-lhe o sofrimento: corta a jugular, e em poucos minutos ele jaz no chão, exangue e sem vida.Mas ganhou o paraíso! É o pensamento que o consola, que empresta a mais nobre das causas ao crime que você acaba de cometer.Você livrou o seu amigo da maior de todas as ameaças, a de ir para o inferno de fogo, onde há choro e ranger de dentes.Obviamente, as leis dos homens não compreendem sua ação.E você é preso.

Na cadeia, o desespero o domina, mas agora por outro motivo: seu amigo está salvo, com certeza.Mas, e você? O assassinato é um crime, contraria o Quinto Mandamento.A sua nobilíssima ação de enviar para o céu seu amigo antes que pudesse ele se desviar para o inferno custou a sua própria salvação.Certamente você está condenado ao inferno, certo?

Errado.Como bom cristão que você é, recorda o que Jesus disse: “ama ao teu próximo como a ti mesmo”.E o que foi a sua atitude senão uma demonstração de amor ao próximo? Você se dispôs a sacrificar a própria salvação em prol de garantir a do seu amigo.Você fez aquilo que Jesus fez por toda a humanidade: assim como ele sofreu e morreu para salvar a humanidade, abrir a ela as portas do paraíso que se encontravam vedadas desde Adão, você sacrificou a sua salvação para assegurar a de um amigo, a de outro cristão! Que atitude poderia ser mais nobre, mais cristã, do que imolar a si próprio em benefício dos outros? Como pode Cristo condenar alguém capaz de tamanho ato de desapego a si mesmo? Como ele disse ao jovem rico: “vai, dá tudo o que tens aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”.E não foi exatamente isso que você fez? Entregou muito mais do que seus bens, seu sacrifício foi muito maior do que o exigido por Cristo ao jovem.Não entregou apenas seus bens terrenos, mas sim seu bem mais valioso: sua própria salvação.Impossível cumprir mais à risca as ordens de Cristo.Você superou mesmo as melhores expectativas dele em relação aos homens.

Nesse momento, Cristo certamente está com os olhos marejados, embevecido com o gesto de desprendimento e nobreza que você praticou.Nem mesmo seus apóstolos e discípulos mais fiéis sacrificaram algo tão valioso em prol do próximo! O cordeiro de Deus reconhece que você o imitou, com coragem e desapego que jamais ser humano nenhum manifestou.Ah, se todas as pessoas fossem tão cristãs, tão dispostas a sacrificar aquilo que de mais valioso possuem (a própria salvação) para salvar a alma do próximo!

Mas uma dúvida cruel assalta seu pensamento: e se seu amigo não fosse tão virtuoso quanto aparentava ser? Seu crime então, longe de elevá-lo aos píncaros do paraíso, o lançou às profundidades abissais do inferno.Porém, como poderia você saber disso? Seu ato, independente de seu amigo, teve a melhor das intenções, foi baseado numa pureza de espírito e amor incondicional que só encontra paralelo no próprio sacrifício do Salvador.Então isso é mais do que suficiente para assegurar a sua salvação, não? Certo, você descumpriu um dos mandamentos.Mas o que é isso, comparado com o ato de se elevar a patamar tão próximo ao do Messias? Você deveria ser canonizado, já tem lugar garantido à direita do Senhor.Seu amigo o espera nos jardins verdejantes da Nova Jerusalém.As provações terrenas são ninharias perto da felicidade que o aguarda após a morte.A família de seu amigo sofrerá com a ausência dele, seus filhos crescerão sem pai, em dificuldades.E você vai sofrer por décadas trancafiado em uma prisão.Mas lembre-se de como os primeiros cristãos se martirizavam, encaravam o suplício das arenas de feras com galhardia, certos de que haveriam de ganhar o paraíso por disporem a própria vida nas mãos do Salvador.Este mundo um dia passará.E então, será toda a eternidade que terão para estarem juntos novamente.Deus é o supremo bem, irmãos.Aleluia!




Publicado originalmente no Novometal.com.Deixem de ser preguiçosos e visitem o site mais completo de Heavy Metal do Brasil, se vocês apreciam o estilo, é claro.Ah, sim, o texto é de minha autoria.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Casa de Bonecas, ou Nunca Abandone um Livro Antes do Final


Sabe aquele escritor de quem você ouviu falar muito bem, não é tão badalado e vem de um país meio exótico? Essa combinação costuma exercer um forte atrativo sobre leitores ávidos, e foi assim que resolvi investir dinheiro em Casa de Bonecas, do norueguês Henrik Ibsen (que é, sim, bem conhecido nos meios literários, mas não é um daaqueles escritores que você sempre tem na ponta da língua), considerada uma obra-prima do realismo a nível dramático.

As linhas gerais da história, a princípio, não despertaram muito interesse: uma esposa virtuosa que, num ato de amor extremo para salvar o marido, se compromete com um homem pouco escrupuloso.Um enredo tipicamente romântico, e a história quase toda narra as peripécias de Nora Helmer, que têm como objetivo impedir que seu marido Torvald conheça o segredo, e nas tentativa de se esquivar da chantagem que lhe impõe o desonesto Krogstad, homem que mascara sua mesquinhez de caráter através de um estratagema nem tão inédito: o da auto-vitimização, recurso que, ainda assim, ajuda a acrescer um tom além do preto-e-branco de um simples vilão.

No transcorrer da narrativa vamos conhecendo o caráter de Nora, abnegada aos seus deveres e disposta a extremos para defender aqueles que ama.Torvald, o marido zeloso até demais, que na ânsia de proteger a esposa, sufoca-a de cuidados.A triste história de Dr. Rank, que no comunicar da proximidade de sua morte declara seu amor a Nora secretamente, também chama um pouco a atenção, mas nada que merecesse tanto apupo da parte da crítica em geral.Estava já a imaginar o que Ibsen fizera para ter tal reconhecimento, ou considerando que Casa de Bonecas, apesar da propaganda, estava longe de ser sua melhor obra.

Mas Ibsen prega uma peça e tanto no leitor que, porventura, leu até o final.Ou ao espectador que ficou para a última cena.Exatamente no momento em que tudo se resolve satisfatoriamente para todos, e o casal Helmer poderia viver feliz para sempre, num epílogo digno dos mais chinfrins similares românticos nacionais.Neste último diálogo, finalmente, ele mostra a que veio: apesar de tudo estar resolvido, e sua felicidade novamente assegurada, Norma simplesmente resolve deixar tudo para trás, e percebe que nunca pensou por si mesma, nunca foi um indivíduo, apenas uma bonequinha que "passou das mãos do pai para as do marido", nas palavras da própria.

Este último diálogo dura apenas vinte das quase duzentas páginas, mas vale todo o dinheiro investido e ainda sobra troco.É uma conversa forte, na qual todas as convenções da sociedade da época nada valem, estão apenas Nora e Torvald, em igualdade de condições, discutindo o lugar dela perante a família, o mundo e si mesma.Calma e serena, joga na cara do marido que ele jamais a amou enquanto pessoa, mas apenas enquanto mãe e esposa ideal, apenas enquanto representava um papel conveniente, e quando descobriu sua atitude temerária, a repudiou, para em seguida acolhê-la de volta assim que constatou o desfecho feliz do caso, como se nada houvesse acontecido.

A crítica é feita não apenas aos valores da sociedade, mas também ao próprio ideal romântico, pois Nora, como uma heroína romântica, fizera um sacrifício pelo seu amado, e dele não recebeu a contrapartida.Sua decepção provoca a descrença em tal ideal, fazendo-a lançar-se à procura de outro.Todo aquele sonho dourado do casamento feliz que vivera por oito anos se revelara falso, um embuste, sua vida era uma autêntica "Casa de Bonecas", onde tudo funcionava bem a gosto de quem a controlava.Contra o conforto dessa letargia, a própria Nora se impõe o desafio de viver sozinha, de pensar sozinha, de ganhar alguma experiência de mundo para dela extrair sua própria compreensão.Sua postura pode ser taxada de inocente, e não o deixa de ser, pois ela se sentia como uma criança que percebia todo um mundo lá fora, e queria sair para explorá-lo sem reservas, ainda que se expondo a todos os seus riscos.Se nos dias de hoje tal visão ainda é considerada subversiva, na sociedade vitoriana do século XIX, beirava a heresia.

Por 170 páginas, uma história nada surpreendente e pouco interessante.No último diálogo, uma mensagem pungente de liberdade individual, uma análise fria e crua das conveniências que aprisionam o ser humano, um grito de independência que ecoa profundamente nos leitores e espectadores.Casa de Bonecas corresponde com sobras às expectativas, e mostra que, por mais que a tentação seja grande, nunca se deve abandonar um livro antes do final.

domingo, fevereiro 13, 2005

Momento Sapiencial: grandes filósofos brasileiros


Ele é o maior filósofo brasileiro de todos os tempos, magnânimo e excelso erudito, que nos auspícios de sua sapiência, proferiu a seguinte pérola:


"Quem gosta de beleza interior é decorador"

Quem é ele? Ora, caros leitores, não creio que os senhores ignoram a existência e a pujança intelectual dessa eminente figura que de vez em quando está a nos brindar com sua jactante perspicácia.Sagaz e original pensador, participante de reality shows nos momentos de tédio, certamente para estudar aqueles espécimes bizarros que conseguem se submeter a experiência tão deprimente sem nenhum objetivo sociológico- ou proctológico- por trás (heeeeeeeiiinnn????).Ele é o grande Alexandre Frota (Ou seria Alexandre, o Grande, Frota? Droga, nunca fui bom nesse negócio de fazer trocadilhos cretinos).

sábado, fevereiro 12, 2005

(MAIS) UMA PROPOSTA


Donos de faculdades privadas reclamam, entidades de classe vinculadas às universidades públicas reclamam, diretórios estudantis reclamam... Parece que difícil mesmo é encontrar alguém que acredite que a reforma universitária em discussão trará alguma mudança para melhor no ensino superior no Brasil.Uns dizem que o projeto estatiza a educação superior privada, outros que privatiza a universidade pública.A primeira possibilidade é bem plausível, dada a sanha estatizante que possui o atual governo, a segunda, absurda, por falta de vontade governamental de confrontar as poderosas entidades de classe vinculadas ao ensino público.Talvez o mais provável seja um equilíbrio entre esses opostos por conta da vontade do governo em diminuir o poder de fogo dos empresários e das entidades de classe, trazendo-os o máximo que puder para sua tutela.


Mas já que todos reclamam e ninguém lança propostas alternativas, dou aqui meu contributo à discussão.Não escondo que a privatização total seria uma possibilidade interessante, mas duvido muito que a pressão dos sindicatos deixasse tal proposta tomar corpo, e por outro lado, nosso ensino superior é tão estatizado e sucateado que uma privatização repentina a curto prazo agravaria ainda mais os problemas, com grandes possibilidades de o "fenômeno Rússia" se repetir, com aquisições feitas de forma obscura segundo interesses escusos.Atrevo-me, pois, a lançar um caminho alternativo, que também tem pouca possibilidade de ser levado a sério, mas me parece ser o mais viável e menos traumático no momento: não uma privatização, mas uma mudança de status jurídico das universidades públicas.


Atualmente, as instituições públicas de ensino superior são autarquias, vinculadas ao estado, se estaduais, ou ao governo federal, se federais.Como tais, elas auferem suas receitas por meio de impostos que lhes são repassados pelas entidades às quais são vinculadas (existe a cobrança de taxas de inscrição e matrícula, mas não entremos na constitucionalidade de tal matéria).Como suas receitas não estão diretamente ligadas ao serviço que prestam, não há motivação para que a universidade seja eficiente ou superavitária.Aliás, a incompetência educacional e financeira, como bem sabemos, costuma ser recompensada com mais e mais verbas, como se problemas de método e logística fossem resolvidos com mera injeção adicional de recursos.E além de não precisarem ser boas para terem dinheiro, ainda por cima gozam de inúmeros privilégios processuais, como prazos dilatados para recorrer e possibilidade de fazer uma dívida rolar indefinidamente mediante apresentação de precatório.Quem é credor de instituição pública entende bem do que estou falando.


Como mudar este quadro deplorável no qual a incompetência não só é impune como premiada? Simples: altere-se o status das universidades públicas, de autarquias para empresas públicas e sociedades de economia mista.Faria alguma diferença? Bastante, pois ao serem assim denominadas, estariam elas submetidas às mesmas regras de mercado que o ensino superior privado obedece, tendo que auferir receitas por meio dos serviços que presta (ou seja, teria que se sustentar por cobrança de taxas dos alunos).No caso das sociedades de economia mista, além do que já foi descrito, ainda haveria a possibilidade de entrada de capital privado nas universidades públicas, podendo estas aproveitar a grande oferta de dinheiro a nível mundial neste campo.Tendo que jogar as regras do mercado e precisando conquistar sua receita por meio dos serviços que prestam, as universidades públicas seriam forçadas a melhorar seu ensino e otimizar seus gastos por questão básica de sobrevivência.Sem falar que seria bem mais fácil excluir um professor incompetente, pois ele não mais estaria protegido por um estatuto corporativista, mas submetido às mesmas disposições que regem a vida dos trabalhadores da iniciativa privada.


Caso esteja parecendo muito bom para você, caro leitor, lamento informar que minha proposta jamais seria aprovada, mesmo que chegasse a ser levantada.Os estudantes jamais abdicariam de livre vontade à sua atual condição de parasitas da sociedade, ao jogarem nas costas desta o custeio de sua educação.Os professores jamais aceitariam ser submetidos à CLT que eles tanto enaltecem, porque poderiam com mais facilidade ser demitidos por incompetência, e não teriam a folga que têm hoje para fazer de sua ausência em sala de aula uma presença assídua (lembra-se daqueles professores malas que mais faltam do que dão aula, bem mais abundantes do que os cumpridores estritos de horários? Pois é, o atual sistema os protege ao praticamente impossibilitar sua demissão).Todos querem viver na redoma dourada do parasitismo social, num mundo no qual não se paga pelo que se consome e é possível prestar um serviço precário e ainda ser remunerado acima da média de mercado.Estamos a viver na utopia das sanguessugas.E os hospedeiros, enquanto definham ante a drenagem de seus recursos, aplaudem entusiasticamente seus parasitas.

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Uma no cravo, outra na ferradura


Aqui neste abatedouro de reputações e conceitos ninguém escapa da fúria do açougueiro; depois de cutucar os católicos no post anterior, eis que agora ele corre de machadinha na mão no encalço dos maiores rivais dos primeiros: os protestantes.

Lembro que recentemente aluguei uns filmes, e sempre gosto de ver os trailers, para orientar minhas escolhas futuras.Num deles, vi um filme sobre Lutero, este interpretado pelo britânico Joseph Fiennes.Pelo esboço geral da história deu para perceber a abordagem da película: o reformador protestante é mostrado como um homem íntegro, preocupado com a ética e com senso de justiça que beirava o altruísmo, capaz de arriscar sua reputação e a própria vida pela causa nobre que defendia.

Não vou alugar essa fita porque não quero jogar dinheiro fora, e nem preciso fazê-lo para julgar equivocado o enfoque dado ao caráter de Lutero.A verdade é que ele não era nada disso que foi mencionado acima.Pelo contrário, era tão preconceituoso, mesquinho, elitista e anti-semita quanto aqueles que combatia.Sua cruzada contra a Igreja também não demonstra coragem moral: desde o início ele teve apoio de parte da nobreza alemã, interessada que estava em tomar para si as propriedades eclesiásticas, portanto não correu grandes riscos.E era, acima de tudo, um sectário.Exortou os nobres alemães a esmagarem violetamente o movimento anabatista de Thomas Münzer, usando expressões como "cão raivoso" para designar os seguidores dessa doutrina que, afinal de contas, era tão dissidente quanto o próprio luteranismo, apenas com o defeito de ser demasiado messiânica e idealista.

E como um fanático racista e mesquinho ganhou essa aura de santo defensor dos valores cristãos? A culpa, a meu ver, cabe em grande parte a alguns historiadores sem filiação religiosa (agnósticos e ateus), que em sua cruzada contra o catolicismo não hesitaram em endeusar figuras torpes apenas pelo fato de serem anti-católicas.Robespierre e os diversos ditadores comunistas foram outros que ganharam tinturas mais amenas aos olhos da história pelo mesmo motivo de Lutero.

Não estou defendendo o catolicismo (vide post anterior), mas penso ser uma idiotice amenizar a imagem de certas figuras históricas apenas por haverem estas se oposto à Igreja Católica, ou a qualquer religião.Lutero, Robespierre e Lênin, para citar três figuras, não deixam de ser fanáticos de diminuta estatura intelectual, quais quer que sejam as máscaras históricas que lhes sejam colocadas.Para usar uma metáfora de momento, o carnaval passa, e na Quarta-feira de Cinzas, invariavelmente as máscaras caem e uma implacável ressaca ideológica marca o melancólico fim das horrendas criaturas escondidas sob belas fantasias.

SUBVERSÃO DE PRINCÍPIOS



A caridade tem sido usada no decorrer dos tempos como estandarte-mor da propaganda cristã: os mais fanáticos chegam a afirmar que o cristianismo inventou a caridade, numa tentativa pueril de afirmar que durante os 98 000 anos de existência da humanidade até então nunca jamais alguém havia pensado em ajudar quem quer que fosse.Os mais cautelosos não chegam a tamanho disparate, mas enfatizam o quanto a Doutrina Cristã enfatiza e incentiva as pessoas a se ajudarem mutuamente de forma descompromissada, movidas apenas pelo amor a Deus e ao próximo.


Tenho lá minhas dúvidas, mas o cristianismo, não sei se num lapso de coerência ou numa esperta politicagem ideológica, não deixa claro de que maneira nós atingimos a salvação: há passagens que dizem que apenas pela graça de Deus (Ef 2:8-9); pela fé (Gl 2:16); pelas obras (Rm 2:6); pela fé e pelas obras (Tg 2:24)... Como a adoção de uma vertente exclui automaticamente as demais, constatamos que algum deles está necessariamente mentindo, mas não é essa a questão central aqui levantada.Considerando a posição aceita pela Igreja Católica, que é a mais antiga denominação cristã ainda em atividade, somos salvos pela fé e pelas obras.Pois é aí que se encontra o nó górdio.


Se de fato somos salvos pela fé e pelas obras, então não existem ações puramente desinteressadas da parte de um autêntico cristão: sempre que ele praticar uma boa ação, o fará não porque acredite que está agindo certo, ou porque deseja ajudar alguém que ele estima.Estará o fazendo movido pelo desejo egoístico de cavar sua vaguinha na Nova Jerusalém, de preferência pertinho do Cara Lá De Cima.Deste modo, o princípio de salvação pelas obras extingue o altruísmo, o esvazia de significado.Ninguém é caridoso por amor a Deus ou ao próximo, mas pelo desejo de ficar numa posição bem confortável após a morte.


Ou seja, a caridade passa a ser moeda de troca no câmbio paralelo das locações do Paraíso Celeste, como se a pessoa, ao praticá-la, estivesse pagando por seu lugar no céu como um mutuário de imobiliária quita as prestações da casa própria, e o que é pior, num contrato feito às escuras, pois jamais sabemos quanto realmente custa o imóvel.É de surpreender que tal pensamento mesquinho e mercantilista desembocasse na venda de indulgências? Afinal, se Deus aceitava moedas como caridade, respeito, fidelidade e pureza, por que não aceitaria títulos de crédito afiançados pela instituição que o representa na Terra? Ao menos dessa forma o comércio de vagas no paraíso ficava mais do que bem explicitado...

sábado, fevereiro 05, 2005

Série Mentiras que a Esquerda Conta: O Oleoduto Afegão


Mais uma série é inaugurada, desta vez dedicada às manipulações da verdade ou às farsas pura e simplesmente consideradas que a esquerda nacional ou mundial conta no afã de apreender a atenção de incautos, principalmente jovens, que são mais sujeitos à sua doutrinação alienante.E começo pela mais ridícula de todas as teorias conspiratórias canhotas, tão inverossímil que mesmo muitos setores esquerdistas a rejeitam.Trata-se do famoso "Oleoduto Afegão".

Ela nasceu lá pelo final do ano de 2001, quando os Talibans, transmutados de bárbaros medievais em guerreiros contra a opressão imperialista ianque de forma repentina e inexplicada, perdiam o controle do país que esmagaram com mão de ferro por uma década, e Bin Laden estava acuado nas cavernas de Tora Bora.Como precisa arrumar um pretexto para ser contra os Estados Unidos, por mais idiota que seja, a esquerda precisava de uma teoria conspiratória que mostrasse os americanos como malvados, nem que para isso os Talibans se transformassem em moçinhos.Em linhas gerais: os EUA não invadiram o Afeganistão para derrubar um governo que apoiou abertamente uma organização terrorista que promoveu o atentado mais escabroso da história, mas sim para construir um oleoduto passando pelo território afegão.

Algumas perguntas bastariam para por essa imbecilidade por terra: o tal oleoduto levaria o quê, de onde e para onde? O Afeganistão, ao que consta, não tem petróleo, o Irã tem, mas já possui rotas de escoamento, e o Paquistão é aliado americano; sobram então as nações da Ásia Central.Mas o Tadiquistão e o Quirguistão não possuem petróleo.Ficamos com as três restantes, cuja riqueza do produto é abundante.Teríamos capturado o fio da meada?

Definitivamente, a resposta é não.Esses países já possuem oleodutos que escoam a produção através do Mar Negro, e de lá para Europa Ocidental e Estados Unidos.E se não possuíssem, o que seria mais barato? Construir um oleoduto que cruzaria as planícies siberianas, sempre em território pacífico e com toda uma infra-estrutura de apoio já existente na região, ou um que atravessaria as altíssimas montanhas do Hindu Kush (terreno íngreme representa maior extensão e custos), em territórios dominados por líderes tribais pouco confiáveis, e com toda a estrutura de apoio sendo construída do zero? Pensem um pouco, os americanos não atingiram a atual posição de primazia que têm no mundo fazendo burrices como essa...

Por outro lado, consideremos o nexo de causalidade.Que fato desencadeou a guerra no Afeganistão? A derrubada das Torres Gêmeas, afinal havia mais de dez anos que os talibans desafiavam o mundo dando abrigo à Al Qaeda sem serem sequer ameaçados de invasão.Façamos um silogismo simples: o governo americano queria um pretexto para invadir o Afeganistão; o pretexto foi o atentado de 11 de setembro;logo... Os americanos causaram o atentado de 11 de setembro! Vejam a que nível os proponentes dessa teoria acreditam que chega a burrice americana: os EUA provocaram um auto-atendado, cujos prejuízos seriam suficientes para construir alguns milhares de "oleodutos", ainda que encarecidos pelo terreno montanhoso e pelos mandatários hostis das terras que ele cruzaria, para construir um mísero oleoduto para levar o nada de lugar nenhum para parte alguma.Só posso concluir que aqueles que imputam tamanha estreiteza de pensamento aos EUA só podem querer ver a sua própria canastrice intelectual refletida naqueles que conseguiram ser aquilo que eles não conseguem: vencedores.

P.S.: E neste final de semana, os vermelhos organizaram uma manifestação de apoio à "resistência iraquiana".Para eles não importa o fato do comparecimento às urnas no Iraque ter superado as expectativas pessimistas da véspera, nem o fato dos terroristas terem usado até crianças com síndrome de Down em seus "atos de resistência".Enfim, cansa falar da desonestidade ideológica dessa gentinha.Por aqui eu fico.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Podem puxar minhas orelhas! Vejam que vergonha...

Recentemente descobri um link muitíssimo interessante de um teste que mostra quais as suas afinidades de pensamento com os mais diversos filósofos, dos estóicos aos cínicos, dos empíricos aos racionalistas, passando pelos fenomenologistas e dando um alô para os existencialistas... ufa!
Pois bem, lá vou eu fazer o demônio do teste, e vejam só o resultado:
1. Jean-Paul Sartre (100%)
2. David Hume (86%)
3. Epicureans (85%)
4. Spinoza (75%)
5. Stoics (75%)
6. Nietzsche (74%)
7. Ayn Rand (71%)
8. John Stuart Mill (71%)
9. Thomas Hobbes (70%)
10. Kant (66%)
11. Aristotle (60%)
12. Prescriptivism (56%)
13. Jeremy Bentham (51%)
14. Aquinas (45%)
15. Nel Noddings (43%)
16. Plato (38%)
17. Cynics (31%)
18. St. Augustine (28%)
19. Ockham (19%)
O resultado a princípio não me surpreendeu.Tenho uma idéia de mundo principalmente existencialista, e como todo bom cético, sou um empírico convicto, o que justifica David Hume em segundo lugar.Simpatizo bastante com os epicuristas, confesso não conhecer muito a filosofia de Spinoza (erro grave que será muito em breve corrigido), na hora das adversidades sou predominantemente estóico, gosto bastante de Nietzsche, e muito me alegrou ver dois pensadores liberiais (Ayn Rand e John Stuart Mill) entre os dez primeiros.
Daí pra baixo tem gente que, ou eu não conheço (Noddings, Bentham), simpatizo levemente (Kant, perspectivistas, cínicos), ou abomino (Aristóteles, Platão e os dois Santos.É, eu abomino dois dos principais pilares da filosofia ocidental, explico isso depois).Mas parem as rotativas! Quem é aquele cara em último lugar? Se pessoas que eu abomino estão na frente dele, certamente há de ser alguém que eu detesto, correto?
Nada mais errado! O último em questão se trata de Guilherme de Ockham, pensador do final da Idade Média.Quem vem a ser? Simplesmente o responsável pela redescoberta do empirismo pelo pensamento ocidental, que se encontrava encalacrado pela baboseira escolástica que, herdeira de outra baboseira, o pensamento aristotélico, acreditava que apenas a razão guiava o homem rumo ao conhecimento, e portanto não era necessário fazer experiências para comprovar as conjecturas que se fazia.Além disso, foi o primeiro pensador a defender a separação entre religião e razão, defendendo ser impossível provar racional ou empiricamente a existência de um ser supremo.Por estas e outras, foi excomungado, ele que era monge franciscano.
Um homem com essas credenciais merece minha total simpatia, não só para com a biografia como para com o pensamento.E como se não bastasse, criou um mecanismo até hoje consagrado na ciência empírica: a Navalha de Ockham, que diz, sucintamente, que entre duas explicações aparentemente satisfatórias, a mais simples é a correta.E vejam só, ele está em último, último! Par alguém que se julga cético a ponto de nomear seu blog como tal isso é uma vergonha.Tudo bem que um grande ícone do empirismo está em segundo.Mas preciso saber porque Ockham está tão mal colocado.Alguém se atreve a explicar?


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