quarta-feira, dezembro 20, 2006

Desserviço de Inutilidade Privada


Este blog fará jus ao país das sinecuras, mamatas e vidas-boas e tirará uma licença sem vencimento de dez dias. Portanto, daqui até o ano que vem o limite da freqüência de atualizações, que já é (muito) baixo, tenderá a zero.

***

Há dez anos, o ídolo maior da minha infância, o homem que me fez despertar o interesse pela ciência e pelo mundo em que vivemos, falecia, vitimado por uma pneumonia decorrente de um câncer na medula. Aproveito, portanto, este espaço para render homenagem a Carl Edward Sagan. Que o legado de sua obra permaneça e que a profecia que fez no livro Pálido Ponto Azul se concretize, e o ser humano atinja as estrelas. Transcrevo o último parágrafo do livro, no qual Sagan descreve como os futuros seres humanos vivendo em outros sistemas estelares, verão o berço de nossa espécie:


"Erguerão e forçarão os olhos para descobrir o ponto azul no céu. Não o amarão menos por
sua obscuridade e fragilidade. Ficarão maravilhados ao perceber como era outrora vulnerável o repositório de todo o nosso potencial, como foi perigosa a nossa infância, como foram humildes as nossas origens, quantos rios tivemos de cruzar antes de encontrar nosso caminho".


Carl Edward Sagan (1934-1996)

quarta-feira, dezembro 13, 2006

O que os radicais islâmicos reservam para nós

Queria que todos os idiotas multiculturalistas que consideram os fanáticos islâmicos mártires que tentam corrigir as injustiças seculares do Ocidente para com os povos muçulmanos lessem isso. Porque sinceramente não entra na minha cabeça que alguém sem algum nível de retardo mental não tenha entendido que esses caras querem destruir todas as culturas e visões de mundo diferente da deles. Intriga-me sobremaneira o comportamento suicida da esquerda, que defende um grupo que é abertamente contra tudo aquilo que o esquerdismo diz defender: tolerância a minoriais, direitos humanos e assemelhados. Intriga-me ainda mais mulheres e gays que simpatizam com uma doutrina que prega a submissão e o extermínio destes, respectivamente.

Esse poema foi afixado com um golpe de faca no cadáver ensangüentado do cineasta Theo Van Gogh, pelo seu assassino, Mohammed Bouyeri. Para quem não conhece a história, um resumo: Theo dirigiu um documentário chamado Submission, no qual critica a submissão feminina no Islã. A cena na qual uma mulher nua é brutalmente espancada com os versos corânicos gravados no corpo teria irritado os fanáticos. Não pela violência contra a mulher, que para eles é algo não apenas normal como recomendável, e sim pela heresia de se gravar os versos sagrados no corpo de uma criatura inferior. No dia 2 de novembro de 2004, Bouyeri abordou Van Gogh numa rua e o esfaqueou brutalmente até a morte. No corpo, afixou o seguinte poema, em holandês. Disponibilizo a tradução em inglês que encontrei na Wikipedia:

IN BLOED GEDOOPT
Dit is dan mijn laatste woord…
Door kogels doorboord…
In bloed gedoopt…
Zoals ik had gehoopt.

Ik laat een boodschap achter…
Voor jou…de vechter…
De boom van Tawheed is afwachtend…
Naar jouw bloed smachtend…
Ga de koop aan…
En Allah geeft je ruimbaan…
Hij geeft je de Tuin…
In plaats van het aardse puin.

Tegen de vijand heb ik ook wat te zeggen…
Je zal zeker het loodje leggen…
Al ga je over de hele wereld op Tour…
De dood is je op de Loer…
Op de hielen gezeten door de Ridders van de DOOD…
Die de straten kleuren met Rood.

Tegen de hypocrieten zeg ik tenslotte dit:
Wenst de DOOD of hou anders je mond en ...zit.
Beste broeders en zusters ik nader mijn einde…
Maar hiermee is het verhaal zeker niet ten einde...

BAPTIZED IN BLOOD

So this is my final word…
Riddled with bullets…
Baptized in blood…
As I had hoped.

I am leaving a message…
For you…the fighter…
The tree of Tawheed is waiting…
Yearning for your blood…
Enter the bargain…
And Allah opens the way…
He gives you the Garden…
Instead of the earthly rubble.

To the enemy I say…
You will surely die…
Wherever in the world you go…
Death is waiting for you…
Chased by the knights of DEATH…
Who paint the streets with Red.


For the hypocrites I have one final word…
Wish DEATH or hold your tongue and …sit.

Dear brothers and sisters, my end is nigh…
But this does not end the story.

Agora me digam: isso representa o pensamento de uma pessoa tolerante e pacífica que deseja apenas corrigir "injustiças" históricas? Isso é apenas manifestação de uma "cultura diferente" que tem de ser respeitada? Ou isso é, de fato, uma declaração de guerra, explícita e desaforada?

sábado, dezembro 09, 2006

Em clima de final de ano

A idéia foi gestada há algum tempo, mas sabe com são as coisas aqui no Bananão, sempre se deixa tudo para a última hora, bem como se antecipam e/ou se esticam datas comemorativas de acordo com as conveniências. Mas eu viajarei em breve, e não fará sentido começar para logo em seguida parar por duas semanas. De todo modo, é algo que não pretendo fazer sozinho, e por isso antecipo a convocatória:

Trata-se de um projeto que requer conhecimento, cultura geral e muita imaginação. Sendo a blogosfera o lugar mais apropriado para encontrar pessoas que reúnam essas características, lanço o edital de convocação para participação em um blog destinado apenas a visões alternativas da história, do tipo "como seria se...". O fato histórico a ser alterado fica a critério do autor, e a liberdade será (quase) total. O nome provisório do blog seria História Alternativa, mas reconheço que não é um nome marcante ou espirituoso. Portanto, o nome também será objeto de definição posterior.

Desde já estou aceitando adesões via caixa de comentários desse post. Quem quiser participar coloque o endereço do seu blog e email para estabelecimento de posterior contato. Perfil no orkut também vale. Caso ninguém se disponha, tanto pior: levarei a idéia adiante sozinho e terão de aguentar meus devaneios. Porque, como dizia um antigo professor meu, "quando um homem quer casar ou comprar um carro velho, ninguém tira da cabeça dele".

Um aceno de esperança

Nesse ano de decepções eleitorais profundas, ao menos uma descoberta me fez reavivar as esperanças. Estando próximo de pessoas ligadas ao movimento estudantil dentro da minha universidade, constatei que muitos deles despertaram para a necessidade de "despartidarização" da burocracia estudantil (CAs, DCEs, etc.). Sei que bom mesmo é que nem existissem, mas depois de ver essas instituições passarem duas décadas fazendo campanha para o PT e o PC do B, já é alguma coisa saber que eles finalmente perceberam que esse aparelhamento prejudica os interesses daqueles que essa burocracia, ao menos em tese, deveria defender.

Não me iludo, sei que eles são de esquerda e defendem as mesmas idéias ultrapassadas pelos fatos. Mas ver aqui gente defendendo a completa desvinculação entre entidades de classe e partidos políticos me faz pensar que nem tudo está perdido. Afinal de contas, não sou utópico e sei que a esquerda não vai desaparecer de uma hora para outra (nem seria bom que isso acontecesse, democracia e diversidade são indissociáveis), ainda mais num país como o Brasil, onde ela é hegemônica. Resta torcer para que a banda idealista da esquerda suplante, ainda que gradativamente, a canalha, e mais importante, que não se acanalhe durante a travessia.

A situação é grave, e não será contornada se continuarmos arraigados em disputas ideológicas infrutíferas. Encontramos algo em comum entre o que esses caras defendem e aquilo que nós defendemos (fim da intervenção política em entidades de classe). Então vamos trabalhar em conjunto para derrubar as máfias politiqueiras que empestam sindicatos, "movimentos sociais" e entidades classistas em geral. Vai haver eleição no DCE de sua universidade ou no sindicato de sua categoria? Procure as chapas sem vinculação com partidos políticos e vote nelas. O PT tem seus alicerces fincados nas direções sindicais. Perdendo esse substrato, o partido afunda.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

A que ponto ainda haveremos de chegar...

Neste momento em que a missionária Dorothy Stang está prestes a virar nome de rua, quem há de se lembrar de Luiz Pereira da Silva? Eu mesmo, confesso, pouco sei a respeito de sua morte além do fato de ter sido barbaramente torturado e assassinado num acampamento do MST. Reinaldo Azevedo apresenta-nos este cidadão anônimo imolado no altar do maoísmo sacrossanto dos bandoleiros do campo:

Silva, um morto sem sepultura
por Reinaldo Azevedo em 15 de fevereiro de 2005

Resumo: Luiz Pereira da Silva era o policial da boa gente pernambucana, um Silva que não fez direito a lição de casa, tornado prisioneiro, torturado e assassinado num assentamento do MST.

Quantos Luiz Pereira da Silva vale uma Dorothy Stang? Como? Você não se lembra, leitor, de Luiz Pereira da Silva? Não o condeno por isso. Ninguém dá bola para um Silva no Brasil, a menos que ele seja adotado pela patrulha politicamente correta, torne-se um burguês sem capital, reproduza o sistema de exclusão que jurou combater e se torne um cronista das injustiças brasileiras, admitido nos salões requintados para exibir o seu humor rombudo.

É verdade, leitor, a mídia também deu pouco destaque a Luiz Pereira da Silva e confere ao assassinato de Dorothy Stang dimensões épicas. Ela, não há como ignorar, é a missionária americana assassinada em Anapu, no Pará, por pistoleiros que estavam a serviço, tudo indica, de grileiros de terra. Um evento sem dúvida bárbaro, que merece o repúdio de que está sendo objeto no Brasil e no mundo. Faz bem o jornalismo brasileiro em se interessar pela questão. Está correto o presidente Luiz Inácio Lula Incluído da Silva ao mobilizar três ministros de Estado para prantear a sua morte e buscar os culpados. Que esse crime não fique impune e que seus autores e mandantes sejam trancafiados. Mas e quanto a Luiz Pereira da Silva?

Ninguém assistiu ao nada formidável enterro de Silva. Ninguém foi regar o seu cadáver na esperança de que estivesse fertilizando uma causa. O Estado brasileiro, por meio do governo, grita seu silêncio cúmplice e covarde diante de seu corpo. Ele não é nada. Ele não adula as culpas dos intelectuais incluídos de esquerda que pretendem teleguiar o movimento de libertação dos oprimidos a partir da universidade; ele não serve à estranha escatologia de Dom Tomás Balduino, este impressionante bispo que responsabiliza o agronegócio pela morte da religiosa; ele não serve à maior empresa jamais criada de produtos ideológicos no país chamada MST; seu corpo não se presta à mística da luta do Bem contra o mal; de seu cadáver seco das lágrimas das ONGs, das lágrimas dos povos da floresta, das lágrimas de Lula, das lágrimas de Miguel Rossetto, ministro da Reforma Agrária, das lágrimas de Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, das lágrimas de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, de seu cadáver seco, enfim, não brota a epifania pagã, não se constroem ideologias finalistas, não se vislumbra o fim dos tempos, não se promove o julgamento dos vivos e dos mortos.

Luiz Pereira da Silva é um morto sem sepultura; Luiz Pereira da Silva é um morto de quinta categoria; Luiz Pereira da Silva confunde as afinidades eletivas dos demagogos brasileiros; Luiz Pereira da Silva pertence àquela estranha categoria de homens que, por mais que sofram, jamais vão se tornar mártires de coisa nenhuma; Luiz Pereira da Silva era pobre demais, desimportante demais, vulgar demais até para ser oferecido em holocausto no altar de fantasmagorias de dom Balduíno; Luiz Pereira da Silva não serve como cordeiro do Deus justiceiro do MST.

Sim, para quem ainda não sabe, é chegada a hora de dizer quem era Luiz Pereira da Silva, doravante agora só conjugado o verbo no passado: “era”, pretérito imperfeito, verbo interrompido pela “luta” dos oprimidos de carteirinha convertidos em assassinos impunes e incensados pelo Estado. Fez-se um “não ser”. Luiz Pereira da Silva era o policial da boa gente pernambucana, um Silva que não fez direito a lição de casa, tornado prisioneiro, torturado e assassinado num assentamento do MST. O episódio se deu no dia 5 de fevereiro na cidade de Quipapá, em Pernambuco.

Outro Silva, Cícero Jacinto, também vítima de tortura, foi feito refém por algumas horas. Ambos estavam no encalço de um assentado convertido em bandido comum. Lula não disse nada. Nilmário Miranda não disse nada. Márcio Thomaz Bastos não disse nada. Miguel Rossetto não disse nada. A própria imprensa não disse quase nada. Dorothy Stang, ao menos, é um ser que se conjuga no futuro. Seu corpo pranteado frutificará. De Silva, dentro em breve, não terá restado senão a memória privada de sua família, uma gente a que também não se dá muita importância. Um dia vai sumir. Historiadores ainda hão de incluir Dorothy Stang no capítulo do que chamam, com aquele vitimismo do triunfo que lhes é bem típico, a “história dos vencidos”. Já o Silva, coitado!, terá sumido na poeira dos tempos: pobre demais para que os “vencedores” se importem com ele; demasiadamente humano para que os vencidos oficiais o transformem em símbolo.

E não me venham acusar de cínico ou impiedoso pela pergunta que abre este texto. A contabilidade macabra não é minha, mas do governo Lula. Quem discrimina cadáveres, atribuindo a uns a santidade política e a outros o desprezo covarde, é o Planalto, não eu. Qualquer morte, reza aquele clichê, belo e profundo ainda assim, nos diminui. A cada uma, é por nós, sem dúvida, que os sinos dobram. A despeito disso, vejo-me compelido a escrever: a do soldado Silva evidencia com mais agudeza alguns riscos que corremos do que a de Dorothy Stang.

Sintomas

Espero que a polícia encontre os responsáveis pelas mortes do policial e da missionária e que, no segundo caso, também sejam presos os mandantes, se houver. Que a Justiça se encarregue deles e lhes dê a pena máxima admitida pela lei brasileira. Assim como jamais condescendi com causas que justificariam o terrorismo, nada, nada mesmo, justifica o homicídio de quem não pode nem mesmo se defender. Não há considerandos a respeito. A questão é absoluta. Mas as duas mortes, conquanto remetam ao mesmo mal, frutificam de forma diferente.

O mal que às duas mortes tem nome: desídia, incompetência do governo federal, que, por ação e omissão, vê explodir a violência no campo. É por ação quando, sabidamente, órgãos do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (e o Incra é a prova escancarada disso) se transformam em aparelhos da militância política, renunciando àquela que é sua condição imanente — ser um corpo técnico para arbitrar as disputas segundo o bem comum — para se tornarem agência de um dos lados do conflito.

Há dias, Miguel Rossetto foi aplaudir a inauguração de uma escola superior de invasões criada pelo MST. Ali, ouviu impassível o discurso de líderes que, sem receio, advogaram a invasão também de terras produtivas. Age para estimular a violência no campo um governo que, dispondo de uma lei para coibir invasões, decide, de forma consciente e acintosa, não aplicá-la. E os demais Poderes e instâncias da República, a começar pela Justiça e pelo Ministério Público, se calam. Age para estimular a violência no campo um governo que, pela boca de seu ministro da Justiça, prega a acomodação tática da Constituição diante dos abusos óbvios do MST.

Omite-se o governo — e, portanto, estimula a violência no campo — quando permite que, ao arrepio de qualquer controle ou acompanhamento responsável, a questão fundiária se transforme em objeto de disputas de organizações não-governamentais e grupos de pressão que põem seus preconceitos e idiossincrasias acima das necessidades econômicas das comunidades nas quais atuam, elegendo, por critérios que lhes são próprios e alheios a qualquer estratégia pública, os perdedores e os vencedores, satanizando uns, incensando outros, fazendo de uns as bestas do apocalipse e, de outros, os anjos da redenção. Ademais, que se observe: outro cadáver se conta em Anapu: trata-se de Adalberto Xavier Leal, funcionário de um suspeito de ser o mandante da morte da religiosa.

O campo voltou a ser palco de ajuste de contas que estão sendo feitos ao arrepio da polícia e dos poderes constituídos da República. À medida que o Estado brasileiro permite que uma força criminosa promova a indústria de invasões, arma, evidentemente, a mão dos que decidem resistir, que se torna, obviamente, não menos criminosa. A diferença importante é que os mortos de um dos lados desaparecem na poeira do tempo, o que vai acontecer com Leal; os do outro viram mártires. E, nesse caso, é impossível deixar de reconhecer: os mortos tornam-se combustível da causa, fertilizam a terra sangrenta regada com a água benta de alguns bispos e o delírio maoísta de alguns santos do pau oco.

As duas mortes, sem dúvida, envergonham as instituições brasileiras, mas há diferenças, volto ao ponto, que expõem aspectos distintos do mesmo mal. Os assassinos de Dorothy Stang são, sob qualquer ponto de vista, marginais; os assassinos do policial Silva têm o desplante de se dizerem vítimas; os assassinos de Dorothy Stang matam e fogem para o mato, e a polícia terá de caçá-los; os assassinos de Silva, na prática, justificam o seu ato e ainda penduram a conta de sua violência nas costas da sociedade brasileira; os assassinos de Dorothy Stang, com razão, tornam-se párias sociais; os de Silva reivindicam a santidade e o direito à justiça com as próprias mãos como se autodefesa fosse; os assassinos de Dorothy Stang praticam o ato nefando correndo, vá lá, os riscos e por empreitada privada; os assassinos de Silva, na prática, são financiados pelo poder público e sabem que não correm nenhum risco ou perigo; os assassinos de Dorothy Stang não merecem nenhuma consideração ou não têm nenhuma circunstância que atenue o horror praticado — e isso está certo; os assassinos de Silva reivindicam uma inocência inata que explica qualquer horror — e isso está errado.

E há mais: Dorothy Stang, é preciso reconhecer, estava numa luta cujos riscos não ignorava. Movia-se naquele espaço da militância que, sabemos todos, é obrigada a flertar com as franjas da ilegalidade, aonde o Estado ou ainda não chegou ou, como é o caso, por incompetência e decisão do governo, jamais chegará. Sua morte agride qualquer princípio da civilidade e da necessária tolerância, jamais se duvide. Mas, entendo, rebaixa menos a República do que o assassinato daquele policial. Enquanto os Silva, já sabidamente policiais, estavam sendo submetidos à tortura, era o Estado brasileiro que se fazia refém de um grupo que aplica suas próprias leis e tem sua própria compreensão do que seja a justiça.

A morte de Dorothy Stang é a prova de um Estado inepto, ausente e incapaz. A morte de Silva é a prova de um Estado contaminado, conspurcado, seqüestrado, feito ele também refém de alguns grupos de pressão. Quando o corpo de Dorothy Stang tombou, levantava-se justamente a indignação nacional. Quando o corpo de Silva tombou, armou-se apenas o silêncio pusilânime do governo, da mídia e das ONGs.

Tanto o silêncio, num caso, como o alarde, no outro, são sintomas evidentes de que, a essas mortes, outras se seguirão. Um dos corpos, o de Silva, já foi esquecido. O outro, o de Dorothy, é um cadáver que procria, é um cadáver que alimenta a causa, é um cadáver, no fim das contas, útil, é um cadáver cujo sentido é gerar outros cadáveres para que, do acúmulo de mortes e mártires, brote a pátria dos sonhos, que é puro horror, de certos grupos que hoje encabrestam a República.

Não pensem que, à feição do governo, também eu lamente mais uma morte do que outra. Não! Tenho a ambição de ter vergonha na cara. Considero indecente, essencialmente imoral, estabelecer o preço político de uma vida, seja para endeusar os mortos, seja para ignorá-los, justificando, tanto em um caso como no outro, a violência dos vivos.

Publicado por Primera Leitura. Disponível em http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=3338

Agora, uma perguntinha que não quer calar: se a Globo é mesmo a ignominiosa encarnação da direita (???) tupiniquim, por que diabos ela foi a principal arquiteta do endeusamento da morte da freira e do esquecimento da morte do policial? Perguntas que os conspiracionistas da esquerda nunca conseguiram me responder...

sábado, dezembro 02, 2006

A diferença fundamental

Andei ausente da net por conta de compromissos na universidade, e só agora estou tomando par da polêmica gerada em torno de um blockbuster americano que narra o seqüestro de um grupo de turistas no Brasil. Vozes iradas têm se levantado contra a veiculação do filme no Brasil e criticam a "arrogância" dos americanos, acusando-os ainda de fazer propaganda negativa do país.

Não assisti ao filme e provavelmente não assistirei. O que me interessa mesmo é a oportunidade de se estudar as diferenças culturais. Já repararam que as pessoas com baixa auto-estima, fracassadas e sem atrativos são as que mais se importam com o que os outros pensam acerca delas? Pois com os povos se dá a mesma coisa. Pergunte aos americanos se eles se importam em ser tachados de arrogantes mundo afora. Ou se os ingleses se preocupam em ser considerados ridiculamente formalistas. Ou se os suecos perdem um minuto de sono porque são tidos como depravados. Ou se os alemães se incomodam com o fato de serem considerados nazistas?

Mas nós aqui do terceiro mundo ficamos cheios de pruridos quando somos retratados de forma desfavorável nas nações ricas. Somos como aqueles adolescentes sem brilho que imploram um minuto que seja da atenção das mais "populares", e se preocupam diuturnamente com o que eles pensam a respeito de si, enquanto os lá do topo mal lembram que eles existem.

A diferença é que os top conseguem glamourizar até seus defeitos e infortúnios. O caso americano é clássico: se formos reunir todos os filmes de Hollywood que mostram gangues, máfias, corrupção, preconceito e intolerância ambientados nos Estados Unidos, formaremos uma filmografia impossível de ser vista no espaço de tempo de uma vida humana. Só os filmes do Martin Scorsese que abordam tais temas já dariam alguns dias de projeção contínua. Isso levando em conta só os filmes e cineastas bons! Imaginem só a imagem que alguém terá dos EUA se levar em conta um filme como Taxi Driver...

Enfim, deixem os patrioteiros espernear à vontade. Só conseguem fazer a situação ficar ainda mais ridícula do que já é.


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