domingo, janeiro 30, 2005

Crime e Castigo, ou como um artista transcende suas idéias

Diz-se que Dostoievski era moralista, monarquista, xenófobo e reacionário.Até aí nada de mais: além de ser tudo verdade, o próprio autor era reconhecidamente orgulhoso de tais concepções.Mas o que o torna um autor superlativo é exatamente a prodigiosa capacidade que possuía de ir além dos preconceitos que cultivava.Crime e Castigo pode ser uma obra pungente, desvairada, opressiva, sutil, sarcástica... Tudo, menos reacionária.
Poderíamos até dizer que seria predominantemente uma obra sobre a loucura.Assim como em outras obras de Dostoievski, muitos de seus personagens parecem tremular vacilantes sobre a tênue linha que separa a sanidade da loucura.Raskolnikov, afinal, passa mais de meio milhar de páginas dessa forma; Marmieladov se enquadra numa categoria recorrente de personagens dostoievskianos: o do homem que, convencido da indignidade da vida que leva, ainda assim não consegue deixar de chafurdar na lama, talvez por uma satisfação mórbida de sofrer ao aviltar seus tão nobres princípios com a infâmia de sua situação.Ekatierina Ivanovna, por sua vez, parece estar louca devido à tuberculose e à extrema pobreza na qual vive, mas sua insânia parece se dever ao desejo de fugir da precariedade da situação atual que vive, se refugiando num passado que lhe parece glorioso, sejam tais reminiscências verdadeiras ou inventadas.A mesma loucura com o objetivo de fuga se revela na mãe de Raskolnikov, ao tentar espantar os terríveis pressentimentos que tem sobre a sorte do único filho.Razumikin é o grande contraponto: nessa história que mais parece acontecer num asilo de loucos, ele faz jus à raiz do nome (vrazum, em russo, significa ajuizado), e parece estar ali para ser a medida pela qual podemos julgar a real situação da sanidade mental dos demais.
No campo das idéias, as batalhas se dão em dois campos: a concepção de Raskolnikov de que alguns indivíduos fariam as leis, não precisando se submeter a elas, não é diretamente confrontada no campo da dialética.Mas podemos ver a maneira magistral como Porfiri Pietrovic submete, a idéia e seu proponente, à exaustão sem negá-la enfaticamente, mas apenas cerceando-a pelos lados, sorrateiro como o lobo que embosca a presa.É testando a resistência de Raskolnikov que ele a derrota de forma magistral, terminando por praticamente lhe extrair a confissão.Por outro lado, ainda podemos perceber uma crítica, não às idéias modernas em si, mas em relação à postura, tão comum na época quanto hoje, de aceitá-las sem nenhum exame prévio, simplesmente por serem "modernas".Assim são Luzhin, que se vangloria apreciador das mesmas apenas para se pavonear diante de todos e se provar merecedor da preferência de uma mulher bonita, jovem e inteligente.Já Liebiesiatnikov é o típico revolucionário de personalidade amorfa, como bem mostram as palavras do próprio autor, uma descrição atualíssima: "Fazia parte dessa imensa e variegada massa de indivíduos comuns de tipos fracassados e vulgares, que tomam rapidamente o partido das novas idéias que estão em voga, para no momento seguinte desvirtuar e desacreditar a causa que antes sinceramente defendiam". (qualquer semelhança com o esquerdismo atual NÃO é mera coincidência, seja bem dito).
Finalmente, a trajetória de Raskolnikov, o prato principal do romance; podemos notar nela vários elementos autobiográficos, mas deixemo-los de lado.Pode-se notar claramente que a queda de Raskolnikov se dá através da mesma combinação que forma ditadores e psicopatas: coisa nenhuma na barriga, uma idéia na cabeça e um machado na mão.Mas o lado humano transcende: Raskolnikov não tem o sangue frio que imaginava ter, ou não estava tão convicto da teoria que elaborou.Se desfaz do dinheiro, desmaia, se acusa acintosamente, no que não é levado a sério por conta do estado de loucura em que se encontrava.Até o momento em que encontra alguém com uma trajetória parecida com a sua: também Sônia se submeteu a uma indignidade por causa da probreza.Só que o que nele abunda em orgulho, nela transborda em compaixão.A culpa que o oprime e condena a ela redime e dá forças para seguir em frente, até que ele termina por se render a ela, e percorrerem juntos o caminho tortuoso que separa a desgraça da redenção.Poderíamos dizer que, de fato, idéias demais atrapalham.Sônia não tem a cultura de Raskolnikov, e por isso suporta e supera sua infâmia de forma menos traumática, extraindo dela forças para continuar vivendo.
Por fim, não posso encerrar sem depor a favor da transcendência de Dostoievski em relação às suas idéias.Como um moralista quadradão e simplório poderia criar um personagem tão amoral, cínico e carismático como Svidrigailov? De todos os personagens do livro, de longe o mais cativante, sensual, calculista e generoso da obra, daquela generosidade leve e natural, como se ajudar os órfãos de Ekatierina Ivanovna lhe causasse tanto prazer como pôr nas pernas uma ninfeta de dezesseis anos de idade.
Dostoievski era de fato um reacionário xenófobo e mesquinho.Mas simplório e óbvio, jamais.

sábado, janeiro 29, 2005

Finalmente, uma confissão!

Durante palestra no Fórum Social Mundial, o escritor português e Prêmio Nobel de Literatura José Saramago, virtuose da esquerda-confete a nível mundial e comunista notório e assumido, finalmente disse algo que se aproveite em algo que não seja arte ou literatura.Afirmou, do alto de sua autoridade, que a esquerda mundial precisa "rever conceitos".

Depois de décadas de militância e sangue derramado, ver algum paladino do esquerdismo dizer que a esquerda precisa rever suas posturas é algo louvável.Só posso concluir daí que a esquerda tem que reconhecer que quase todas as bandeiras que defendeu eram inexeqüíveis, equivocadas ou desonestas intelectualmente.Afinal, só revê conceitos quem reconhece que os anteriores estavam precisando de uma espanada e uma demão de tinta para perderem o aspecto encarquilhado que ganharam com o passar dos anos.

Em se falando de esquerda, toda precaução é insuficiente, pois quando eles se danam a reinventar a roda, não são poucas as vezes em que saem bizarrices ainda piores do que as anteriormente defendidas.E embora o Fórum Social Mundial seja uma bagunça onde nem eles mesmos se entendem e conseguem concordar em algo, parece que algo de novo pode sair dali.Não que eu espere algo bom, mas vê-los mudar de posições sempre nos dá material com que torrar-lhes a paciência: podemos esfregar na cara que eles finalmente se deram conta do absurdo das songamonguices que defenderam por décadas a fio.

Clube de Leituras LLL: Participem

Quando algo de bom é inventado na blogosfera, podem ter certeza que o LLL é um forte candidato a autor de tal idéia.O Clube de Leituras foi criado ano passado e estréia oficialmente nesta segunda-feira, com comentários de Crime e Castigo, de Dostoievski; mesmo aqueles que não foram avisados a tempo para ler ou reler o livro, participem: leiam os comentários, publiquem seus endossos e ressalvas, e se já leram o livro, ainda dá tempos até de escrever algo e participar.


Maiores informações a respeito do Clube e da estréia dessa segunda, cliquem no banner abaixo:



Inclua o botão da campanha em seu site e ajude a divulgar


sexta-feira, janeiro 28, 2005

Entre na campanha: Eu Também Quero Ser Processado Pelo Jorge Furtado



O baluarte-mor do petismo na "cultura" brasileira ficou irado com a coluna que Diogo Mainardi lhe dedicou há algumas semanas.Possesso, o cineasta foi categórico: “Informamos que serão processados também qualquer jornal, site na internet, revistas ou quaisquer publicações que, com ou sem autorização expressa do jornalista e da revista Veja, também publicarem o referido artigo, total ou parcialmente.”

Como estou sem ter o que falar (concurso público é mesmo uma merda, tira a criatividade da gente), entro de cabeça nessa campanha.Quem sabe daqui há alguns anos não ganho uma indenização por ter sido perseguido pela ditadura petista? (Obrigado pela idéia, moderador do Liberdade Brasil).Sem mais delongas, aqui vai o artigo:

Diogo Mainardi

"O Amaral Neto do petismo", copyright Veja, 11/01/05

"Jorge Furtado é o Amaral Neto do petismo. Faturou 700.000 reais para dirigir um comercial do Banco do Brasil sobre o tema da fraternidade. O comercial faz parte da campanha ufanista ‘O melhor do Brasil é o brasileiro’. Na ditadura militar, Amaral Neto exaltava o orgulho nacional mostrando a construção de hidrelétricas. Jorge Furtado, o maior propagandista do lulismo no meio cinematográfico, mostrou a construção de uma quadra de futebol na periferia de Porto Alegre. A quadra custou 120.000. Foi financiada pelo próprio Furtado, com o dinheiro pago pelo Banco do Brasil. Furtado elegeu a si mesmo como exemplo de fraternidade, portanto. E usou o dinheiro do Banco do Brasil com a desenvoltura de um deputado maranhense, que constrói quadras de futebol em seu curral eleitoral, com a verba do Fundef. Não todo o dinheiro, claro: se a quadra de futebol custou 120.000, e outros 130.000 foram gastos em impostos, sobraram 350.000 para Furtado. É assim que funciona a fraternal contabilidade petista.

Furtado já declarou que, em parte por motivos ideológicos, não aceita fazer publicidade em sua produtora de cinema. Exceto publicidade do PT. Ele é o mais requisitado marqueteiro petista do Rio Grande do Sul. Dirigiu as duas campanhas de Tarso Genro à prefeitura de Porto Alegre e as duas campanhas de Olívio Dutra ao governo do estado. Valeu a pena. O governo gaúcho, na administração Olívio Dutra, premiou seu filme O Homem que Copiava com 1,3 milhão de reais. E deu mais 1,1 milhão para seu sócio. Furtado está entre os maiores captadores de recursos públicos para o cinema do país. Leva dinheiro de todos os lados. Só nos últimos tempos, recebeu 250.000 da Petrobras, 380.000 da Ancine, 400.000 do BNDES, 370.000 do Ministério da Cultura, uma ajudinha camarada dos Correios, outra ajudinha camarada da velha prefeitura petista de Porto Alegre.

Não é só com o apoio de estatais que Furtado financia seus filmes. Meu Tio Matou um Cara, atualmente em cartaz, contou também com o patrocínio da Brahma. Furtado diz que não faz publicidade, mas o filme está repleto de merchandising de cerveja. Seus sólidos princípios ideológicos valem tanto quanto os de Lula. Como todo petista, Furtado protestou violentamente contra a privatização das empresas de telefonia. Agora, com a maior naturalidade, passa o pires na Brasil Telecom e na TIM. Quando o PT estava na oposição, Furtado acusava Fernando Henrique Cardoso de representar ‘décadas de concentração de renda e exclusão social, patrocinadas pela mesma elite que continua no poder: ACM, Sarney, Maluf, Delfim’. Os quatro antigos vilões foram alegremente absorvidos pelo fisiologismo petista, e Furtado deixou de se escandalizar com isso. Afinal, além de patrocinar a concentração de renda e a exclusão social, a tal elite também patrocina seus filmes.

A esquerda, durante a ditadura militar, deu a Amaral Neto o apelido de ‘Amoral Nato’. Furtado tem uma vantagem: se alguém quiser aplicar-lhe um apelido depreciativo, nem precisa estropiar seu sobrenome."

domingo, janeiro 23, 2005

Série Reconstituições Históricas: Como seria... Se a revolução de 30 não houvesse acontecido?

Tentar imaginar como teria se desenrolado a história caso um ou outro fato crucial não houvesse acontecido, ou o fizesse de forma diferente, é talvez o exercício de futurologia mais ingrato de todos, pois não só dá uma visão de futuro como ainda altera o passado.Mas adoro fazer esse tipo de raciocínio, e por isso inauguro a série Reconstituições Históricas.
Entrando no tópico em questão, vou começar por discordar do senso geral: acredito ter bons motivos para acreditar que o Brasil estaria muito melhor sem a revolução e, por conseguinte, sem Vargas.Os nacionalistas de plantão e os socialistas de diversos matizes (que idolatram o ditador mesmo tendo sido duramente perseguidos por seu regime.Vá entender...) enfatizam que ele foi importante para a consolidação do progresso industrial brasileiro e que sem ele ainda seríamos um cafezal gigante.Todas essas opiniões são falsas.O café não era o carro-chefe da economia nacional porque essa era a vontade das oligarquias, mas pelo fato de ser a segunda mercadoria mais negociada do mundo à época, perdendo apenas para o petróleo.E o processo de industrialização já estava em andamento desde o final do século XIX, a um ritmo de crescimento constante.
Caso Vargas e sua corja de usurpadores não houvesse tomado o poder em 1930, a normalidade institucional teria sido preservada, o federalismo autêntico da época não seria solapado pelo centralismo ditatorial de Vargas, e descentralização administrativa aliada a normalidade institucional são reconhecidas alavancas para o desenvolvimento de uma nação.Além do mais, o processo de industralização brasileiro teria seguido sua marcha de acordo com a capacidade e a necessidade do mercado, não mediante decretos e planejamentos feitos por meia dúzia de burocratas e imposto de cima para baixo, baseado no saque tributário às entidades federativas, tradição nefasta do governo varguista que perdura até hoje.
Na Segunda Guerra, desde o início estaríamos com as potências aliadas, podendo aproveitar essa situação durante todo o conflito, algo que Vargas não fez, passando mais da metade da guerra a dedicar apoio velado ao Eixo a troco de coisa nenhuma.A troca do apoio pela CSN não teria sido feita porque a essa altura, caso o mercado brasileiro realmente precisasse, já teríamos usinas siderúrgicas, e em caso contrário, poderíamos comprá-las baratíssimas no final do conflito, quando a já duradoura aliança com os vencedores nos faria sócios de confiança a ponto de fazer bons contratos com os mesmos.
Apague, portanto, tudo de ruim que Vargas trouxe ao Brasil: centralismo, chantagem tributária, autoritarismo, restrições à economia e ao mercado de trabalho... Acrescente vinte e quatro anos de estabilidade institucional e autonomia federativa, aliadas a um processo continuado de industrialização baseado nas reais necessidades de mercado, sem entraves econômicos, terrorismo tributário ou CLT's para prender sindicatos e patrões em camisas de força... Temos aí o mesmo meio de cultura que fez os países desenvolvidos, e mais recentemente os tigres asiáticos, a darem saltos de desenvolvimento e qualidade de vida.
Como o golpe de 64 é derivado da instabilidade institucional datada do segundo governo Vargas, é razoável supor que ele não teria acontecido, e com isso não só perderíamos duas décadas de autoritarismo como ainda o fortalecimento do estabilishment intelectual esquerdista, responsável por essa pantomima de constituição ninfomaníaca por tributos que é a atual.Aliás, com alterações determinadas pelo transcorrer natural da história, a Constituição de 1891 ainda estaria em vigor.Perenidade das normas jurídicas é outra importante ferramenta de desenvolvimento.
Resumindo: tudo de bom que veio no governo Vargas aconteceu em outros países sem a necessidade de ditaduras, motivo pelo qual suponho que se daria aqui naturalmente.Por outro lado, toda a sua herança nefasta de autoritarismo, descaso pela autonomia federativa e pela estabilidade institucional que possibilitou a incursão golpista de 64, não existiria.Teríamos enormes possibilidades de estarmos bem melhores do que atualmente estamos.E se, afinal, tudo desse errado, sorriam: ao menos não teríamos que aturar militantes de ideologias totalitárias e assassinas serem enaltecidos em um filme como defensores da justiça e da liberdade.Livrar o país de Olga já seria motivo suficiente para desejar que a era Vargas jamais houvesse acontecido.

sábado, janeiro 22, 2005

Tudo no coformes

Depois de constatados problemas nos comentários do blogger, resolvi colocar um outro sistema, e dessa vez ninguém vai importuná-los cobrando senhas.Metam a língua (ooooops!) à vontade.

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sexta-feira, janeiro 21, 2005

Ninguém segura esse país!

E vejam quem resolveu dar o ar de sua graça! Enéas Carneiro, o já folclórico presidente do PRONA, depois de muito tempo de reclusão a nível nacional, veio pregar (ops, falar) em cadeia nacional.Como já virou marca do partido, o programa durou apenas uns três minutos, mas foi o suficiente para esgotar a cota de gargalhadas do dia.
Mas além de engraçado, o programa foi ainda bastante instrutivo.O PRONA é um partido reconhecidamente de direita, à moda fascista.Pois eu gostaria de todos que acham que o fascismo é capitalista liberal tivessem assistido o programa.O barbudo incendiário (não, não é aquele), repetiu a mesma cantilena nacional-desenvolvimentista que se encontra na boca, pronta para ser cuspida e regurgitada, de qualquer militante do PSTU.Defendeu as mesmas medidas: rompimento com os órgãos internacionais, moratória, cultivo do antiamericanismo... Apenas ele guardou a pérola para o final: "1 milhão nas forças armadas"!
Opa, aí eu saltei da cadeira de tão empolgado.Quase me enrolo na bandeira e grito "Brasil, Brasil", e creio que o risco potencialmente grande de ser considerado um retardado me conteve.Pensei, inflamado de ardor patriótico: "agora a gente invade a Argentina, o Paraguai e o Uruguai, e formamos um lindo reino brasileiro!".Os ianques que nos segurem.Nosso führer Enéas (alguém aí sabe como se chama Grande Líder em tupi?) "Cunhambebe" Carneiro, nos conduzirá à conquista de nosso lebensraum, ao Destino Manifesto do povo de Pindorama de viver correndo atrás de um empreguinho público.Não vamos construir nem expandir cultura, pois sequer temos uma.O máximo que conseguiremos é anexar territórios para poder se lamuriar: "ah, ainda por cima temos vulcões e terremotos..."
E para arrematar com chave de ouro: "Ninguém segura esse país".

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Como escolher um ídolo


O culto à personalidade é tão disseminado através dos tempos e povos que creio ser algo inerente à nossa natureza.Sempre se acha alguém que não goste de algo, mas nunca encontrei alguém que não tivesse alguém por quem nutrisse apaixonada e sectária devoção.Todos temos pessoas a quem idolatramos por possuírem alguma característica de destaque, e como tê-la é passaporte imediato rumo à notoriedade, os alvos de idolatria são sempre pessoas famosas, em maior ou menor grau.

Me peguei então por esses dias fazendo essa pergunta a mim mesmo: quem é meu ídolo? Existe farto número de pessoas por quem nutro sincera admiração, desde pensadores e políticos a artistas e cientistas.Mas não consegui encontrar, em meio a essa gama de pessoas admiráveis, alguém que eu sinceramente idolatre.Pensei por alguns instantes se eu era algum representante sumamente anormal da humanidade, mas então lembrei-me daquele por quem tenho admiração incondicional e emocionada.

Meu ídolo, no entanto, é diferente dos demais.Os outros têm nomes, rostos, frases, obras e teses conhecidos e celebrados mundialmente, e em muitos casos têm até a intimidade vasculhada e escancarada perante os olhares de todos.Meu ídolo é um homem sem nome, sem rosto, sem profissão, completamente desconhecido de todos.Ninguém sabe que idade tem, se trabalha e em que trabalha, a rigor nem mesmo se sabe se era homem ou mulher.Pior, nem mesmo se sabe se ele/ela está vivo ou morto nesse exato instante.

Creio que as primeiras perguntas estejam sendo feitas: como pode alguém possuir um ídolo desconhecido, sobre quem não se sabe absolutamente nada? Quem é esse incógnito sem identidade sobre quem recaiu a minha veneração? E o que fez esse "famoso quem?" Para merecer tal distinção de minha parte?

O ato que o tornou merecedor da minha devoção não durou mais do que alguns minutos, mas durante aquele exíguo período de tempo ele foi o senhor dos olhares, o déspota das atenções de todo o mundo que se voltava para ele, atônito com sua proeza.Tornando realidade o adágio de Andy Wahrol, por quinze minutos saiu ele do completo anonimato para ser a pessoa mais famosa do mundo, para logo em seguida ser removido de volta à sua incógnita vida, não sem antes deixar profundamente sua marca na história da humanidade.Num mundo acostumado com pessoas que demoram anos para deixar feitos dignos de nota, ele precisou de apenas alguns minutos para atingir a imortalidade.Mais notável ainda: conseguiu fazê-lo sem que o planeta jamais soubesse nada a respeito de si.

Reconheço o mérito das categorias citadas anteriormente cujo brilhantismo no exercer equivale a passaporte automático para a notoriedade.Mas meu ídolo não precisou de nenhum talento especial para se tornar um ícone, um mito, bem mais digno de figurar nas camisas dos jovens do que aquele sujeitinho asqueroso de boina e barbicha, cujo ato mais relevante para o bem da humanidade foi haver sucumbido nos Andes bolivianos.Durante aqueles instantes, representou ele mais do que um talento: incorporou em si uma era, um século, a condição humana como um todo, em sua dramaticidade e esperança, se materializou na figura daquele sujeito absolutamente comum.Provável é que ele até tenha depois se arrependido de seu ato, creditando-o a um momento de insânia.Pouco me importa.Sua postura nos instantes que o arrancaram do anonimato e o catapultaram à fama é o que me faz quase ir às lágrimas quando me recordo, ou mesmo vejo as imagens.

Apresento-vos meu semideus: dele apenas sei a nacionalidade, chinesa.Conheço apenas uma foto, algumas imagens eternizadas num filme de poucos minutos.Porém o heroísmo louco e inconseqüente, a determinação com a qual bailou soberano diante da morte como um toureiro que ilude seu algoz, a audácia com a qual parecia brincar com uma força bem maior do que a possuída por ele próprio, sem nenhuma garantia, sem sequazes ou recrutas.Completamente só, não tendo outra arma com a qual encarar seus inimigos que não fosse a dignidade inata ao ser humano como indivíduo.

Há mais de quinze anos esse homem entrava para a história, simbolizando a força indomável e incoercível do indivíduo diante do maior aparato totalitário do planeta.E embora o sangue que manchou Tiananmen naquele fatídico 5 de junho não tenha trazido a redenção imediata, sei que ele não foi derramado em vão.A força dessa imagem é bem maior do que qualquer tirania concebida pelo gênero humano:


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domingo, janeiro 16, 2005

Almoço ou ruminância?


Os mais velhos adoram repetir a história de que o almoço em família é importante, porque as pessoas da família se confraternizam e trocam idéias enquanto estão na mesa, e a sesta que se segue seria um ótimo momento para todos juntos digerirem as palavras agradavelmente mastigadas durante a refeição.


Pois bem, esse final de ano fomos todos para a casa do meu avô, patriarca-mor da família.E com que gosto (ou desgosto, sei lá) constatei que todo aquele palavrório não passava de conversa para boi dormir! Enquanto se assistia ao jornal do meio-dia, que trazia numa freqüência irritante notícias sobre o maremoto no Índico, o que se via eram apenas ecos daquilo que os repórteres falavam.E tal podia ser estendido a todos os momentos de conversação coletiva do dia.Nem mesmo uma fagulha de idéia que tivesse um mínimo frescor de originalidade.As reuniões pareciam mesas redondas onde se repetia aquilo que se havia visto em jornais ou quaisquer outros meios de comunicação.Do outro lado, eu e outros amigos, todos na faixa dos 15 aos 24 anos, conversávamos toda sorte de bobagens e histórias com algum veio cômico.E tome crítica dos mais velhos...


E minha reação a elas foi além da saudável indiferença que nutrem os mais jovens pelos mais entrados em anos.Chegou mesmo ao desprezo e à revolta: por que eles acham ser mais inteligente ou mais maduro viver repetindo coisas que todos já sabem apenas para mostrar o quanto são bem informados e antenados no mundo? Bem melhor, digo, mil vezes melhor é ficar conversando amenidades e idiotices e se divertindo com elas do que passar por expediente tão irritante quanto a conversa "adulta" travada na sala de estar.Eles, sim, parecem crianças imaturas, engolfando informações como se tivessem uma ridícula e infantil necessidade de exibir sua pretensa cultura.Como diz um grande amigo meu, mais vale alguém profundamente superficial (desde que seja divertido) do que alguém superficialmente profundo.Esse tipo é o mais pedante e abjeto de todos.

sábado, janeiro 15, 2005

É apanhando que se aprende...


Minha experiência no mundo da blogosfera se assemelha em parte com a do Brasil pelos meandros das ciências econômicas.Assim como Pindorama apenas aprendeu a estabilidade econômica após várias experiências frustradas com políticas heterodoxas, eu somente vim parar no melhor servidor gratuito de blogs do mercado após duas experiências com servidores pouco confiáveis, que cancelam blogs por excesso de peso (Lula, que detestou a pesquisa do IBGE acusando a obesidade como sendo problema maior que a desnutrição, seria entusiasta do dito-cujo), e outros que seqüestram seus arquivos e cobram resgate pelos mesmos (e era servidor americano.Imagine se a moda pega no Brasil, que tem algumas cidades como paraísos da Seqüestrolândia).

Desta vez me parece improvável que viradas de mesa como as citadas anteriormente aconteçam.Me sinto bastante consolidado por aqui, e por aqui pretendo ficar até conseguir dinheiro para finalmente comprar um Movable Type.E não se furtem a comentar, seja elogiando ou esculhambando, pois como toda personalidade desajustada, sofro de uma mórbida satisfação pelo esculacho.Quanto mais raivosa e descerebrada a crítica, mais eu gosto.

Aos que me conhecem, nada tenho a acrescentar.Aos que forem principiantes, habituem-se: não sou companhia das mais desagradáveis.


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